Mais letal, mais desonesto, mais mentiroso do que Bernie Madoff e tão sepulcral quanto Hitler, Jair Bolsonaro, apostando na ignorância e no preconceito dos setores mais atrasados da elite, ergueu as pirâmides da morte, da mentira, da milícia, da corrupção, do golpe, do ódio, do segredo, da fome, do desemprego e da miséria.
As maiores expressões da fraude, da empulhação e da trapaça mundial são Adolfo Hitler e o magnata norte-americano Bernard Madoff. O primeiro um genocida ensandecido. O último levou milhares de investidores à ruína com um esquema delinquente de pirâmides e arrastou para o crime a própria esposa e seus dois filhos com desfecho trágico. O primogênito do casal, Mark, se matou em seu apartamento em Manhattan em dezembro de 2010. O advogado dele afirmou na época que ele era uma “vítima inocente do crime monstruoso de seu pai”. Em setembro de 2014, o filho mais novo de Madoff, Andrew, morreu de câncer aos 48 anos. Ele também culpou o estresse do escândalo pelo retorno da doença contra a qual havia lutado em 2003. Além da família, a relação das vítimas de Madoff incluiu a fundação de caridade do diretor de cinema Steven Spielberg, bancos como o HSBC, o Royal Bank of Scotland, o Santander, outras firmas de investimentos como o Man Group, da Inglaterra e a Nomura Holdings, do Japão. Professores, pequenos fazendeiros, autônomos e muitos outros cidadãos comuns também viram escorrer pelos dedos da vigarice as economias de suas vidas. Ao menos duas pessoas teriam se suicidado após o escândalo de 2018, depois de a fraude ter sido praticada por quase 20 anos diante das barbas das autoridades financeiras norte-americanas, tidas como enérgicas com impostores e defraudadores.
“O Mago das Mentiras”, filme que adaptou a trajetória criminosa de Bernie Madoff para o cinema, revela o funcionamento dos investimentos no esquema de pirâmide e como sua mulher e seus filhos foram arrastados para o escândalo. O símbolo da maior fraude norte-americana é um dos personagens centrais analisados no livro “Falando com Estranhos”. Nele, o escritor Malcolm Gladwell analisa vários episódios e trapaceiros que ludibriaram o mundo, mesmo diante da estridência de suas mentiras. Além de Madoff, Gladwell relembra como Adolf Hitler tapeou o primeiro-ministro inglês, Neville Chamberlain, no episódio que ficou famoso como o maior vexame diplomático da história quando o ditador começava a invadir países vizinhos iniciando a barbárie da grande guerra. Depois de dois encontros com o ditador, Chamberlain dizia-se impressionado com a honestidade e disposição de Hitler para, apenas, reparar as perdas alemãs da Primeira Guerra. Regressou à Inglaterra com uma carta de compromisso, falsamente pacifista, assinada pelo ditador. Meses depois Hitler invadia nações soberanas e marchava contra a humanidade pisoteando o mundo com sua eugenia insana que redundou nos campos de concentração e o extermínio que vitimou judeus, homossexuais, ciganos, intelectuais e outras minorias odiadas por ele. Encontrou seu limite em Winston Churchill, que não caiu na esparrela. Nos resultados trágicos, não há comparação entre o “führer” e Bolsonaro, mas existe uma identidade de expedientes com números diferentes.
Além das interações com nazistas e elogios a Adolf Hitler, os rastros do Terceiro Reich empesteiam o bolsonarismo: gerar o pânico, hostilizar a imprensa diariamente, culpar os comunistas pelos fracassos, incensar a mitomania ignorante, mentir descaradamente para iludir os de boa-fé, propagar falsidades, cultuar a morte, armar a população, militarizar os cargos públicos civis e disseminar do ódio contra todas as minorias, adversários, pensadores, escritores e a academia. Os espirros nazistas interagem com outras perversões extraídas da cartilha de Joseph Goebbels, como o anti-intelectualismo, aversão às liberdades, reiteração dos conceitos de hierarquia, vitimização, falsos apelos ao patriotismo e completa desarticulação do Estado. O sequestro dos conceitos do Estado de Direito, usados por todos os ditadores do mundo, é um dos expedientes mais temerários para as democracias. Todos os tiranos que envergonharam a humanidade cometeram suas atrocidades sequestrando indevidamente os conceitos de liberdade e democracia para pavimentar seus regimes autocráticos, invariavelmente sanguinários. O que o capitão diz, pensa e faz tem o DNA repugnante do nazismo. Desde 2020 ele sonha com sua noite dos cristais. Uma latência comprovada em várias ocasiões, ora de viva voz, ora pelos filhos, ora por aliados e tentada sem sucesso por seu preceptor diabólico, Donald Trump, outro vigarista de direita que foi expelido pelo eleitor no berço de um dos maiores trapaceiros do planeta, Bernie Madoff.
Madoff, ao contrário de Trump que tapeou uma nação inteira mentindo, ludibriou uma penca de investidores gananciosos por ganhos assimétricos, acima do que remunerava o mercado naquele momento, em um esquema que o novo investidor bancava o pagamento de dividendos aos mais antigos. Bernard Madoff era um operador de elevada reputação no mercado de capitais americano, apostou na ganância e chegou a ser presidente da bolsa de valores, a icônica Nasdaq. Ele incinerou cerca de 50 bilhões de dólares de seus investidores num sistema de pirâmide, o mais manjado dos golpes da história das defraudações, insustentável financeira e juridicamente. Depois de preso em 2009, descobriu-se que ele operava há décadas sem despertar suspeitas nas autoridades do órgão de controle de capitais (SEC). Tapeou o mais aparelhado órgão de fiscalização sistema de capitais do mundo, apesar de várias denúncias anteriores de indícios de crime. A boa fé, a vontade de acreditar nas pessoas com quem estamos lidando sejam sempre honestas, é responsável pelas maiores armadilhas e fraudes da humanidade. Em junho de 2009, Madoff foi considerado culpado por 11 crimes, entre eles fraude e lavagem de dinheiro. Pegou uma sentença de mais de 150 anos. Morreu na prisão, sozinho, aos 82 anos de idade.
Mais letal, mais desonesto, mais mentiroso do que Bernie Madoff e tão sepulcral quanto Hitler, Jair Bolsonaro, apostando na ignorância e no preconceito dos setores mais atrasados da elite, ergueu as pirâmides da morte, da mentira, da milícia, da corrupção, do golpe, do ódio, do segredo, da fome, do desemprego e da miséria. Arrastará eternamente para as catacumbas sombrias, como uma bola de ferro acorrentada na alma, todo o peso do Código Penal, além dos crimes de responsabilidade e dos crimes contra o Estado Democrático de Direito e as liberdades individuais. Só a CPI da pandemia o indiciou por 9 delitos, entre comuns e de responsabilidade. Com mais de 683 mil mortes nas suas costas, boicote a ciência, prescrição de medicamentos inúteis e uma média de 7 mentiras/dia, Bolsonaro é muito mais nocivo que Madoff. Na sabatina dos presidenciáveis no maior telejornal do Brasil contou 1 mentira a cada 3 minutos. No debate presidencial na TV Bandeirantes mentiu mais. Mentiu sobre xingamentos aos ministros do STF, mentiu sobre vacinas, mentiu sobre falta de oxigênio em Manaus e mentiu imitar doentes com falta de ar pela Covid-19. Acobertado por dois sócios da mentira – o PGR e o presidente da Câmara –, o capitão assiste agônico o cerco se fechar, a valentia evapora e já externa o temor da prisão quando perder o foro presidencial. Ele não apenas iludiu eleitores, trapaceou e mentiu, que já é muito. Chegou ao cargo através da maior fraude jurídica brasileira, comandada por trapaceiros da pior laia, como Sérgio Moro e seus auxiliares do Ministério Público, como Deltan Dallagnol e outros da camarilha. Bolsonaro enganou por 3 anos, mas as pesquisas vão jogando uma sombra funesta sobre ele e os filhos, todos investigados por suspeita de um ou mais delitos. Flávio Bolsonaro está encalacrado até o pescoço com as rachadinhas e mansões milionárias. Eduardo e Carlos Bolsonaro estão no centro do inquérito das milícias digitais e o caçula envolvido em episódios nebulosos de lobbys e ganhos anômalos. Toda a família está enrolada em aquisição de 107 imóveis, a maioria deles, 51 unidades, pagas em espécie. Todos os tiranos da humanidade se imaginam eternos no poder e inalcançáveis pela Justiça, mas um dia a casa cai. Todos os tiranos, sem exceção, caíram em desgraça e seus nomes foram parar no esgoto da história.
O Juiz espanhol Baltazar Garzón ficou mundialmente conhecido ao emitir a ordem de prisão internacional contra o ditador chileno, Augusto Pinochet, pela morte e tortura de cidadãos espanhóis com base no relatório da Comissão da Verdade. A prisão por 503 dias de Pinochet, em 1998, quando era senador vitalício do Chile, mostrou que os crimes contra direitos humanos são imprescritíveis e transcontinentais. O primeiro facínora a liderar a junta militar da Argentina, Jorge Videla, foi acusado de crimes de tortura, desaparecimentos, mortes e sequestro. Foi o ideólogo da repressão. Mais de 30 mil morreram ou desapareceram. O militar chegou ao poder em 1976 através do golpe e lá ficou até 1981. Com o retorno da democracia, Videla foi condenado em 1985 à prisão perpétua por crimes contra a humanidade. Indultado por Carlos Menem, voltou a ser preso e morreu na cadeia. A Argentina condenou mais de 200 militares e civis por crimes contra a humanidade. Nem mesmo o indulto, o mesmo que Bolsonaro concedeu, afrontando a Suprema Corte, ao condenado Daniel Silveira, é a garantia da proteção eterna. Daniel Silveira e outros delinquentes do Bolsonarismo, como Eduardo Cunha e Roberto Jefferson, já estão inelegíveis. A história também não os absolverá.
O julgamento de maior projeção no Tribunal Penal Internacional foi o de Slobodan Milosevic. O ex-Presidente da Iugoslávia foi acusado de genocídio e crimes contra a humanidade na Bósnia, Kosovo e na Croácia. Primeiro ex-chefe de Estado a sentar-se no banco dos réus de um Tribunal Penal Internacional, o julgamento era visto como paradigmático. Antes do julgamento, ele foi encontrado morto na sua cela em Haia. O militar congolês Germain Katanga recebeu uma pena de 12 anos de prisão do Tribunal por crimes contra a humanidade. O ex-comandante do Estado-Maior Exército ruandês, Augustin Bizimungu foi condenado por genocídio a 30 anos. O ex-general croata Ante Gotovina foi sentenciado a 24 anos de prisão. Dragor Milosevic, general sérvio-bósnio, sem parentesco com o ex-presidente, pegou 33 anos. Há outras condenações e processos em andamento. Bolsonaro acumula denúncias de crimes contra a humanidade, povos indígenas e genocídio no Tribunal Pena Internacional. Já tem uma condenação simbólica no Tribunal dos Povos. A hora dele chegará. Não ficará impune.
A aflição da família da mentira é mais imediata. São recorrentes as apreensões do clã quanto ao medo da prisão após o fim da blindagem presidencial. As falsidades disseminadas por ele e os seus, pessoalmente ou em campanhas de desinformação com robôs nas redes sociais, não são manifestações inofensivas, elas mataram. Em 2021, Bolsonaro mentiu descaradamente para o mundo na ONU. Mentiu sobre economia, corrupção, desmatamento e, sobretudo, quanto à Pandemia. O Brasil teve o pior desempenho mundial no combate à Covid-19. O capitão obscurantista receitou remédios inúteis, atrasou em 7 meses a compra de 120 milhões de doses das vacinas que salvariam vidas, mandou cancelar a compra da AstraZeneca, deixou faltar oxigênio hospitalar em Manaus, sabotou a ciência e conspirou contra as medidas não farmacológicas, como isolamento social e uso de máscaras. Escarneceu da morte, tripudiou sobre as vítimas e imitou doentes com falta de ar. Na reta final da campanha chegou a despudor de mentir sobre a fome, segundo ele inexistente no Brasil. No tempo de Madoff os próprios filhos denunciaram o “mago da mentira” às autoridades. Aqui as autoridades prevaricam e blindam a farsa, mas elas são transitórias e os filhotes e protetores da mentira podem dividir a cela com Bolsonaro muito em breve. O Brasil espera a punição exemplar de todos.
WEILLER DINIZ ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)
– Weiller Diniz é jornalista