Com a proliferação dos bons exemplos, daqui para frente, ficará cada vez mais clara a separação do joio do trigo, os que envergonham suas instituições e os que colocam a dignidade institucional acima do medo ou dos interesses menores.
Lembro-me de uma velha coleção da minha infância, o Tesouro da Juventude. Aprendi a ler em uma edição de 1925, coordenada por Clóvis Bevilacqua, que havia na casa de meu avô. Como era de ortografia antiga, meus pais me deram uma versão de 1957, que não tinha a mesma graça, nem os mesmos bicos de pena.
Uma das seções mais instrutivas era o Livro das Belas Ações, que visava educar as crianças pelos bons exemplos. Através das histórias, as crianças eram educadas para os bons sentimentos, os atos de coragem em defesa do certo. Aprendíamos a diferenciar o certo do errado, o corajoso do pusilânime e a sentir orgulho dos pequenos gestos de desprendimento, de defesa dos mais fracos, de reação contra injustiças Os bons exemplos são um valor imemorial das civilizações, que valem mais do que normas escritas.
O que a procuradora regional da República Eugênia Gonzaga, o cientista Ricardo Galvão e o delegado da Polícia Federal Luiz Flávio Zampronha têm em comum foram suas belas ações.
Eugênia confrontou o presidente da República por seus absurdos sobre a morte de Fernando Santa Cruz. Galvão disse que poderia ser demitido, mas que não aceitaria que Bolsonaro falasse mal do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), dirigido por ele. Zampronha reagiu de bate-pronto quando o Ministro Sergio Moro afirmou que os arquivos dos hackers de Araraquara seriam destruídos. Rebateu com uma nota dizendo que a decisão caberia ao juiz do processo.
Nos três casos, são servidores públicos exemplares que saíram em defesa da institucionalidade, da dignidade de suas instituições.
O mesmo se pode esperar da corregedoria da Polícia Militar de São Paulo, na apuração do episódio dos PMs que invadiram a reunião do PSOL.
Esses exemplos não são isolados. Há dignidade nas corporações, dos procuradores, dos cientistas, dos delegados da PF e nas PMs, que foi sufocada, nos últimos tempos, pelo clima de ódio alimentado diuturnamente pela imprensa.
Daqui para frente a defesa da institucionalidade começará a se multiplicar e será a âncora a impedir que Bolsonaro jogue o navio da democracia em águas encapeladas.
Exemplos frutificam, geram novos exemplos e expõem de maneira crua a pusilanimidade dos que se rendem. Como ficará a Procuradoria da República lisonjeando Bolsonaro e sendo apoiada por Luiz Fux? E os Conselhos do Ministério Público, da Justiça, se se curvarem aos impulsos dos Bolsonaro? Como ficará o Supremo, à luz de todos os abusos de Bolsonaro, se não seguir o exemplo de Celso de Mello?
Foi a falta de coluna vertebral dos poderes públicos que permitiu a disseminação do blefe dos militares revoltados. A falta de informações mais apuradas sobre o estamento militar permitiu ao general Villas Boas o blefe do ano, intimidando o Supremo Tribunal Federal com a falsa informação de que a libertação de Lula poderia colocar 300 mil soldados rebeldes nas ruas. Na famosa reunião com Bolsonaro, depois de sua vitória, Villas Boas celebrou o blefe aplicado ao país. Desde então, o blefe tem sido utilizado de forma continuada pelos Bolsonaro.
No entanto, informações objetivas dão conta de um Alto Comando profissional, respeitador da instituição Forças Armadas, e não disposto a envolvê-las em aventuras golpistas.
Com a proliferação dos bons exemplos, daqui para frente, ficará cada vez mais clara a separação do joio do trigo, os que envergonham suas instituições e os que colocam a dignidade institucional acima do medo ou dos interesses menores.
Com as redes sociais, o tempo político tornou-se muito rápido. As cortinas do palco estão se abrindo rapidamente, flagrando autoridades com calças na mão.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)