O QUE SE DISCUTE NO GRUPO DE ECONOMIA DA TRANSIÇÃO

Uma das ideias em jogo é a de criar taxas subsidiadas, mas para setores considerados estratégicos – a exemplo do que é feito na China.

O grupo de transição de Economia começa a amadurecer alguns consensos para serem apresentados ao futuro presidente Lula.

Uma delas – envolvendo o Banco Central – é abrir a possibilidade do BC passar a operar nos mercados de taxas de juros longas.

Todos os grandes BCs do mundo atuam nesse mercado, por suas implicações macroeconômicas. Ele é fundamental não apenas para a colocação de títulos de dívida de prazo mais longo, mas por seus efeitos na formação de taxa de juros de longo prazo.

No Brasil, esse mercado sempre esteve à mercê dos jogos especulativos.

A proposta recebeu aceitação geral, inclusive de Pérsio Arida, o mais ortodoxo dos economistas do grupo.

Outro ponto relevante é que políticas de desenvolvimento exigem uma ampla concatenação entre diversos órgãos públicos. André Lara Rezende defende a flexibilização monetária. Mas, para ser eficiente, tem que haver alocação correta dos recursos, caso contrário haveria empoçamento nos bancos e criação de bolhas especulativas – como ocorreu nos Estados Unidos.

Ponto central dessa política é concentrar esforços nas pequenas e médias empresas e em startups. Para tanto, haverá a necessidade de uma soma de esforços do Ministério da Fazenda, Planejamento e grandes bancos públicos – o BNDES como o grande provedor de crédito de longo prazo, e Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, por sua capilaridade.

Daí a grande necessidade de se montar uma equipe afinada em torno dos mesmos objetivos.

Essas preocupações foram externadas em algumas discussões, chegaram a ser apresentadas a Lula, mas não há definição maior sobre o que decidirá.

Recentemente, economistas ortodoxos insistiram na descapitalização do BNDES, obrigando-o a ressarcir o Tesouro por aportes passados. O que está por trás disso é que, pelos indicadores da Basiléia – que definem os limites de crédito de um banco -, o BNDES tem amplo espaço para injetar crédito e investimento na economia. Pagando o Tesouro, seu capital diminuiria e, consequentemente, diminuiria seu poder de oferta de crédito

Um ponto de consenso é o fim da aposta nos “campeões nacionais”. A experiência mostrou uma série de externalidades negativas óbvias, mas que não foram consideradas no período.

Uma delas foi o desequilíbrio entre as “campeãs nacionais” e sua rede de fornecedores. O caso típico foram os frigoríficos, que se transformaram em empresas multinacionais, desarrumando toda a cadeia de fornecedores e o mercado de couro.

A segunda contraindicação é que, com o tempo, os “campeões nacionais” tendem a se transformar em empresas internacionais, como foi o caso da Ambev e da JBS.

Não há consenso ainda sobre as taxas de juros do BNDES. Historicamente ele trabalhava com taxas similares às internacionais, visando dar condições de competitividade às empresas nacionais. Coube a Pérsio Arida criar uma nova moeda do BNDES encarecendo os financiamentos afim de abrir espaço para negócios do mercado.

Agora, uma das ideias em jogo é a de criar taxas subsidiadas, mas para setores considerados estratégicos – a exemplo do que é feito na China. Por exemplo, empresas de saneamento, empresas envolvidas com as mudanças ambientais etc.

Nos próximos dias, o relatório deverá sintetizar os consensos e ideias mais maduras.

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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