“Os brasileiros lutaram contra contra o neoliberalismo e contra o neofascismo. Fomos vitoriosos, mas não podemos descansar sobre os louros”, indica
Estou feliz com a eleição de Lula. Terminou o período mais sombrio da história da democracia no Brasil. Estou feliz também porque minha previsão que a democracia aqui está consolidada e, portanto, sobreviveria a todas as tentativas de golpe do sr. Bolsonaro também foi confirmada.
Ainda há quem continue a falar em ameaça de golpe, não obstante ele tenha ordenado a seus subordinados o início da transição para o novo governo.
A jornalista Malu Gaspar, do Globo, por exemplo, insiste que Bolsonaro não reconheceu explicitamente a vitória de Lula e que estimula seus seguidores a questionar o resultado das urnas.
Uma democracia está consolidada porque sobrevive aos ataques que sofre. Mas isto só é possível porque muitos estavam em sua defesa. A ação de instituições como a OAB, a Comissão Arns e a CNBB foram fundamentais nessa defesa e no resultado alcançado.
A tese, porém, que “a democracia está morrendo”, que se tornou popular entre cientistas políticos nos Estados Unidos e no Reino Unido depois que, em 2016, Trump foi eleito e o referendo do Brexit foi aprovado, foi um equívoco.
Cientistas políticos como Steven Levitsky, Daniel Ziblatt e David Runciman, que em 2018 publicaram livros afirmando que a democracia estava morrendo aos poucos nos seus países. Tiveram lá e também aqui grande sucesso. São democratas, mas estavam fazendo terrorismo político.
Em 2020 eu escrevi um ensaio publicado em seguida na Lua Nova cujo título era “A democracia não está morrendo, o que está morrendo é o neoliberalismo”. E de fato, esse neoliberalismo, que apenas beneficiou os ricos. morreu.
Mas antes de morrer deu origem a um populismo de extrema-direita que amedrontou muitos, também lá e aqui.
Como previa, o desenvolvimentismo que está aí é um desenvolvimentismo conservador; não é muito melhor que o liberalismo. Mas não é neofascista como é a extrema-direita.
Extrema direita não morreu, e contra ela as mulheres e os homens progressistas precisarão e suas organizações precisarão continuar a lutar com tanto ou maior vigor que o que mostraram quando lutavam contra o neoliberalismo.
No Brasil, nestes anos, os brasileiros lutaram contra as duas coisas – contra o neoliberalismo e contra o neofascismo. Fomos vitoriosos, mas não podemos descansar sobre os louros.
LUIZ BRESSER PEREIRA ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)