A MORTE DO JORNALISTA SILVIO LANCELOTTI, UMA REFERÊNCIA NO JORNALISMO, NA GASTRONÔMIA E NOS ESPORTES

O jornalismo brasileiro perdeu várias referências com a morte de Lancelotti.

Morto hoje, conheci o Silvio Lancelotti muito antes de suas aulas de culinária e coberturas esportivas. Foi na Veja de Mino Carta. Era um italiano divertido, encorpado que passou pela Editoria de Cidades e, depois, foi ser editor de Artes e Espetáculos.

Nossas afinidades eram curiosas. Primeiro, a música. Depois, o xadrez. Na época do match Fischer x Spasski o xadrez tornou-se mania nacional. Conseguimos um tabuleiro na Veja e, no intervalo do almoço, ficávamos reproduzindo os lances da partida, que vinham por telex.

A terceira afinidade foi o pregobol, um tabuleiro de madeira, com pregos no meio, simulando jogadores de futebol, e uma bolinha de aço que impulsionávamos por palitinhos de picolé, em partidas a dinheiro.

Cheguei a ganhar um dinheirinho de Henrique Caban, mas ele se mudou para o Rio de Janeiro para trabalhar em O Globo e deixou a dívida para trás.

Foi um amigo leal a Mino Carta, que o acompanhou quando deixou a revista para fundar o jornal A República.

Tinha música no sangue e na família. Era sobrinho do maestro Diogo Pacheco, que faleceu dias atrás, figura folclórica da música erudita, responsável por algumas experiências extraordinárias, como colocar Elizeth Cardoso cantando Villa Lobos no Municipal.

Quando começou a TV a cabo, Lancelotti tornou-se âncora de um programa de esportes, não me lembro se da MTV ou da ESPN. E me deu um dos grandes presentes jornalísticos da minha vida, que foi a possibilidade de participar de uma entrevista coletiva com o gênio russo de xadrez, Kasparov.

Depois, perdemos contato. Cruzávamos vez por outra em algum restaurante. A última vez que o vi foi no ano passado, na casa de um amigo comum. Estava irreconhecível, magro, com uma imensa barba branca, frágil.

Quando amigos montaram um grupo de WhatsApp, “Amigos do Nassif”, em solidariedade à perseguição jurídica de que sou alvo, foi dos primeiros a entrar e a sempre manifestar sua solidariedade. Cobrou uma cobertura adequada na morte de Tão Gomes Pinto, meses atrás, um dos grandes textos da Veja dos anos 70. E deixamos em suspenso um almoço em casa, no qual teria a oportunidade de provar o arado, um prato tipicamente mineiro.

O jornalismo brasileiro perdeu várias referências com a morte de Lancelotti.

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LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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