Quando, em 1988, em uma mesa do bar do Português, na cidade paranaense de Cascavel, o jornalista e publicitário especializado em marketing digital Mario Milani mostrou a amigos sua ideia para ajudar nas campanhas do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, a maioria deles mostrou-se cética de que fosse dar certo.
Decorridos 34 anos, Milani constata não apenas que a sua “sacada” persistiu por mais de três décadas, até se tornar, nos dias atuais, o contraponto perfeito ao símbolo adotado pela horda fascista que defende a reeleição do presidente genocida Jair Bolsonaro e utiliza os mesmos dedos como reprodução de uma arma.
Milani, de forma simples, visualizou no uso dos dedos polegar e indicador, colocados em um ângulo de 90º, a reprodução da letra “L”, de Lula. Foi, como narrou seu amigo. o também jornalista José Maschio, de Londrina, de uma “obviedade cristalina”.
Hoje ele diz que o gesto, quando feito entre duas pessoas que se cruzam, pode ser visto como uma forma de cumprimento. Ao ser reproduzido por milhares de pessoas ao mesmo tempo, tal como ocorre em comícios, shows e grandes aglomerações, torna-se um “verdadeiro ritual”.
A história deste gesto que se tornou a principal marca da campanha do presidenciável do PT está narrada no livro “A Voz do Gesto” (Hora Pública Editora) que o próprio jornalista e publicitário, com a ajuda de amigos e correligionários, editou e que na tarde de sábado, 27/08, lançou no já tradicional point da esquerda curitibana, o Bar Nina (Rua Marechal Deodoro). No livro, com 162 páginas, pago pelo próprio jornalista, ele recorda a história deste gesto que atravessou diversas gerações.
Na época em que a ideia apareceu, ele a levou a amigos da direção do partido como Aloizio Mercadante e Gilberto Carvalho. Durante dois dias, em 1989, debateu a sua proposta com petistas de todos os recantos do país em um encontro nacional do PT onde poucos lhe deram atenção.
“Eu queria sair dessa história de muito dinheiro para gastar em propaganda eleitoral. Criei o “L” com os dedos, o “L” de Lula. Fiz estudos de semiótica, estudo de neurolinguística para saber como era isso”, lembra na entrevista que concedeu à TV 247, na última quarta-feira (24/08) – assista abaixo. O “Case ‘L’ do Lula” tornou-se até tema do seu TCC no mestrado.
Lula e Milani em dois momentos: 1989 e 2022 (Fotos: arquivo de Mario Milani)
A emoção no comício da Sé
Na prática, o símbolo foi adotado oficialmente em um jantar de adesões à primeira campanha do petista à presidência, no restaurante Guadalupe, em Curitiba, quando Milani e Lula ainda não tinham barba e cabelos dominados pelos fios brancos, como mostra a foto da época.
O teste prático se deu em um comício, na campanha de José Maria Tardim para a prefeitura de São João do Triunfo (PR). Porém, sem menosprezar o encontro na cidade paranaense, Milani confessa que sua emoção veio ao chegar atrasado a um comício na Praça da Sé, em São Paulo, e se deparar com a multidão adotando o gesto.
O livro, que pode ser adquirido através do site https://fazoldelula.com.br/ ao preço de R$ 55,00, conta desde o encontro no bar do Português onde estavam Alfredo Carvalho, dirigente do PT de Cascavel, cego, que já morreu, Ernani Pudell, que foi deputado estadual no Paraná, Márcio Penas Borges, Ocimar Bim, o Jorge Sonda, ex-tesoureiro do PT-PR e mais dois ou três amigos. Bim, recorda-se Milani, foi o único a acreditar na ideia.
Traz ainda o depoimento de oito amigos de Milani tais como Jorge Samek (engenheiro agrônomo, ex-diretor-geral da Itaipu Binacional nos governos Lula, Dilma Rousseff e Michel Temer), Valdo José Cavallet (ex-presidente do PTPR) e de Maschio, o autor da definição de “obviedade cristalina”, para quem a descoberta de Milani não pode ser considerada casual:
“Quando Mario Milani me apresentou a ideia da expressão gestual do “L” achei aquilo de uma obviedade cristalina. Os dedos polegar e indicador em ângulo de 90º firmaram o “L” de Lula. Óbvio e simples. De uma simplicidade genial. Quando sacadas geniais são criadas, é comum atribuirmos ao acaso. O “L” de Mario Milani não pode ser concedido a um acaso, foi uma concepção de quem entendia de semiótica”.
Tem ainda um depoimento do próprio ex-presidente Lula que diz ter lembrado do “L” criado por Milani quando esteve com Nelson Mandela, na África do Sul, e assistiu a população local erguer o punho fechado como sinal de luta. Na contracapa do livro, Lula escreve:
“Em qualquer lugar do Brasil que visitava, pessoas de todas as idades e trajetória nos recebiam, calorosamente, com o famoso gesto do “L”. Para mim era especialmente comovente a cena comum de pessoas que, impossibilitadas de se aproximar fisicamente, acenavam de longe com a eloquência e assertividade gestual.“
Assista a entrevista de Mario Milani a Marcelo Auler
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