Schön elogia e entrevista de Arbix à TV GGN, mas tem algumas observações sobre o tema CEITEC
Primeira fábrica de semicondutores do país, a CEITEC sempre foi motivo de grandes polêmicas. Serviram para utilização em bois, para mapeamento georreferenciado. Foram boicotadas na utilização em passaportes.
Recentemente, foi alvo de críticas acerbas de dois grandes especialistas em inovação, João Furtado e Glauco Arbix, devido a uma gestão não voltada para o mercado, e à falta de avanços tecnológicos nos seus produtos.
Mas há outros aspectos a serem considerados, como alerta Cláudio Schön, do Departamento de Metalurgia e Engenharia de Materiais da Escola Politécnica de São Paulo.
Schön elogia e entrevista de Arbix à TV GGN, mas tem algumas observações sobre o tema CEITEC:
1) quando se falava da CEITEC: no começo da pandemia, primeiro semestre de 2020, estávamos na perspectiva de ter falta de respiradores nos hospitais brasileiros. Meu colega, o Prof. Raul Gonzalez Lima e uma grande equipe de colaboradores desenvolveram o projeto INSPIRE pensando em torná-lo completamente independente de importação, pois já havia a perspectiva de que as rotas de comércio iriam entrar em colapso. Infelizmente isso não foi totalmente possível justamente porque ninguém fabricava um chip bem simples (e me recordo bem, um processador bem convencional). O gargalo do projeto foi justamente a importação deste chip. Isso mostra que o problema no Brasil não é necessariamente do chips de alto desempenho, mas sim da manutenção de uma infraestrutura básica de fornecimento capaz de atender às nossas necessidades.
2) Não se fica nisso. Um dos grandes sucessos do nosso programa nuclear foi certamente o domínio do ciclo do combustível nuclear, que potencialmente tornaria o Brasil autossuficiente na tecnologia. O que pouca gente sabe é que hoje em dia não produzimos o combustível exclusivamente em território brasileiro. Nós produzimos o concentrado de Urânio a partir do minério de Caetité, exportamos para o Canadá e compramos de volta como hexafluoreto de urânio, que depois enriquecemos. A razão prosaica é que deixaram fechar a fábrica de ácido fluorídrico que existia aqui (se nao me engano era da União Química), não podemos importar o ácido fluorídrico da África do Sul e a venda é fortemente boicotada, pois parte do nosso programa nuclear é militar. Estamos falando de deixar de produzir algo que custa centenas de milhares de dólares o quilo, porque não conseguimos produzir um insumo que custa menos de um dólar por litro.
3) Um contra exemplo, não sei se vocês sabem, mas foi uma sonda indiana que atestou a presença de água (gelo) na Lua pela primeira vez, enquanto isso nosso programa espacial fica feliz em colocar satélite na órbita baixa. Muito se fala da criatividade do brasileiro, mas me parece que às vezes falta ousadia.
Tem outras coisas a discutir, por exemplo, nossa grade energética é uma das mais limpas do planeta e temos uma boa situação do ponto de vista ambiental, principalmente por causa do uso de etanol obtido de cana-de-açúcar como combustível. Isso mostra que não é só problema que tem aqui.
Também, aqui eu trabalho com isso, há um potencial grande de que um reator de fusão venha a ser produzido no futuro próximo, mas há um problema de material associado ao dano de irradiação dos componentes do reator, porque o plasma de fusão é muito agressivo. Temos infraestrutura para pesquisar isso aqui, mas falta investimento, mais pela carência de recursos que má vontade.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)