“Eles promovem terrorismo e, ao mesmo tempo, se apresentam como solução via GLO. Dessa maneira, mantêm a tutela da democracia”, afirma Jeferson Miola
Reportagem da Folha [10/1] relata que o ministro da Defesa José Múcio Monteiro propôs “o Exército atuar na contenção dos golpistas por meio de uma GLO [Garantia da Lei e da Ordem]”. O presidente Lula teria respondido “rispidamente” à proposta, segundo a matéria.
É bastante provável que o ministro José Múcio apenas tenha repetido ao presidente da República a proposta [indecente] que o Alto Comando do Exército interessadamente teria sugerido a ele.
Não por coincidência, no final da tarde de 8/1, ainda antes do presidente da República decretar intervenção federal na segurança pública do DF, a imprensa noticiou que “o Exército colocou tropas em prontidão em Brasília para um possível decreto de GLO”.
O Exército informou que “2.500 militares estão aquartelados em Brasília” aguardando a “sinalização do governo federal para um possível acionamento dos militares”.
José Múcio atua como uma espécie de porta voz dos militares, como ficou claro na sua indicação para o cargo e no critério que ele adotou para a escolha dos comandantes das três Forças.
O historiador e professor Chico Teixeira/UFRRJ sustenta que “Múcio não é o ministro da Defesa do governo Lula, mas é um embaixador dos militares junto ao Governo”. A opinião do ministro Múcio sobre o acampamento terrorista no QG do Exército em Brasília, considerado por ele uma “manifestação da democracia”, corrobora a opinião do professor Chico Teixeira.
Múcio até tinha “parentes lá”, assim como generais e oficiais das Forças Armadas também tinham os seus familiares amotinados no QG do Exército preparando atentados à democracia.
Talvez por isso o ministro afiançou que nenhum terrorista seria “retirado na marra” – realidade que, segundo noticiado, obrigou que na madrugada de 9/1 o governo tivesse de negociar com os comandos militares as condições de execução da ordem judicial do STF. Teria sido para safar da prisão militares e integrantes da família militar ali amotinados?
A comoção das instituições e da sociedade civil com os acontecimentos de 8 de janeiro produziu um clima inédito de coesão e solidariedade em defesa da democracia no país. E produziu, também, um consenso democrático amplo a respeito da necessidade de se punir com rigor e exemplaridade os perpetradores da violência fascista e dos ataques terroristas à democracia.
Este esforço de investigação e responsabilização dos criminosos não pode, no entanto, se restringir ao universo de agentes civis – públicos ou privados –, como o governador, o ex-secretário de segurança e os comandantes das forças policiais do DF; o omisso PGR; os empresários financiadores, os estimuladores e apoiadores dos atentados e, também, os ativistas e políticos da extrema-direita fascista.
Na investigação da cadeia de responsabilidades pelos acontecimentos de 8 de janeiro é essencial, ainda, se investigar o papel central das cúpulas das Forças Armadas, sobretudo do Exército brasileiro, nos atos terroristas – no planejamento, na omissão [como do Comando Militar do Planalto], ou na ação direta em campo com militantes ou infiltrados.
É inegável o papel do Bolsonaro em todo o processo de caos e terror. Acontece, porém, que Bolsonaro não é o cérebro; ele não é a inteligência estratégica do processo de hibridização da realidade e de produção de caos na sociedade brasileira.
Bolsonaro é um instrumento; os militares é que estão no comando real. Bolsonaro é uma peça central na engrenagem e na estratégia de guerra fascista dos militares contra a democracia, mas é o partido dos generais que comanda.
Os militares geram caos, tumulto e desordem para se apresentarem como força da paz e da ordem. Eles promovem terrorismo e, ao mesmo tempo, se apresentam como solução via GLO. Dessa maneira, exercem sempre o poder e mantêm a tutela da democracia.
JEFERSON MIOLA ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)