A MORTE DE MARA KOTSCHO, PRECURSORA DA DATAFOLHA

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O jornal, com sua mania de apagar minha biografia de sua história, coloca como data inicial do Datafolha a direção de Antonio Manuel

Quando cheguei na Folha, em 1983, Mara Kotscho já fazia um trabalho extraordinário de pesquisa de opinião, contando com ótima metodologia e escassos recursos. As pesquisas abordavam temas de interesse geral e estavam restritas à cidade de São Paulo. Lembro-me bem de uma pesquisa que levantava o grau de conhecimento da população sobre a Assembleia Nacional Constituinte.

Depois de um período na Folha, consolidei a coluna Dinheiro Vivo, fui convidado – a contragosto – para me tornar Secretário de Redação, cargo que ocupei por 3 meses, por me colocar contra o passaralho que varreu a redação.

Voltei para a coluna Dinheiro Vivo, recebi o convite para ser o primeiro ombudsman, que recusei. Até que Otávio Frias me chamou e me encomendou um projeto para o instituto de pesquisas que pretendia criar, a partir das sementes plantadas por Mara. Ficaria subordinado ao diretor da Folha, Pedro Pincirolli.

Assim, foi fundado o DataFolha. O jornal, com sua mania de apagar minha biografia de sua história, coloca como data inicial do Datafolha a direção de Antonio Manuel – que foi um belo dirigente, sem dúvida.

Mas o instituto começou antes. Preparei um trabalho detalhado, propondo uma ampliação do escopo do futuro Datafolha, desde levantamento de preços de produtos de informática, até estatísticas sobre campeonatos de futebol e sobre cada jogo em si. Enfim, o que se convencionou chamar, posteriormente, de jornalismo de dados.

Junto com o projeto, propunha à Folha fazer uma permuta para que o novo instituto tivesse um microcomputador – fundamental para as novas tarefas.

Indisciplinado como sempre fui, encaminhei o relatório para Pedro e para Frias. Pedro me ligou preocupado. Frias tinha lhe telefonado para tomar cuidado se não íamos gastar muito com o Datafolha. Aconselhou-me a encaminhar os relatórios, primeiro para ele. Depois de analisar as suscetibilidades da empresa, encaminharia para Frias.

Pediu-me, também, que indicasse um diretor administrativo para o instituto. Na época, a Folha estava se abrindo para o mercado em geral, mas carecia de indicações de pessoas.

Indiquei Luiz Fernando Barbosa, professor de Economia, que tinha montado uma escola em Piracicaba. Avisei que era casado com uma prima minha. 

O convite foi aceito. Portanto, o primeiro diretor executivo do Datafolha foi Luiz Fernando. Anos depois, sua filha Ligia Mesquita foi trabalhar como repórter da Mônica Bérgamo e foi autora de um furo memorável – a confissão de Mônica Serra de que havia feito um aborto, na mesma época em que José Serra, candidato à presidência, acusava Dilma de “asssassinar crianças”, por defender a descriminalização do abordo. Outra filha, a Suzana, tornou-se professora de direito dedicada. Do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, ouvi que ela foi fundamental para sua formação.

Depois da digressão, voltemos ao Datafolha. Luiz Fernando ficou algum tempo, eu saí depois de conflitos com o governo Sarney, e Antônio Manuel assumiu, consolidando o Datafolha como um dos principais institutos de pesquisa eleitoral.

A grande falha do Instituto foi nas eleições de 2010, quando o então diretor do Datafolha, Mauro Paulino, denunciou à Polícia Federal um instituto de pesquisa sério de Minas Gerais, que se preparava para soltar uma pesquisa eleitoral para uma das confederações empresariais.

A polícia invadiu o instituto, confiscou papéis da pesquisa no período que já se configurava como o início dos abusos contra a democracia que, mais tarde, resultaria no bolsonarismo.

De qualquer modo, o papel inicial e pioneiro de Mara foi essencial para consolidar o DataFolha e torná-lo um sopro de racionalidade contra manipulação das eleições . Com a exceção lamentável da campanha de Serra.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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