RELATÓRIO TRIMESTRAL DA INFLAÇÃO: 87 PÁGINAS E NADA SOBRE O ARCABOUÇO FISCAL

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Espero que o presidente do Banco Central, Roberto Campos, corrija a indesculpável omissão do Relatório Trimestral de Inflação divulgado na manhã deste 30 de março. Campos Neto poderá se estender um pouco sobre o arcabouço fiscal, que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad explicou em coletiva. 

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), que fixa a política de juros, através da taxa Selic, mantida em 13,75% ao ano na reunião do dia 22 (e assim está desde 3 de agosto) se baliza pelas projeções do mercado e pelos indicadores da economia para definir as taxas. E a diretoria de Política Econômica do BC produz, a cada fim de trimestre o Relatório Trimestral de Inflação, com revisões do que ocorreu em relação ao RTI e projeções adiante. Ou seja, o RTI vai muito além do que dizem os comunicados e Atas do Copom.

Onde está a demanda?

Em todas as reuniões do Copom há sempre referência às incertezas fiscais, um fator importante para esfriar ou aquecer a demanda da economia. [aqui um parêntese importante, quem não assistiu ontem à noite, na Globonews, à claríssima “aula” do economista André Lara Resende sobre os equívocos para política empreendida por RCN e equipe, em entrevista à Miriam Leitão, procure no Globoplay. Vale a pena entender os equívocos do Copom em perseguir metas de inflação que ficaram inexequíveis com os desarranjos nas cadeias produtivas globais causadas pela Covid-19 e mais recentemente com as consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia]. O teto inflação de 2023 é de 4,75% e o de 2024 é de 4,50%.

Como lembrou Lara Resende, não há inflação de demanda no Brasil. Ao contrário, todos os indicadores são de forte desaceleração. O próprio RTI de março reconhece isso. É até contraditório que o RTI indique que o Copom utilize nas projeções de seus cenários “uma taxa de juros real neutra de 4,0% a.a. no horizonte considerado” (18 meses adiante). No momento, descontada a inflação de 5,60% a.a., a taxa Selic implica juro real de 7,72% (quase o dobro!). E as projeções para o IPCA de março e abril indicam um juro real acima de 9% até 3 de maio (quando haverá nova reunião do Copom).

O pior é que em suas 87 páginas, com uma coletânea de justificativas para a teimosia do Comitê de Política Monetária, o RTI sequer mencione a palavra “arcabouço fiscal”, que vem sendo falada há mais de um mês pelo ministro da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional, Fernando Haddad. Para não ser acusado de radical, de ignorar a política econômica do governo, que querer dirigir o barco da economia sem ouvir informações dos serviços de orientação, Roberto Campos Neto tem hoje a possibilidade de se redimir.

O comandante de navio que ignora as advertências tem dois destinos: naufragar junto, como Edward John Smith, do Titanic, que não percebeu o perigo dos icebergs e foi a pique, ou imitar o relapso comandante Francesco Schettino, do Costa Concórdia, que tombou na ilha de Giglio, no Mediterrâneo italiano, em 2015, provocando 32 mortes. Ele tentou fugir num bote e foi chamado à responsabilidade pelos imediatos. A Justiça italiana o condenou a 16 anos de prisão.

Os mercados reagem bem

A ideia de zerar o déficit em 2024 e o mecanismo de controle de despesa (que não pode passar de 70% da receita, foi bem recebida pelo mercado, que se animou com a possibilidade de a nova regra fiscal começar a ser analisada já na próxima semana pela Câmara.

O Ibovespa subia 1,28% por volta do meio-dia. E o dólar caía 0,22%. Só não caiu mais porque houve certa agitação com os ruídos trazidos pela volta do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil, no começo da manhã (o ex-presidente teve de sair por uma porta lateral do aeroporto de Brasília, para não tumultuar a rotina de pousos e decolagens do 2º maior aeroporto do país e acabou se encontrando com os apoiadores na sede do PL, no Lago Sul).

Mas os juros do Tesouro Direto caíram dos 12,98% de ontem para 12,79%, enquanto os atrelados à inflação subiram para 5,98%, acompanhando a nova projeção de inflação do Banco Central no RTI: 5,8%.

Quando virá a queda de juros?

A LCA Consultores acredita que “a curva de juros precifica uma probabilidade apenas residual de redução dos juros em maio e cerca de 60% de chance de um corte de 0,25 ponto porcentual da Selic em junho (o Copom se reúne dias 20 e 21).

A LCA considera que adverte que “a economia seguirá desacelerando, na esteira da diluição de estímulos pré-eleitorais, do esfriamento global e do aperto monetário. A inflação também continuará a recuar, mas de forma lenta e irregular”. Mas adverte: “Se a meta de inflação de 2024 for mantida em 3%, o BC não terá espaço para cortar a Selic antes do final do ano”.

O Itaú manteve a projeção de taxa Selic para 12,50% a.a. ao final do ano, e esperas que o 1º corte ocorra no 4º trimestre (o Copom se reúne dias 30 de outubro e 1 de novembro e dias 12 e 13 de dezembro).

O que é pior: IA ou BN?

Do modo como a burrice natural (BN) ganha corpo, sobretudo pelas deficiências na Educação no país e pela facilidade da disseminação de imbecilidades nas redes sociais, é mesmo para ficar preocupado com os riscos de avanço da Inteligência Artificial no controle mental das sociedades.

Os robôs demonstraram nas últimas eleições (nos Estados Unidos, Brasil e Israel) sua vantagem sobre os cidadãos e mentes comuns.

GIBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *