O OLIMPO FINANCEIRO QUER UM ” MINISTRO GANIMEDES”

A tal “insatisfação do mercado” com a fala de Fernando Haddad no almoço promovido na Federação do Bancos é só mais um episódio do que já está ficando enfadonho: a “queda de braço” do da turma do dinheiro para que Lula decida por nomear uma equipe econômica que seja considerada “dócil” à especulação financeira.

É a versão “Faria Lima” dos bloqueadores de estradas, muito mais sofisticada mas, a esta altura, tão destinada ao fracasso no curto prazo quanto as patéticas reuniões de inconformados com o resultado das eleições.

Porque a economia brasileira não tem sua vitalidade, por mais que a imprensa nos induza a entendermos assim, determinada pelo “mercado”, mas por fatores que passam muito longe dali, daquele Olimpo onde o néctar e a ambrósia alimentam os deuses sempre com fartura.

É, portanto, compreensível que, quando se trata de escolher quem conduzirá a área econômica, pensem num Ganimedes, o mítico copeiro dos deuses, que a eles servia os pratos e copos e só depois derramava à terra dos homens o que restava do néctar.

Não conseguem perceber que não o terão, mas perdem tempo e oportunidade de se prepararem e dirigirem seus negócios em direção que se adeque a uma gestão econômica que já tem, seja ou não Fernando Haddad o ministro da Fazenda, diretrizes traçadas.

E estas são evidentes.

A primeira delas é destravar o consumo, paradoxalmente considerado a “besta-fera” da inflação. Neste caso, abandonar a ideia de que é retirando dinheiro de circulação se torna saudável uma economia. Ao contrário, com política fiscal, de renda e oferta de crédito é que se põe a roda econômica a girar.

Com ou sem cooperação do sistema financeiro, o governo dispõe, com os bancos públicos, de ferramentas para fazê-lo e o fará, porque nenhuma economia pode conviver com as restrições que lhe impõe ter uma inadimplência tão estratosférica quanto as taxas de juros.

Logo a seguir, vem a tomada de decisões que aproveite, no investimento público, o que está a exigir baixo volume de inversão e rapidez nos resultados: a reativação de obras e programas interrompidos e isso não falta em um país com quase 15 mil obras paralisadas nos últimos seis ou sete anos.

Ao mesmo tempo – e a própria fala de Haddad, ontem, deixou isso claro – haverá um enorme esforço para dar eficiência ao gasto público, não para cortá-lo, mas para realocá-lo na imensa carência de recursos na infinidade de áreas deixadas à míngua de recursos no governo Bolsonaro.

Reduzir, pura e simplesmente, gasto público nunca foi sinônimo de produzir saúde fiscal e, para quem quiser fazer prova disso, recomendo a leitura dos números do estudo feito pelo economista Carlos Pinkusfeld Bastos, da UFRJ, destacado pelo jornalista José Paulo Kupfer, no UOLNele, se demonstra que não há nenhuma relação mecânica entre a obtenção de superávit primário e de redução das despesas públicas, o grande fetiche do “mercado”.

No segundo mandato de FHC, o governo apresentou um superávit primário médio de 2,1% do PIB e um crescimento real médio do gasto de 4,1%. Logo, pelo critério do gasto, para defensores do teto de gasto estabelecido no governo Temer, FHC foi bastante irresponsável. Mas, por outro lado, manteve um superávit primário em todo período, o que pode ser interpretado como um “atestado de responsabilidade”.
O atestado de responsabilidade de Lula é ainda mais forte se pensarmos em termos de resultado primário. A média do superávit primário no seu primeiro mandato, 2,43%, foi superior a alcançada pelo segundo governo FHC. Mesmo em seu segundo mandato, quando enfrentou a grave crise internacional das subprimede 2008, o Governo Lula conseguiu produzir um superávit primário levemente superior, 1,95% em média. Já em termos de gasto foi menos “responsável”, porque o gasto cresceu nos dois mandatos a taxas de respectivamente 4,9 e 5,6%, ambas superiores à do governo FHC 2.

Temos, sobretudo, um novo horizonte de metas econômicas diferente do “corta, corta, corta” e ainda pela simples geração de caixa pelo desmonte do Estado, resumido naquela ridícula previsão de Paulo Guedes, de que as privatizações iriam render mais de R$ 1 trilhão.

Como o néctar de Ganimedes, não faltou ao Olimpo mas, para os homens da terra veio em forma de carcaça de frango e um atraso para uma economia que está, hoje, menor que estava há oito anos no “mercado” onde eles consomem: o supermercado.

FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *