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Há todos os ingredientes para poder desenhar, agora, o Brasil das próximas décadas. Que a oportunidade não seja desperdiçada.
A visita de Lula à China poderia ser o início de um projeto que nunca frequentou as plataformas de governos petistas: o de desenvolvimento. O partido trouxe para o poder, com Lula, o mais bem-sucedido projeto de política social da história, reconhecido internacionalmente. Mas apenas dois projetos consistentes de desenvolvimento.
O primeiro foi a Petrobrás com o pré-sal. Durante um bom momento, a empresa garantiu o fortalecimento da indústria de base, dos centros de pesquisa, ajudou a criar estaleiros. Foram adotadas políticas desenvolvimentistas típicas, como o conteúdo nacional e políticas de estímulo a pequenas empresas e a empresas inovadoras.
O segundo foi o Programa de Desenvolvimento Produtivo (PDP), uma criação muito mais da Fiocruz que do governo. Nela, utilizou-se o poder de compra do SUS para negociar a transferência de tecnologia de multinacionais para laboratórios oficiais que, depois, licenciava para laboratórios privados.
E foi só.
Foram criadas políticas de incentivo às montadoras, sem nenhuma contrapartida, sequer a de metas de exportação ou manutenção de empregos. A não ser com a PDP, jamais negociou-se o acesso ao mercado interno brasileiro – um ativo de qualquer país ciente de seus interesses.
Agora, tem-se a China tratando o Brasil como foco preferencial de seus investimentos. A partir daí, será possível negociar um conjunto de contrapartidas. E, de posse delas, buscar o mesmo tratamento dos Estados Unidos e da União Europeia.
Há dois bons exemplos históricos nos quais se mirar.
Um deles, Getúlio Vargas explorando as disputas na Segunda Guerra Mundial. Outra, JK, montando o modelo de atração da indústria automobilística. As pré-condições eram, primeiro, ter um sócio brasileiro. Com isso, cooptou os grandes financistas da época, como os Monteiro Aranha. O segundo, a criação de um parque de fornecedores nacionais, oferecendo muito mais emprego e resultados do que a montadora em si.
Agora, se está à beira de uma nova revolução industrial, da indústria verde aos microchips. Com a nova guerra fria e os resquícios do Covid, há um redesenho da cadeia global de fornecedores.
É hora de Lula aproveitar a experiência do BNDES e começar a desenhar as contrapartidas fundamentais para um novo ciclo de desenvolvimento. O país tem muito a oferecer: o mercado interno, o biossistema da Amazônia e do Cerrado, metais fundamentais, como o lítio. Tem, também, uma enorme acumulação de capital financeiro, após os anos de esbórnia patrocinados pelo Banco Central. Ou seja, tem o pincel e as tintas. E conta com o prestígio internacional de Lula.
Há todos os ingredientes para poder desenhar, agora, o Brasil das próximas décadas. Que a oportunidade não seja desperdiçada.