BOAS NOTÍCIAS MUDAM O VOTO ?

CHARGE DE NANDO MOTTA

Na última semana antes da votação do 1º turno, para o qual o ex-presidente Lula está oito pontos (43%) à frente do presidente Jair Bolsonaro (35%), no agregado de pesquisas eleitorais do Banco Itaú, com Ciro Gomes em 3º, com 7%, em empate técnico com Simone Tebet (5%), o governo Bolsonaro programou uma série de notícias na área econômica – majoritariamente positivas – na expectativa de influenciar o eleitor a mudar o voto.

O objetivo é evitar o desfecho da eleição no 1º turno. Lula, por sua vez, batalha para que eleitores de Ciro Gomes e Simone Tebet lhe transfiram votos para liquidar a fatura em 2 de outubro, sem chance de Bolsonaro aprontar ao longo do mês para tentar virar o jogo até 30 de outubro, com novas baixas da gasolina e nova rodada de pagamentos de benesses eleitorais. Até aqui, boas notícias não mudaram o voto, porque, tirando os preços da energia e dos combustíveis baixaram temporiamente, acompanhando o pacote de benesses válido até dezembro, o núcleo da inflação segue em dois dígitos.

Macaque in the trees
. (Foto: Itaú)

Notícias em profusão

Amanhã, o Banco Central divulgará a ata referente à reunião do dia 21, quando parou de subir a taxa Selic, que ficou em 13,75% ao ano. Na visão do mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve manter a comunicação dura e enfatizar que os juros devem seguir elevados por um período prolongado.

Também nesta 3ª feira, o IBGE divulga o IPCA-15 de setembro (prévia do IPCA cheio, que será conhecido dia 11 de outubro, após o 1º turno). O Bradesco espera deflação de 0,17% no IPCA-15, refletindo a queda dos preços de combustíveis. O Itaú espera deflação de 0,19% no IPCA-15. Já a Genial Investimentos espera deflação de 0,25% no IPCA-15. Para o IPCA de setembro, o mercado está prevendo deflação de 0,16% na Pesquisa Focus, divulgada hoje pelo Banco Central. Entretanto, depois de a pesquisa estar praticamente fechada, veio o anúncio de nova queda de 6,2% no GLP (o gás de botijão) nas refinarias.

O Itaú acredita que até o benefício ser transferido pelas distribuidoras de gás aos pontos de revenda, aliviando o bolso dos consumidores já na semana que vem, a medida só terá tempo de influir a inflação de outubro, conhecida em novembro, após o 2º turno. Para o Itaú, o impacto seria de -0,04% no IPCA; a Genial, estima -0,05%. De modo que só uma nova redução da gasolina (bastante provável), deverá ser tirada da cartola para tentar animar o eleitor.

A tendência da inflação (na Focus, o mercado espera redução do IPCA deste ano para 5,88% e 5,77% nas respostas dos últimos cinco dias úteis e 5% para 2023), será informada pelo Banco Central na 5ª feira, 29 de setembro, na apresentação do Relatório de Inflação referente ao 3º trimestre, trazendo mais detalhes sobre suas projeções de crescimento, contas externas e início do afrouxamento da política monetária em 2023. Por enquanto, a grande incógnita, que deriva do resultado eleitoral, que vai determinar o enfrentamento dos desafios fiscais gerais pelo pacote de benesses eleitoreiras.

Emprego e desafios para 2023

Na 4ª feira, o Ministério do Trabalho e Emprego, seguindo a agenda de boas notícias, divulga os dados do Caged, com o comportamento do mercado de trabalho em agosto, quando espera-se robusta criação de novas vagas (a Genial espera saldo positivo de 256 mil vagas). Na 6ª feira, o IBGE divulga os dados da PNAD Contínua, com esperada redução do desemprego para o trimestre junho-julho-agosto. A Genial Investimentos prevê queda da taxa de desocupação para 8,9%, menor nível desde 2015 (1º ano da recessão do governo Dilma). O que deve ser muito explorado no debate da TV Globo, na noite de 6ª feira.

Ao longo da semana, para reforçar o arsenal de boas notícias, o governo anunciará os dados fiscais e as estatísticas de crédito de agosto, enquanto os institutos privados, como a FGV, devem divulgar as primeiras sondagens de setembro. Por isso, será importante acompanhar as pesquisas de intenção de voto, e as falas dos candidatos presidenciais, na última semana de campanha antes do 1º turno.

Mas nem tudo são flores para 2023. O Departamento de Estudos Econômicos do Itaú publicou semana passada estudo avaliando a expectativa para o mercado de trabalho brasileiro à frente. Mesmo com dados do mercado de trabalho e da atividade econômica surpreendendo positivamente, o Depec alerta para o fato de que a relação inversa entre taxa de desemprego e crescimento econômico (Lei de Okun) mostra que a recuperação do mercado de trabalho foi mais acentuada do que seria consistente com a evolução do PIB.

Para o Itaú, o desempenho mais forte do mercado de trabalho reflete um efeito de composição setorial do crescimento – com a reabertura do setor de serviços, mais intensivo em mão de obra, no pós-pandemia – e algum impacto da Reforma Trabalhista. Para o 2º semestre, com o efeito reabertura se dissipando e a atividade econômica mais fraca, o Itaú espera que a taxa de desemprego registre leve alta, passando de 8,8% no trimestre encerrado em julho para 9,1% em dezembro.

Para o ano que vem o quadro piora um pouco, a expectativa é de que o aumento da População Ocupada perca força ao longo dos próximos meses, com os efeitos da reabertura se dissipando e a atividade econômica desacelerando (o Itaú espera que o PIB cresça apenas 0,5% em 2023). Nesse cenário, com juros mantidos elevados até o fim do 1º semestre, o Itaú prevê que a taxa de desemprego suba para 10,1% ao final de 2023.

Setor externo frustra previsões

O Banco Central divulgou nesta 2ª feira os dados do setor externo em julho. Os dados do setor externo, que vinham liderando a safra de boas notícias nos últimos três anos, inverteram os sinais desde maio deste ano, quando a esperada expansão do valor das exportações com a invasão da Ucrânia pela Rússia não se confirmou, pela retração das compras chinesas )diante dos surtos de Covid-19 no país).

As transações correntes do balanço de pagamentos registraram déficit de US$ 4,1 bilhões em julho de 2022 (déficit de US$ 1,2 bilhão em julho de 2021). Na comparação interanual, houve redução de US$ 2,1 bilhões no saldo da balança comercial de bens e aumentos de US$ 790 milhões e de US$ 179 milhões nos déficits em serviços e em renda primária, respectivamente. O déficit em transações correntes nos 12 meses até julho de 2022 somou US$ 36,6 bilhões (2,08% do PIB), ante US$33,6 bilhões (1,92% do PIB) no mês anterior e US$20,9 bilhões (1,37% do PIB) em julho de 2021.

O saldo da balança comercial de bens de julho ficou em US$ 4,2 bilhões (uma perda de US$ 2,1 bilhões frente aos US$ 6,3 bilhões de julho de 2021). De janeiro a julho o saldo da balança comercial somou US$ 30,1 bilhões, contra enquanto as importações somaram US$ 26,3 bilhões no mesmo período de 2021. Em 2022 as exportações somaram US$ 196,1 bilhões, com crescimento de 19,8%, mas as importações (puxadas pela alta dos fertilizantes e combustíveis) cresceram 20,8%, somando US$ 166, bilhões.

Com isso, a meta de saldo comercial de US$ 86 bilhões este ano deve ser revisto no Relatório Trimestral de Inflação.

O déficit na conta de serviços somou US$2,1 bilhões em julho de 2022, aumento de 59,2% em relação a julho de 2021. A conta de viagens internacionais registrou despesas líquidas de US$661 milhões no mês, ante US$229 milhões em julho de 2021. Na mesma base comparativa, e seguindo a tendência dos meses recentes, os fluxos brutos de receitas de viagens expandiram 74,4%, totalizando US$389 milhões, enquanto as despesas brutas de viagens cresceram 132,1%, somando US$1,0 bilhão. As despesas líquidas de transportes somaram US$726 milhões em julho de 2022, ante US$273 milhões em julho de 2021, aumento de 166,3%. Aluguel de equipamentos registrou despesas líquidas de US$670 milhões no mês, ante US$609 milhões em julho de 2021.

Revisão após as eleições

E o Banco Central adiou para novembro, depois de um eventual 2º turno, a revisão anual ordinária promovida nas estatísticas do setor externo. Como “as boas notícias a gente antecipa”, como disse o ex-ministro da Fazenda, Riubens Ricúpero, o adiamento da divulgação, espera para julho, é um mau sinal.

GILBERTO DE MENEZES CÕRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *