SERÁ QUE O BANCO CENTRAL ESPERA UM NOVO JESUS ?

CHARGE DE JOTA CAMELO

O meu Flamengo continua sendo iludido pela diretoria com a falsa promessa da volta de Jorge Jesus. Nem Jesus Cristo seria capaz de devolver ao time mágico de 2019, que ganhou quase todos os títulos, o mesmo “elan” que entusiasmou a nação rubro-negra e até as torcidas rivais. A verdade é que, mais de quatro anos depois, o time de 2019 envelheceu.

Alguns jogadores até se aposentaram. Outros parecem aguardar a “fila” do INSS diminuir. Já deviam pendurar as chuteiras para dar lugar a sangue novo. Infelizmente, o “sangue novo”, que reanimou o time de 2022, sob a batuta de Dorival Junior, o “motorzinho” do meio de campo João Gomes, foi vendido e a reposição veio com foras-de-forma (Gerson) e pré-aposentados Vidal).

A folga de dois meses durante e após a Copa do mundo desarrumou a casa. Num mano a mano, quase todos perdem na corrida para os adversários. Gabigol parece mais interessado em ser MC que jogador. A nação padece de vexames em cima de vexames. A diretoria, sem dúvida, ficou gagá: como contratar treinador sem cláusulas de desempenho para atenuar as multas?

Usei a situação do Flamengo, resumida, para chegar à economia brasileira. A diretoria do Banco Central (que compõe o Comitê de Política Monetária) parece a do Flamengo. Não apenas por serem ambas bolsonaristas, mas por parecerem ignorar os sinais de anemia econômica e insistirem no cumprimento de metas (fixadas em 2029 e 2020), que se tornaram irreais com os impactos inflacionários da Covid na China e a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Guillen e Guardado, o novo “consenso de Washington”?

Ficou conhecido no começo deste milênio o chamado “Consenso de Washington”. Economistas ultraliberais criaram uma espécie de decálogo garantindo que reformas liberalizantes dos mercados trariam o crescimento econômico e a estabilidade da inflação. No meio do caminho teve uma pedra, a “crise financeira mundial de 2008”, que implodiu Wall Street e contaminou mercados pelo mundo afora, pelo excesso de liberalismo.

O início de 2023 emitiu novos sinais de alerta com a quebra de novos bancos nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, a crise da Americanas foi a ponta do iceberg da onda de falências e recuperações judiciais, em meio ao crescente aumento de CFPs sujos no Serasa e SPC (o programa “Desenrola” segue enrolado) e o BC, ao manter puxado o freio de mão dos juros, agrava tudo.

A queda de 3,1% no volume de serviços (o setor mais importante da economia e que puxou o crescimento em 2021 e 2022, confirma a forte desaceleração da demanda). Os sinais de forte queda dos preços agrícolas no atacado, que tendem a ser repassados para o consumidor no varejo, derrubam o dólar. Mas vejam o que disseram, em Washington, onde acompanham o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nas rodadas das discussões de primavera do Fundo Monetário Internacional os diretores Diogo Guillen e Fernanda Guardado, que adotaram tom cauteloso com inflação em apresentações paralelas promovidas por bancos e corporações brasileiras.

Desde a saída de Bruno Serra, da diretoria de Política Monetária (Dipom), o jovem diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, que ainda não completou 40 anos, acumula a Dipom, que tem responsabilidade da política monetária diárias (compra e venda de títulos públicos no “open market” pelo Demab e a gestão das reservas internacionais de mais de US$ 300 bilhões. Pois nos eventos ele repisou que não há relação mecânica entre o arcabouço fiscal ou mesmo de eventual mudança de metas de inflação com a política monetária, como já tem indicado outros membros do Comitê de Política Monetária (Copom). O diretor voltou a falar na “desancoragem” de expectativas sobre a inflação e disse que é preciso observar uma queda mais contundente dos núcleos de inflação e da inflação de serviços.

Os dados do IBGE não tinham saído. Agora já estão na mesa. Mas ele insistiu que “as expectativas desancoradas dificultam o corte de juros, para uma mesma inflação corrente”. Na mesma tecla, a diretora Fernanda Guardado (43 anos) mostrou preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação, que para ela permanecem em níveis muito altos.

Sabatina no Senado é esperança

Creio ser urgente a sabatina no Senado dos dois novos diretores indicados pelo presidente Lula e pelo ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional, Fernando Haddad (Rodolfo Fróes, para a Dipom e Rodrigo Monteiro, para a diretoria de Fiscalização e cuidar do avanço da digitalização do Sistema Financeiro Nacional), para injetar sangue novo ao Copom.

Se os dois forem aprovados, com mandato até 2026, Lula e Haddad podem indicar novo candidato para a vaga de Fernanda Guardado, cujo mandato expira em 31 de dezembro deste ano. Os mandatos de Guillen e de Renato Dias Gomes, que cuida da organização do SFN (aprovados em abril do ano passado), duram quatro anos, até abril de 2026.

Irrealismo completa aniversário

Para vocês verem que não é implicância minha, relembro as palavras de Diogo Guillen na sabatina no Senado há um ano, quando a inflação em 12 meses chegou a 12,13% (o dado só foi divulgado em maio, mas a taxa acumulada de 11,30% até março já era conhecida). Ele reconheceu que o Banco Central do Brasil “foi um dos primeiros e dos mais agressivos” a impor a elevação das taxas de juros. E disse que a medida contribuiu para que a inflação seja mantida próxima à meta de 3,5% até 2023.

— O Banco Central tem como projeção, no último relatório [Relatório Trimestral de Inflação, de março de 2022 – o de março de 2023, já feito sob sua responsabilidade, previa inflação de 0,87% em março e deu 0,71%], uma inflação próxima da meta no horizonte relevante de política monetária. E esse é o objetivo principal: o atingimento da meta no horizonte relevante — afirmou.

Mais experiente, a então senadora Kátia Abreu (PP-TO), que é fazendeira em seu estado e foi ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no governo Dilma, reforçou a crítica à política de controle inflacionário do Banco Central. Para ela, o país deveria elevar a meta de inflação para poupar os brasileiros das constantes elevações das taxas de juros.

— Ficaremos com a inflação em torno de 7%. Nossa meta é 3,5%, mas já estamos em 5%. Vamos ter a situação agravada por conta da guerra da Ucrânia, quer seja nos fertilizantes, nos combustíveis ou nos agroquímicos. Por que manter essa meta de inflação tão baixa se ela não é real? Para manter essa meta, vamos ter que tirar o sangue dos brasileiros com a subida dos juros. Isso não é desperdício? Não é um esforço desnecessário? É um custo altíssimo para quem trabalha e para quem dá emprego — afirmou.

Mais profético impossível. Paulo Guedes teve a mesma visão da senadora.

Em vez de esperar o dia de “São Nunca” para o Banco Central trazer a inflação ao centro da meta, como a eleição (já desfavorável à reeleição de Jair Bolsonaro era em outubro) tratou de cortar diretamente os impostos dos itens de maior peso na inflação (gasolina, energia elétrica residencial e comunicações) para derrubar a inflação para 5,79%. Mas, mesmo com o bilionário pacote de bondades aos eleitores garantiu a reeleição. Deu Lula.

Bradesco vê benesses da safra

Maior banco privado do agronegócio, o Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco analisou a 7ª estimativa da safra 2022-2023 divulgada ontem (5ª feira) pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento do Mapa) com “forte incremento na produção brasileira de grãos, que pode registrar novo recorde no período, atingindo 312,5 milhões de toneladas (+14,7% na comparação com a safra 2021-22).

Conclusão: “Com esse desempenho, esperamos que o setor agrícola contribua de maneira significativa para o crescimento do PIB brasileiro deste ano, em especial no 1º trimestre, com efeitos ainda sobre a desinflação de alimentos. Além disso, o setor externo também está sendo beneficiado com o aumento das exportações de grãos – começamos a ver tais efeitos nos dados preliminares da balança comercial de abril, mês de pico dos embarques de soja”.

Nosso Banco Central está precisando sair dos gabinetes e circular além dos arredores da Faria Lima. O Bradesco, por sinal, tem sede em Osasco.

GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *