Ziraldo, o menino que desenhava em todos os lugares, na calçada, nas paredes e na sala de aula aos 7 anos
“Nasci numa pequena cidade de Minas. Até aí nada demais. Muita gente nasce em cidades pequenas, distantes e quietas”.PUBLICIDADE
Caratinga, a cidade ao qual Ziraldo se refere no primeiro parágrafo da crônica “Reminiscências”, logo também ficou especialmente pequena para o cartunista.
Com pouco mais de 20 anos, como um D’Artagnan, Ziraldo deixou Caratinga com o desejo de conquistar o Rio de Janeiro e – quiçá – o mundo. Quando partiu, seu pai colocou em seu bolso algum dinheiro e um bilhete onde escreveu “Os Dez Mandamentos de Como Vencer na Vida”, conselhos que Ziraldo seguiu a risca e que, em 1954, foram publicados no jornal “Folha de Minas”.
Irônico, agil e incansável, Ziraldo Alves Pinto é um cartunista, chargista, pintor, escritor, dramaturgo, cartazista, caricaturista, poeta, cronista, desenhista, apresentador, humorista e jornalista (ufa!) brasileiro nascido no interior de Minas Gerais, no dia 24 de outubro de 1932. Desde pequeno, lia muito e era considerado um menino prodígio. O menino que desenhava em todos os lugares, na calçada, nas paredes e na sala de aula, aos sete anos, teve seu primeiro desenho publicado na “Folha da Manhã”.
“Em minha cidade chegava pouca coisa, mais eu lia os livros do meu pai e as revistas “Tico-Tico”. Depois, ainda em Caratinga, descobri os gibis. Quando vi uma caricatura do Dutra, feita pelo Théo, disse pro meu pai – que queria que eu estudasse pintura com Mário Andena, um pintor italiano que morava em Caratinga: “Pai, é isso que eu quero fazer! Olha aí: é o Dutra e não é o Dutra!” – disse.
O cartunista começou profissionalmente em uma revista chamada “Coração”. Aos 17 anos, publica histórias em quadrinhos nas revistas “Vida Infantil”, “Sesinho”, “Vida Juvenil” e colabora com charges nos últimos números de “O Malho”.
Em 1952, ingressa na Faculdade de Direito da UFMG e começa a publicar trabalhos mensais na revista “Era Uma Vez”. Dois anos depois, inicia a publicação de uma página de humor no jornal “Folha de Minas”.
Autodidata, Ziraldo se diz influenciado por grandes nomes do humor, como Ronald Searle, André François, Manzi e Steinberg. Nas artes plásticas, o artista cita como principais influências Picasso, Miró e Goya.
A partir de 1963, já no Rio de Janeiro, Ziraldo torna-se conhecido do público brasileiro por suas publicações nas revistas “Cigarra”, “O Cruzeiro” e “Jornal do Brasil”, onde cria, entre outros personagens, “Os Zerois”.
O cartunista foi ainda diretor de arte da revista “Visão”, publicitário e coordenador gráfico do Festival de Filme do Rio de Janeiro. Publicou trabalhos nos EUA e Europa; editou a revista “Fairplay”; e o “Cartum JS”, no “Jornal dos Sports”; publicou “Flicts”, “Jeremias, O Bom”, “O Menino Maluquinho” e participou da criação do jornal “O Pasquim”.
No semanário carioca viveu bons e maus momentos: “Na noite do AI5, eu estava no bar Veloso, quando, de repente, alguém chegou com a notícia: “Deram o golpe!” E aí foi aquele corre-corre para esconder gente. No dia seguinte, a polícia invadiu a minha casa. Eu estava desenhando, quando eles chegaram. Fui levado para o Forte de Copacabana”.
No final dos anos 60, com o sucesso de seu primeiro livro infantil “Flicts” – a história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo – Ziraldo se dedica a literatura infantil e lança, junto com Maurício de Souza, os livros “Menino Maluquinho”, “Turma da Mônica”, “Chico Bento” e “Astronauta”.
Entre os prêmios recebidos durante a carreira destacam-se o “Oscar Internacional de Humor”, de Bruxelas; o “Prêmio Merghantealler”, da Sociedade Interamericana de Imprensa, em Caracas; o “Prêmio Hans Cristian Andersen”; o “Prêmio Jabuti”; o “Prêmio Caran D`Ache”; o “Prêmio Ibero-americano de Humor Gráfico Quevedo” e o “Prêmio da Imprensa Livre da América Latina”.
Conheci Ziraldo em 1981, no lançamento do livro “O Pipoqueiro da Esquina”. Nos encontramos algumas vezes depois. Em 2003, no “Sindicato do Chopp”, no Leme, em um papo longo, conversamos sobre nosso primeiro encontro, sobre o livro em co-autoria com Carlos Drummond de Andrade, lançado pela Codecri e sobre a coincidência de nossos nomes terem sido inventados por nossos pais. O dele pelo seu Geraldo, que somou parte de seu nome ao nome da dona Zizinha, mãe do Ziraldo. E o meu pela minha mãe, dona Edith que somou o início de seu nome ao final do nome do meu pai Manoel, formando o Ediel.
Irmão do também cartunista Zélio Alves Pinto, Ziraldo foi casado por mais de quatro décadas com Vilma Gontijo Alves Pinto com quem teve três filhos: Daniela, Fabrizia e Antônio. Atualmente o cartunista é casado com Márcia Martins da Silva.
O menino Ziraldo estava predestinado a vencer na vida. Em Caratinga ou em qualquer outro lugar do mundo. “No dia que eu descobri que não queria vencer na vida, já era tarde demais: eu já tinha vencido”, disse.
EDIEL RIBEIRO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)