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Hoje em dia, não ter que se explicar aos desenvolvimentistas é a estratégia do menor esforço. Mais à frente, cobrará seu preço
É batata, especialmente em temas econômicos! E acompanho e participo desse jogo desde o Plano Cruzado.
Há uma primeira etapa, em que o grupo minoritário depende de meia dúzia de escoteiros defendendo suas posições e a cobertura hegemônica ignorando. Nesse período, são disponíveis, atenciosos.
A segunda etapa é da tomada de poder. Aí, o objetivo maior passa a ser o de conseguir a adesão da grande mídia – por tal, entenda-se, as Organizações Globo e o tal do mercado.
Há um período de lua-de-mel, no qual as novas autoridades se tornam suscetíveis à lisonja, trocando elogios por furos jornalísticos. Para reduzir a área de atritos, todo o discurso se dá em torno da temática e da metodologia de discussão do mercado, o noivo a ser conquistado.
Os defensores do primeiro momento são esquecidos – até que ocorra a nova volta do parafuso.
Em outros tempos, na mídia, havia espaço para a mediação, embora praticada por poucos jornalistas. A mediação consiste em não ver os governos como um todo, mas como várias linhas, refletindo o jogo de forças que o apoia. O papel do jornalista é se manter fiel aos seus critérios, elogiando as medidas que se enquadrem neles, criticando as que fujam dos princípios defendidos,
Antes, o fato do jornal ser o veículo hegemônico ajudava. O colunista podia criticar em um momento, elogiar em outros. Com os leitores acompanhando diariamente esse exercício, o colunista não era julgado pelo elogio feito, ou pela crítica exarada. O leitor acompanhava o todo e entendia a lógica da mediação.
Especialmente depois da entrada do PT no jogo, com a polarização política que se seguiu, e as redes sociais picotando as informações, o jogo mudou. O jornalismo passou a ser refém de duas formas de pressão igualmente deletérias. Uma, dos anunciantes; outra, do público leitor, de esquerda e direita.
Hoje em dia, as informações circulam de forma independente e são expostas à gritaria sem limites das redes sociais. Um elogio imediatamente transforma o autor em chapa-branca. Uma crítica o torna quinta coluna.
Para quem assume o poder – especialmente em temas econômicos, aqueles mais afeitos à polarização – é sopa no mel. Podem se abster de dar explicações aos veículos alinhados com as teses pré-eleição, confiando no poder de coerção da militância sobre o pensamento crítico.
A única crítica avaliada passa a ser dos aliados a serem conquistados – mercado, Globo e quetais – com seus temas recorrentes, de superávit e teto de gastos. E vai se afastando cada vez mais dos princípios originais. Mesmo medidas que procuram aplainar o mercadismo do discurso são escondidas para não se expor às críticas do mercado.
Por exemplo, o comportamento da Fazenda com o Banco Central – como se conhece agora – é suicida. Submete-se a todas as limitações para investimento, para obter uma redução irrisória da taxa Selic no prazo de dois anos. É evidente que isso não é estratégia. De onde viriam as alavancas do desenvolvimento, ainda mais para um governo com problemas políticos em todas as frentes? De um modelo de PPPs, alicerçado em sistemas garantidores de crédito? De empréstimos do Banco dos BRICS? De formas ainda desconhecidas de captação de funding para financiamento das empresas?
Há dois motivos para não exporem a estratégia, limitando-se a frases recorrentes sobre superávit fiscal. 1. Não tem estratégia alguma. 2. Tem estratégia não consolidada, daí o receio de expô-la a críticas.
Enquanto não se explicita a lógica, o que se tem são os bate-bolas vazios com a cobertura convencional, sobre se o combate às engenharias fiscais garantirão os R$ 150 bilhões ou não.
Hoje em dia, não ter que se explicar aos desenvolvimentistas é a estratégia do menor esforço. Mais à frente, cobrará seu preço, e a curto prazo, devido ao avanço do maremoto da inadimplência, que ameaça engolfar a economia.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)