Líder das pesquisas, Lula não estava bem. Foi um pouco confuso nas respostas e o tema da corrupção, o ponto complicado para ele e o PT, foi muito explorado. Bolsonaro perdeu pontos junto ao eleitorado feminino (52,5% dos votantes), ao atacar Simone Tebet e a jornalista Vera Magalhães. Para quem precisa conquistar mais votos com as mulheres, o presidente foi péssimo.
Assim o debate foi pior para Bolsonaro, porque atrapalhou um dos objetivos da campanha dele: o de conquistar mais votos entre as mulheres. E talvez tenha um efeito positivo se Simone Tebet crescer a partir daqui, pois ela tem bom tempo na TV e rádio. A senadora pode tirar votos de Lula, talvez um pouco de Bolsonaro, também. Se isso acontecer, Tebet não vai para o 2° turno, mas reduzirá ainda mais chance de eleição acabar no 1º, em 2 de outubro.
Na verdade, como dois lutadores de boxe, os dois candidatos que lideram as pesquisas, mediram suas forças logo no primeiro “round”, sentiram a potência dos golpes do adversário, entraram em “clinch” mas evitaram trocar golpes diretamente entre si ao longo do debate (preferindo ataques indiretos através dos outros quatro contendores.
Lula preferiu lembrar a sensação de bem estar dos mais pobres em seu governo (que acabou em 2010). Deve insistir que as benesses de Bolsonaro são temporárias. O presidente ficou incomodado com a menções à corrupção no MEC e a má gestão na pandemia da Covid-19, particularmente no atraso na compra de vacinas, com a participação de atravessadores.
Tudo indica que Bolsonaro vai bater em dois pontos: a corrupção na gestão do PT e a ameaça do esquerdismo (um tema muito caro aos fiéis evangélicos do seu eleitorado – a menção de que a Nicarágua, de Rafael Ortega, apoiado por Lula, perseguiu as igrejas. A menção casa com as “fake news” de que o PT e Lula vão perseguir e fechar as igrejas (o que nunca ocorreu em sua gestão). Por isso, a jornalista Mônica Bergamo da “Folha de S. Paulo” puxou o tema do estado laico, que foi respondido pelos demais candidatos.
Pesquisa FSB/BTG aponta 2º turno
Os dados da Pesquisa FSB/BTG-Pactual, divulgada hoje, com 2.000 eleitores sendo ouvidos por telefone entre os dias 26 e 28 (domingo, antes do debate da Band, mas já captando as primeiras inserções da campanha eleitoral e o impacto das entrevistas do Jornal Nacional com os quatro principais candidatos), mostraram que os dois líderes ratearam no “grid” de largada.
Lula perdeu dois pontos ante à pesquisa da semana anterior (caiu de 45% para 43% de menções na pesquisa estimulada), mas Bolsonaro ficou estacionado em 36%, indicando que a distribuição das benesses eleitorais (que vão somar R$ 41,2 bilhões até dezembro) não sensibilizou o eleitorado mais pobre. Quem avançou foi Ciro (de 6% para 9%) e Simone Tebet (de 3% para 4%). Os demais subiram de 2% para 3%, indicando o 2º turno.
Nas indicações para o voto em 30 de outubro, Lula venceria por 52% a 39%, mesmo cenário da pesquisa da semana passada.
Rejeição de pobres e mulheres
A rejeição ao presidente Jair Bolsonaro continuou alta e estável em 55%. A de Lula subiu ligeiramente de 44% para 45%. Enquanto Jair Bolsonaro tiver rejeição de mais da metade dos eleitores, será difícil virar o placar.
E a sua rejeição é maior entre as mulheres (52,5% do eleitorado). O comportamento agressivo contra a jornalista Vera Magalhães, uma das entrevistadoras do debate da Band, e os ataques à senadora Simone Tebet pode ser um obstáculo intransponível se for explorado pelos adversários. Na pesquisa, Lula tinha 46% dos votos femininos, enquanto Bolsonaro só recebia 30% (basicamente a base dos eleitores evangélicos, onde a primeira dama, Michelle, atua como cabo eleitoral). A força de Bolsonaro está entre os homens, entre os quais bate Lula por 42% a 39% (quase um empate técnico).
Entre os eleitores que ganham até 1 salário mínimo (R$ 1.212), Lula vence por 61% a 17%. Na faixa com renda entre 1 e 2 SM (R$ 2.224), Lula supera Bolsonaro por 51% a 29%. As duas faixas concentram a maioria do eleitorado. Sobretudo no Nordeste. O universo de 20,2 milhões de famílias recebendo R$ 600 do novo Auxílio Brasil parece pequeno para virar o placar.
O jogo fica mais equilibrado quando é medida a força dos dois candidatos à medida em que aumenta a renda dos eleitores, que já reagem ao impacto da redução dos preços da energia elétrica e dos combustíveis (hoje, a Petrobras anunciou queda no querosene de aviação, que deve baratear as passagens aéreas). Na faixa de 2 a 5 SM (até R$ 6.060) Bolsonaro vencia por 43% a 34%. E na faixa superior, com renda acima de 5 SM, a intenção de voto era de 52% a 27% pró Bolsonaro.
Batalha por regiões
A distribuição dos gêneros é praticamente uniforme entre as diversas regiões. Mas a pobreza é mais concentrada no Nordeste (que concentra 26,9% do eleitorado) e nas periferias do Sudeste, que concentra 42,9% dos votantes). O Sul tem 15% dos eleitores e o Norte (8%) e o Centro-Oeste (7,4%) concentram 15,4%. Por isso, a Pesquisa FSB-BTG uniu o Norte à região central do país.
Bolsonaro segue vencendo no Sul (44% a 33%, contra 45% a 37% na semana passada) e avançou NO-CO (43% a 39%, contra 41% a 38%).
Mas Bolsonaro avançou algumas casas no Nordeste, onde Lula marcou 63% a 22% contra Bolsonaro (o placar era de 64% a 19% na pesquisa da semana passada) e virou o jogo no Sudeste. Segundo a pesquisa, Bolsonaro superou Lula por 39% a 35% (na semana passada Lula vencia por 39% a 36%).
A guerra das narrativas deve crescer nesta semana. E o foco vai ser apontar os pontos negativos dos adversários e destacar os pontos positivos. A distância do tempo ajuda a Bolsonaro na questão do alívio na inflação para a classe média que tem automóvel, moto ou casa própria, embora a inflação dos alimentos e das roupas e dos outros gastos continue descontrolada. Lula precisa lembrar dos bons tempos da sua gestão, mas há uma pedra no meio do caminho: a gestão de sua sucessora, Dilma Roussef, que levou o país à recessão em 2015 e 2016, quando preços administrados, câmbio e juros que estavam congelados para a reeleição, dispararam fazendo a economia capotar.
É mais ou menos o falso alívio proporcionado pelas benesses de Bolsonaro. Mas o governo deve fazer muito alarde com os bons números do mercado de trabalho (criação de 218,9 mil vagas em julho) – nunca saíram tão rápidos os números do Caged – e o crescimento do PIB no 2º semestre, que o IBGE divulga dia 1º de setembro (5ª feira, dia da “live” presidencial).
A previsão é de que o PIB avance 1%. Para 2022, a previsão é de crescimento de 2,10%, com a inflação do IPCA fechando o ano em 6,70%.
Mas a economia murcharia em 2023, quando o mercado estima que o PIB cresça apenas 0,37% (0,35% na previsão dos últimos 5 dias úteis) e o IPCA subiria para 5,34%.
BC não pode baixar a guarda
Com mandato além da posse do novo governo (até 31 de dezembro de 2024), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto reconheceu que a inflação ainda está bem alta e que suas expectativas começaram a se acomodar e devem recuar brevemente, observando que a maior parte dos impactos econômicos da elevação dos juros ainda serão observados.
Mas Campos se mostrou cauteloso e disse que o BC continuará vigilante e que não poderá baixar a guarda. Dois riscos justificam essa cautela. O primeiro é a inflação mundial ainda elevada e sem perspectivas claras de reversão. Para Campos, as taxas de juros nas economias desenvolvidas terão de ser maiores, o que pode impactar nos preços dos ativos domésticos. Além disso, temos a incerteza com o arcabouço fiscal no próximo governo que afeta a demanda doméstica, os ativos e as expectativas de inflação.
Fed pode elevar juro em 0,75%
Um dos motivos do alerta de Campos Neto foi exposto na reunião de Jackson Hole, evento que reuniu 6ª feira nos Estados Unidos economistas de diversas tendências. O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell advertiu que a desaceleração da taxa de 12 meses da inflação do país – de 9,1% para 8,5% _ em julho, é um dado não “suficiente” para dar a inflação como vencida.
Para o Fed, manter a estabilidade de preços é uma tarefa “incondicional. Ou seja, mesmo que a inflação arrefeça, o Fed elevará os juros por um bom tempo. A Genial Investimentos acredita que o Fed fará novo aumento de 0,75 pontos percentuais na rodada de reuniões do Federal Open Market Committee (Fomc) dias 20 e 21 de setembro, até o nível de 4% a 4,25% (em dezembro ou começo de 2023).
Por ora, a Pesquisa Focus manteve estável a Selic na reunião do próximo dia 21, em 13,75%. Mas as apostas para dezembro de 2023, subiram de 11% para 11,25%, dentro do discurso de Campos Neto.
GILBERTO DE MENEZES CÔRTES ” JORNAL DO BRASIL” ( BRASIL)