Hoje em dia, sob o comando de Sérgio Moro, a PF vive o maior desafio da sua história. Moro é um Midas ao contrário. Tudo o que toca vira lama
A Polícia Federal é um poder permanente. Como tal, não pode se vincular a governos e nem se deixar instrumentalizar. É a pré-condição essencial de um poder permanente.
Uma organização, empresa ou corporação pública, ganha maioridade quando seus integrantes se preocupam em deixar um legado para as gerações futuras, uma história, um bom exemplo que irá se multiplicando em outros exemplos.
Em outros tempos, especialmente sob a liderança de Paulo Lacerda, a Polícia Federal tinha essa ambição. Lembro-me da fase inicial da modernização da PF, preparando seus programas de qualidade, aprimorando seus processos internos. Os consultores me relatavam, maravilhados, o espírito profissional, a meta proposta – ser o FBI brasileiro -, a visão de futuro, o comprometimento de todos com a corporação. Enfim, o compromisso com o futuro, a intenção de deixar um legado para as novas gerações, de profissionalismo, de aprimoramento contínuo das investigações, de avanços na polícia científica, nas novas tecnologias.
O modelo dos mais jovens eram os policiais mais antigos, os grandes feitos na rua, como o desmantelamento da quadrilha que roubou o Banco Central em Fortaleza, um trabalho primoroso, discreto. Até hoje a opinião pública não sabe o nome dos heróis responsáveis por esse feito. Mas os jovens que entravam se espelhavam nesses heróis comprometidos com o trabalho, não com a popularidade fácil.
Hoje em dia, sob o comando de Sérgio Moro, a PF vive o maior desafio da sua história. Moro é um Midas ao contrário. Tudo o que toca vira lama. A partir da Lava Jato, do seu canto em Curitiba, foi um dos responsáveis pela politização do Ministério Público Federal, comprometendo os valores firmados na Constituição de 88 e contaminando toda a corporação, pelos celebração dos maus exemplos.
Foi, também, o principal estimulador dos absurdos cometidos pela Polícia Federal do Paraná, pelos deslumbrados que deixaram na história da PF a mancha das invasões espetaculosas de universidades, a humilhação de pessoas, a exposição de ex-políticos com algemas nos pés e nas mãos, o comprometimento das exportações brasileiras de carne.
Gradativamente, sob Moro, a PF do Paraná foi se desvirtuando e espalhando o mau exemplo por outros estados. Não era mais o FBI brasileiro, respondendo a valores e a princípios, mas os os tonton-macoutes de um Baby Doc curitibano, inclusive conduzindo expurgos internos contra quem ousasse questionar a contaminação política.
Agora, no comando da PF, Moro repete a lógica da contaminação. Os policiais que trouxe com ele não representam a corporação. São pessoas de Moro, não da PF. E a contaminação vai se espalhando por todos os poros de uma outrora PF, orgulhosa de seu profissionalismo.
De repente, Policiais Rodoviários Federais invadem reunião de sindicalistas em Manaus, usando indevidamente o nome do Exército. Monta-se a operação contra hackers e, antes mesmo dos interrogatórios, Moro já decide que saiu deles o dossiê divulgado pela Intercept, justo no momento em que o país inteiro, graças ao Intercept, já sabe das manobras da Lava Jato, das armações, das delações combinadas.
Como lembrou Pedro Serrano, essa contaminação política comprometerá todo o futuro da PF. Em algum momento, haverá inversão no jogo político com a volta da democracia. E não haverá como poupar a PF de uma justiça de transição.
As chagas deste período tenebroso serão expostas, as vítimas, indenizadas. Os barras-pesadas que embarcaram de cabeça nessa aventura sairão da organização e se organizarão em outras bases, como as milícias que nasceram dos porões da ditadura. E haverá uma reformulação da PF, acabando com suas prerrogativas de poder permanente. Um poder permanente não pode conviver com a partidarização implementada por Moro.
Quanto tempo levará, dez, vinte anos? Pouco importa. Mas, lá na frente, algum velho policial contará aos tempos dos tempos pré-Moro, quando havia uma Polícia Federal orgulhosa, profissional, cujo sonho maior era ser o FBI dos trópicos. E que terminou sendo um instrumento nas mãos de um “chefe de puliça”. E mostrará, na parede da sala, o que restou do sonho: um quadro na parede com os valores que, um dia, marcaram a corporação:
Missão
A MISSÃO DA POLÍCIA FEDERAL foi assim declarada: “Exercer as atribuições de polícia judiciária e administrativa da União, a fim de contribuir na manutenção da lei e da ordem, preservando o estado democrático de direito.”
Visão
A VISÃO DE FUTURO DA POLÍCIA FEDERAL foi assim descrita: “Tornar-se referência mundial em Ciência Policial.”
Valores
A Galeria de Valores da PF, conforme disposição do item 5 da Portaria nº 4.453/2014-DG/DPF, de 16 de maio de 2014, é composta dos seguintes valores.
Coragem – Possuir a capacidade e a iniciativa de agir no cumprimento de dever em situações extremas, ainda que com risco à própria vida.
Lealdade – Cultuar a verdade, a sinceridade e o companheirismo, mantendo-se fiel às responsabilidades e aos compromissos assumidos.
Legalidade – Comprometer-se com a democracia e com o ordenamento jurídico vigente, sublimando a determinação de defender os interesses vitais da União.
Ética e Probidade – Desenvolver práticas de gestão e padrões de trabalho calcados em preceitos éticos e morais, pautados pela honradez, honestidade e constante busca da verdade.
Respeito aos Direitos Humanos – Alicerçar atitudes, como servidor e cidadão, na preservação dos princípios basilares de respeito aos Direitos Humanos.
E o neto reagirá espantado: Então um dia a PF foi assim?
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)