Ainda não caiu a ficha de parte relevante do poder – sobre a iminência da nova escalada autoritária conduzida por Jair Bolsonaro
A operação da Polícia Federal contra os supostos hackers do interior paulista indica o início da estratégia Operação Incêndio de Reichstag, que marcou a ascensão do nazismo na Alemanha.
É uma tática recorrente em governos que caminham para o autoritarismo. Vão sendo testadas armações que insuflem a malta contra o inimigo comum fabricado. Mantém o clima de conflito permanente até que se tenha o grau de fervura adequado para o golpe final.
Nos últimos dias, além dos hackers de Moro houve a capa estapafúrdia de Veja com os supostos terroristas, a tentativa de reavivar as teorias conspiratórios sobre o Foro de São Paulo e, agora, o caso dos hackers amadores – desses que deixam pista e dão trote nas vítimas.
Por enquanto, o caso dos hackers parece mais uma tática restrita de autopreservação de Sérgio Moro, uma tentativa canhestra de tirar o Ministro da defensiva. O Rubicão a ser atravessado seria uma eventual tentativa de investir contra Glenn Greenwald, tentando associá-lo ao grupo. Dependerá exclusivamente da resistência que encontrar pelo caminho. E há um misto de cumplicidade e ignorância de alguns jornais e jornalistas, brincando de acender fósforo no barril de pólvora das redes sociais.
O que justifica uma opinião dessas, de um jornalista que admite não ter recorrido a fontes da Polícia Federal e no entanto afirma que o conteúdo do Intercept foi fornecido pelos hackers detidos ontem, mesmo depois dos ataques explícitos de Bolsonaro à sua colega Miriam Leitão?
“A operação da Polícia Federal que prendeu nesta terça-feira quatro suspeitos de trabalhar no hack que originou o vazamento dos diálogos entre Dallagnol e outros personagens do Petrolão não se chama Spoofing à toa”.
É conhecida a tática de Moro e da Lava Jato, de direcionar o conteúdo das delações para seus objetivos sem a necessidade de apresentar provas ou indícios consistentes. Portanto, delações inverossímeis fazem parte do arsenal e têm consequências – especialmente se houver parceria com o juiz do caso.
Ainda não caiu a ficha de parte relevante do poder – incluído na denominação especialmente as Organizações Globo – sobre a iminência da nova escalada autoritária conduzida por Jair Bolsonaro. Teimam em separar Sérgio Moro de Bolsonaro, quando a Lava Jato permanece sendo o principal fator agregador da ultradireita na qual Bolsonaro se ampara. Batendo em Bolsonaro, e poupando Moro, a Globo está jogando carne fresca no canil.
Bolsonaro vem acelerando o desmonte de todas as formas de regulação que podem inibir a atuação da zona cinza da economia, incluindo a economia do crime. E de todas as instâncias de moderação, afastando militares que integravam seu governo, enquadrando órgãos do Judiciário, demitindo qualquer dirigente público que não cumpra cegamente suas ordens.
Liberou o comércio clandestino de gás, o comércio de armas, não se tenha dúvida de que em breve liberará o controle sobre o fornecimento de combustível e outras medidas que beneficiam a enorme economia informal brasileira.
O comentarista Rogério Maestri levantou um conjunto de hipóteses assustadoramente verossímeis sobre os possíveis futuros passos de Bolsonaro (clique aqui). Inclusive com a ascensão de Policiais Militares de confiança de Moro-Bolsonaro, em detrimento dos militares afastados do governo. Os discursos de Olavo de Carvalho e dos filhos contra militares não são apenas excentricidades, pois refletem e influenciam, sem disfarce, o pensamento de quem está comandando o país.
Enfim, já começou a contagem regressiva para a radicalização final do governo. Ou as instituições acordam enquanto é tempo, ou será tarde. O tempo para reagir tornou-se dramaticamente curto.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)