O ENGENHEIRO PEDRO DA FOLHA, UM HOMEM DE CARÁTER

Nunca mais tive contato com ele, mas ficou para sempre a lembrança de uma pessoa de caráter.

Nos tempos iniciais de profissionalização da Folha, uma das figuras centrais era Pedro Pincirolli, o engenheiro Pedro, como era chamado internamente. 

Sócio do Paulistano, na juventude foi o único dos integrantes da seleção brasileira de polo aquático com padrão internacional, segundo me revelou seu colega de clube, Fernando Sandoval. 

Em um meio muito sujeito a competições e a fraquezas de caráter, era de uma honestidade intelectual comovente. 

Digo comovente pelas poucas vezes que interagimos. Nunca chegamos a ter uma conversa pessoal. Mas alguns capítulos de minha passagem pela Folha marcaram a admiração que passei a sentir por ele. 

O primeiro contato foi quando renunciei à Secretaria de Redação e os Frias pediram que ajudasse na montagem do recém criado Datafolha, subordinado a Pedro. 

Até então existia uma pesquisa eleitoral tocada pela Mara Kotscho. Elaborei um plano de atuação estendendo o trabalho para inúmeras frentes, levantamento de preços de equipamentos de informática, estatísticas de partidas futebol trabalhando de maneira ampla o que, mais tarde, convencionou-se batizar de jornalismo de dados. Escrevi o plano, mandei uma cópia para o Pedro, outra para o Frias. Impaciente, e jejuno em procedimentos gerenciais, não me dei conta de que primeiro deveria encaminhar para o Pedro e ele, depois de estudar o relatório, encaminharia para Frias. 

Sua reação foi civilizadíssima. No relatório, eu pedia para a Folha conseguir um microcomputador pessoal para o departamento, algo simples. Frias considerou que estava querendo gastar muito. E Pedro, professoralmente, me alertou para consultá-lo, antes de enviar sugestões para Frias, porque ele conshecia melhor as idiossincrasias da empresa. 

Mas aceitoiu de bom grado a pessoa que indiquei para gerente do Datafolha e mantivemos uma convivência tranquila. 

A segunda experiência foi quando denunciei Saulo Ramos, o então consultor geral da República. Saulo negociou meu pescoço com Frias: trataria de anular uma ação da Previdência contra o jornal (fazendo os advogados da União perderem o prazo), em troca do meu pescoço. Acontece que a seção Dinheiro Vivo era a mais lida do jornal. Como justificar minha demissão? 

A sugestão veio do economista Marcos “Imposto único” Cintra – editorialista do jornal. Sugeriu que o Datafolha fizesse uma pesquisa sobre o Dinheiro Vivo com gerentes e diretores da empresa. O resultado foi que a Dinheiro Vivo era a seção mais lida por aquele públicol: 

  • Use as informações, se precisar, disse-me ele. 

O terceiro episódio foi em uma reunião mensal de Frias com os editores. Desde que explodiu a guerra contra Saulo, fiquei meio maldito junto aos colegas que gostavam de sentir os ventos do que vinham do 6o andar. Frias queria uma reunião para recolher sugestões para o jornal. Pedro insistiu com ele para que me convidasse. De certo modo, monopolizei a reunião. 

Na saída do almoço, Pedro fez apenas um comentário: 

  • Foi ótima sua participação, para calar a boca de quem gosta de falar por trás. 

O último episódio foi miunha volta para a Folha, a convite de Frias Filho, com a coluna diária o caderno de Dinheiro. Depois, soube como se deu o convite. 

Pedro tinha reuniões diárias com Frias e passou a expressar opiniões sobre câmbio e juros, impressionando o chefe. 

  • Onde você tem lido isso, Pedro?, indagou Frias 
  • Na newsletter do Dinheiro Vivo, do Nassif. 

Pouco tempo depois, houve a ascensão de Luiz Frias na companhia e o afastamento de Pedro. 

Nunca mais tive contato com ele, mas ficou para sempre a lembrança de uma pessoa de caráter. 

LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)

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