As conversas dos operadores da Força Tarefa da Lava Jato de Curitiba, divulgadas pelo The Intercept, na série Vaza Jato, deveriam despertar o interesse do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Ele, desde 14 de março, por decisão do presidente do STF, ministro Dias Toffoli, investiga ataques à Corte e seus integrantes nas redes sociais.
Nos diálogos travados no Telegram por procuradores, juízes e policiais federais da Operação Lava Jato em Curitiba, certamente haverá trechos que, como apostam algumas pessoas próximas aos lavajatistasparanaenses, interessarão – e muito – ao trabalho do ministro Moraes. Possibilidade que tem deixado em pânico, segundo apurou o Blog em Curitiba, alguns dos membros da Força Tarefa.
Tais diálogos, segundo se comenta em Curitiba, já se tornaram uma das principais preocupações do chefe da Lava Jato curitibana, o procurador Deltan Dallagnol, cujo celular hackeado abasteceu o The Intercept com as conversas nada republicanas dos membros da Força Tarefa. Conversas e áudios que foram encaminhadas por fonte anônima ao jornalista Glenn Greenwald. Mas esta não é a única preocupação dele.
No início de maio, o procurador Dallagnol – antes sempre sorridente – não conseguiu esconder o ar de preocupação ao constatar o hackeamento do celular (Foto: divulgação MPF)
Também teme – como dizem aqueles que viram, na primeira semana de maio, o desespero estampado no rosto de Dallagnol ao perceber que seu celular tinha sido hackeado -, o surgimento nas conversas de nomes ainda não muito conhecidos publicamente. Como de determinado advogado que teve papel importante, nos bastidores, nas negociações em torno das “delações premiadas”. Tão importante que ganhou clientes poderosos.
Embora admitam que o ataque ao celular possa ter ocorrido em abril, foi na semana de 05 a 10 de maio que Dallagnol foi visto na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba sem conseguir disfarçar a preocupação estampada na sua fisionomia. Reclamava do hackeamento que, então, pensavam que tivesse atingido os celulares de todos os membros da Força Tarefa. Não apenas de Curitiba, mas do Rio de Janeiro também.
O curioso é que Dallagnol, mesmo sabendo desde o início de maio – ou abril, como já admitiu em algumas reportagens como a publicada no site UOL (Hackers atuam desde abril e se passaram até por jornalistas, diz Lava Jato…) – da ação ilegal do hacker, manteve-se calado por um longo tempo. Tampouco concordou em deixar o seu aparelho – teoricamente funcional, pertencente à Procuradoria da República – para a devida perícia. Preferiu manter escondido o que ali estava armazenado e até já pode ter sido apagado.
O desespero dele à época, conforme muitos ouviram, era provocado por ter consciência que o seu Telegram guardava conversas diversas não apenas entre procuradores da Força Tarefa, mas também com juízes – incluindo Sérgio Moro e a sua substituta na 13ª Vara Federal, Gabriela Hardt – e ainda com jornalistas. Ou seja, conversas que podem revelar vazamentos. Sua sorte, neste momento, pode estar no sagrado compromisso de jornalistas com o respeito ao sigilo das fontes, o que os impede de revelar todos os diálogos captados.
Curiosamente não houve a preocupação, por parte dos investigadores, de realizarem uma busca e apreensão do aparelho para a devida perícia, como cansaram de fazer nas operações da Lava Jato.
A falta de perícia destoa, por exemplo, do que fez no Rio de Janeiro o desembargador federal Abel Gomes, relator dos processos da Lava Jato no Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Ao suspeitar de um hackeamento, ele deu queixa à polícia e deixou o celular para ser periciado.
Embora Dallagnol falasse que o hacker tinha atingido a todos, a cada dia é mais forte na Polícia Federal a suposição de que o alvo foi apenas o seu próprio aparelho. O inquérito instaurado na superintendência do DPF do Paraná é presidido pelo delegado Flávio Setti. Seus esforços podem ser em vão. Os entendidos em internet apostam que dificilmente será possível chegar autor do “furto”. Dizem que foi trabalho profissionalíssimo, com a utilização de provedores variados, localizados em países diversos.
Além do profissionalismo, o hacker demonstrou ser um provocador. O desespero de Dallagnol aumentou, em meados de maio, ao receber mensagens, vinda de um celular que usava seu próprio número, com fotos das postagens captadas/furtadas do aparelho dele. Junto a promessa de divulgação. A partir daí que surgiram, inicialmente no site Antagonista – considerado por muitos como porta-voz da Lava Jato -, as notícias dando conta de que “criminosos tinham atacado a Força Tarefa da Lava Jato”.
Ficou, no entanto, uma grande dúvida: se Dallagnol sabia, desde o início, que seu aparelho tinha sido vítima de ação criminosa, por que demorou a tornar público tal fato? Por que não denunciou logo que soube? Que motivos lhe impediram de divulgar o seu pedido de investigação à Polícia Federal?
Talvez aguardasse (torcesse?) que o hacker não cumprisse a promessa de divulgar as conversas. Atualmente, diante do pouco que já foi revelado pela série Vaza Jato do The Intercept, apesar de oficialmente insistir que não reconhece os diálogos como seus, Dallagnol teme a cada dia o que ainda estar por surgir.
Ha´tempos o Blog fala de irregularidades cujas apurações foram abafadas
Como um determinado operador do Direito, que tem outros familiares que também atuaram na Força Tarefa da Lava Jato. Ele, em determinado momento, parece ter admitido incentivar (há quem fale em financiar) algum tipo de campanha/ataque contra o ministro Gilmar Mendes, do STF. Justamente o alvo das investigações do ministro Moraes. O medo em torno desta possibilidade, segundo se comenta em Curitiba, gerou até um atestado médico por estresse.
Há ainda o receio do surgimento, nas conversas e citações, do advogado ainda desconhecido do grande público que desempenhou papel importante nas “negociações” das delações premiadas. Acabou, inclusive, defendendo clientes de nome, cuja delação vem sendo explorada politicamente pelos lavajatistas de Curitiba.
O certo é que a divulgação dos diálogos vem comprovando o que muitos já diziam há tempos. A Operação Lava Jato, ainda que tivesse sido iniciada com os melhores propósitos – e há fortes indícios de que isso não ocorreu – em diversos momentos desrespeitou o chamado devido processo legal. Tal como esse Blog noticiou em diversas reportagens, como aquela da qual retiramos a frase na epígrafe desta postagem e a ilustração ao lado- Lava Jato: irregularidades debaixo do tapete.
A reportagem fala do açodamento dos procuradores da República e dos juízes de Curitiba em arquivarem dois inquéritos policiais – IPL 01/2017-COAIN/COGER (autos 5003191-72.2017.404.7000, na 25ª Vara Federal Criminal de Curitiba) e IPL nº. 05/2016-COAIN/COGER (autos nº. 5053382-58.2016.404.7000, na 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba).
Em ambos o delegado Márcio Magno Xavier, da Coordenadoria de Assuntos Internos da Corregedoria Geral do Departamento de Polícia Federal, investigava possíveis irregularidades de colegas seus da corporação na Lava Jato.
O primeiro envolvia a instalação de grampo ilegal descoberto na cela do doleiro Alberto Youssef, logo no início da primeira fase da Lava Jato, em março de 2014.
Grampo que tentaram dizer que era antigo e estava inativo, como consta do resultado de uma primeira sindicância interna da Superintendência do DPF no Paraná – Sindicância 04/2014. Mas que depois verificou-se, em nova sindicância realizada pela Corregedoria do DPF em Brasília – Sindicância 04/2015/COGER/DPF – que era recente, estava ativo e foi instalado, por ordens superiores, pelo agente Dalmey Werlang. Como o próprio confessou.
No IPL 01/2017, o delegado Magno buscava identificar de quem partiu a ordem para a instalação do grampo. Queria verificar a veracidade da informação de Werlang que a própria cúpula da Superintendência – Rosalvo Ferreira Franco, o superintendente da regional; Igor Romário de Paulo, chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCor); e Marcio Adriano Anselmo, que chefiava a Força Tarefa da Lava Jato na SR/DPF/PR – determinara a instalação para saber o que os primeiros presos pela Operação conversavam na cela.
Trata-se de um assunto que o Blog vem noticiando desde agosto de 2015 – e que, inclusive, foi alvo até de uma entrevista nossa ao Jornal GGN, como mostra um vídeo (aqui) gravado juntamente com Luís Nassif, em agosto de 2017.
Como o Blog mostrou na quinta-feira (18/07) em Exclusivo: Moro interferiu na sindicância do grampo ilegal na PF, neste inquérito o delegado Mauricio Moscardi Grillo, que presidiu a primeira sindicância sobre o grampo, cuja conclusão final, da inatividade da escuta, mostrou-se falsa, admitiu em depoimento gravado em vídeo que o juiz Sérgio Moro interferiu, indevidamente, nesta apuração interna da Polícia Federal, antes dela ser concluída.
Isto corrobora o que as publicações do The Intercept vêm mostrando, de que o juiz deixou de ser imparcial e teve ativa participação nas investigações.
Rosalvo Franco (esq.). Igor de Paulo (centro) e Marcio Adriano (dir.), denunciados por envolvimento com o grampo ilegal na cela de Youssef. .
Já no IPL 05/2016 o delegado Magno apurava a participação da contadora do doleiro Youssef, Meire Bonfim da Silva Poza, como informante do delegado Márcio Adriano Anselmo. Outro assunto que esse Blog abordou por diversas vezes, inclusive provocando o depoimento oficial dela ao procurador regional da República em São Paulo, Osório Barbosa, como noticiamos em Enfim, a contadora e informante infiltrada da Lava Jato foi ouvida oficialmente.
Os fortes indícios de irregularidades na participação dela nas investigações, como uma busca e apreensão forjada para justificar a posse dos documentos que ela já havia repassado ao delegado, levaram a Corregedoria abrir o Inquérito. Mas o delegado esbarrou em dificuldades quando propôs uma busca e apreensão justamente no gabinete de trabalho do seu colega de Curitiba, delegado Marcio Adriano.
Com esta ação, pretendia apreender o celular do delegado para periciá-lo, bem como tentar descobrir a possibilidade de outro aparelho que registrasse mais conversas, além de apreender e periciar o computador funcional de uso pessoal do então coordenador da Força Tarefa da Lava Jato na Superintendência do DPF no Paraná.
A investigação, porém, não foi concluída. Arquivaram o inquérito com uma manifestação do Ministério Público Federal – que, por força da lei, deveria exercer o controle externo das atividades policiais, logo se interessar em investigar os fatos até o final – considerada “escandalosa” por quem teve acesso aos autos da investigação.
Após isto, coincidentemente, todos os policias da Corregedoria que atuaram nesse caso “caíram pra cima“. Em seguida, para a Corregedoria Geral do DPF foi designado o delegado federal Omar Mussi, oriundo da superintendência do Paraná. Ele promoveu a substituição de todos por lá. E a participação de Meire Poza na investigação acabou esquecida. Resta verificar se ela ressurgirá nos diálogos recebidos pelo The Intercept. Muitos, em Curitiba, dizem ser inevitável.
MARCELO AULER ” BLOG DO MARCELO AULER” ( BRASIL)