Seu único pronunciamento recente foi tratar os diálogos do The Intercept como “vazamento criminoso e fofocaiada”. Compreensível. Barroso age em legítima defesa, preparando antecipadamente sua defesa prévia.
Nos últimos dias, ocorreram os seguintes fatos desmoralizantes para o país:
‘1–Demissão do presidente do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) por ter cumprido seu trabalho, de divulgar os dados sobre desmatamento na Amazônia.
2-Demissão da presidente da Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos, por estar cumprindo seu trabalho, de amparar familiares de desaparecidos.
3- Declarações de Jair Bolsonaro, conspurcando a memória de um jovem, morto aos 26 anos pela repressão, e deixando um filho de 2 anos.
4-Declarações de Bolsonaro de que faz o que faz porque ele manda, atropelando as noções fundamentais sobre democracia.
5-Revelações de que Deltan Dallagnol e membros da Lava Jato faziam palestras reservadas para o mercado, planejavam investigações contra Ministros do STF e articulavam denúncias contra o juiz do caso.
Luis Roberto Barroso, o iluminista, não se pronunciou.
Seu único pronunciamento recente foi tratar os diálogos do The Intercept como “vazamento criminoso e fofocaiada”.
Compreensível. Barroso age em legítima defesa, preparando antecipadamente sua defesa prévia.
Se as palestras de Dallagnol geraram escândalos, o que não ocorrerá quando vierem à tona as palestras de um Ministro da Suprema Corte?
O que ocorreria se, por coincidência, é claro, se descobrissem cachês milionários para palestras a grupos interessados nos desfechos políticos da Lava Jato? E se aparecessem grupos beneficiados pela decisão do implacável Barroso, de anular a Operação Castelo de Areias?
Na palestra que deu – e que mereceu ampla repercussão do Jornal Nacional – Barroso invocou as condenações à Petrobras pela justiça americana como prova de que houve corrupção. Houve sim, mas da parte da Lava Jato e do então Procurador Geral da República Rodrigo Janot, ao levar para o Departamento de Justiça elementos para transformar a Petrobras da condição de vítima na condição de ré. Essa tacada custou mais à Petrobras do que tudo o que possa ter perdido com a corrupção.
Mais ainda, instalou-se uma verdadeira indústria do compliance, com Petrobras e Eletrobras contratando escritórios de advocacia americanos por somas milionárias.
Recentemente, junto com o notável jurista Marcelo Bretas, Barroso integrou uma troupe de macaquinhos brasileiros (para utilizar uma expressão depreciativa de americanos, sempre que identificavam práticas tropicais em autoridades brasileiras) para um curso de compliance nos Estados Unidos. O curso consistia em visitas a grandes escritórios de advocacia interessados em compliance no Brasil. O que Bretas e Barroso tinham em comum, além do B no sobrenome? São figuras centrais de estímulo ao mercado de compliance, com ameaças e sanções a ameadas a empresas, cujo salvo conduto para o paraíso, obviamente, é implantar o compliance.
E se um disclosure no escritório de Barroso revelasse parcerias com escritórios de advocacia internacionais, visando o apetitoso mercado de compliance?
Cada grande tacada do governo Bolsonaro-Guedes, cada privatização suspeita, cada enquadramento de estatais nas regras de compliance têm escritórios de advocacia entre os grandes vencedores. E se o escritório de Barroso tiver sido beneficiado?
Em democracias maduras, cada juiz teria que fazer o disclosure de sua vida profissional. No mundo mágico criado por Barroso, a corrupção está nos outros.
Daí se entender perfeitamente seu comportamento.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)