Já não bastava a guerra aberta com o vice, general Mourão, e a disputa sem fim entre militares de pijama e olavetes assanhadas para ver quem manda no governo.
A semana mal começou, e começou mal: nesta manhã, Bolsonaro bateu de frente com o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, que anunciara, em entrevista à Folha, um novo imposto, sem combinar com o presidente.
O presidente não pensou duas vezes: correu para o Twitter e desmentiu na mão grande o secretário, que teve a ousadia de taxar até o dízimo das igrejas.
“Quero me dirigir a todos vocês, dizendo que essa declaração não procede. Quero dizer que em nosso governo nenhum novo imposto será criado, em especial contra as igrejas’, proclamou o capitão, em mensagem de 41 segundos.
Como assim, “em especial contra as igrejas”? Desde quando imposto é contra alguém e, por qual razão, as igrejas devem ficar isentas de pagar imposto de renda como todo mundo? É um direito divino por acaso?
O mais grave nesta história é a completa desarticulação do governo, não só na relação com o Congresso, mas também na área econômica.
Marcos Cintra é um dos homens de ouro do superministro Paulo Guedes, o czar de economia, e certamente deve ter conversado com ele sobre o novo imposto para substituir a contribuição previdenciária que incide sobre a folha de pagamentos.
Guedes já foi confrontado e desmentido outras vezes pelo presidente, que quer mandar em tudo, sem entender de absolutamente nada.
Até quando Guedes vai aguentar o tranco dos chiliques do capitão?
Na semana passada, Bolsonaro já havia entrado em choque também com o general Santos Cruz, secretário geral do governo, por conta de um anúncio do Banco do Brasil que irritou o presidente.
Sem consultar ninguém, o capitão mandou o presidente do banco tirar o anúncio do ar e demitir o diretor de marketing, e avisou que daqui para a frente iria censurar previamente todos os anúncios de estatais.
Santos Cruz revogou a decisão da censura prévia, ao lembrar que a lei das estatais não permite a intervenção presidencial no conteúdo das campanhas publicitárias.
Agora, a chamada “ala ideológica” do governo, liderada pelo filho Carlucho 02, resolveu abrir fogo contra o general, como já estava fazendo com o vice Mourão.
Por medo de Bolsonaro, duas instituições públicas do Rio, o INCA (Instituto Nacional do Câncer) e a Fiocruz, simplesmente proibiram palestras de frei Leonardo Boff, sem citar lei nenhuma.
Por cumprir a lei, o general Santos Cruz sofre agora pressão dos bolsonaristas de raiz em sua cruzada de confrontação permanente.
Como é que um país pode ser governado desse jeito, de crise em crise, provocada pelos próprios membros do governo?
Enquanto isso, a economia está devagar quase parando e a reforma da Previdência tão esperada continua em banho maria, à espera das “negociações com os parlamentares”, aos quais já foi oferecido um bônus de R$ 40 milhões por cabeça para quem votar a favor.
Com a população e a oposição só assistindo a tudo bestificados, os bolsonaros, seus generais, superministros e olavetes estão em processo de autocombustão.
E faltam ainda três dias para a nova ordem bolsonariana completar os primeiros quatro meses de governo.
Quem ainda aguenta tantos desmandos e ameaças à democracia? Quando teremos um plano de governo?
Vida que segue.
RICARDO KOTSCHO ” BALAIO DE KOTSCHO” ( BRASIL)