O capítulo sobre os militares é definitivo para comprovar o envolvimento visceral das Forças Armadas com Bolsonaro, pelo menos desde 2014.
Estou lendo o excelente livro de Consuelo Dieguez, “O ovo da serpente”, a mais abrangente reportagem sobre a ascensão do bolsonarismo.
O capítulo sobre os militares é definitivo para comprovar o envolvimento visceral das Forças Armadas com Bolsonaro, pelo menos desde 2014. Apenas não contavam com o voluntarismo do candidato. Mas prepararam-se para um governo militar sim.
Há outros personagens centrais, sobre os quais escreverei futuramente.
Apenas duas correções, baseados na minha memória de fatos passados.
A primeira, o álibi de Carlos Andreazza de que, à frente da Editora Record, limitou-se a publicar obras de Olavo de Carvalho mas apenas do período em que ele era um instigante polemista, antes de se envolver na loucura da ultradireita.
Não é fato. Em parceria com a revista Veja, a Record foi peça essencial na disseminação da ultradireita. Foi a editora de “No País dos Petralhas”, de Reinaldo Azevedo, de “Lula, minha anta”, de Diego Mainardi, planejou os lançamentos de livros seguindo o ritual fascista. Só que, em vez de camisas pretas, os seguidores de Azevedo iam aos lançamentos com chapéus panamás.
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Em reportagem de 2016, em O Valor, contava-se:
Na entrevista em que foi formalizada sua contratação como editor de não ficção da Record, revelou a Sergio Machado (1948-2016) – então presidente do grupo – a intenção de explorar esse filão: escritores brasileiros de direita. “Ele era um liberal brigão e me disse: ‘Vai nessa’. Eu botei o bloco na rua”, conta Andreazza.
Vendeu 1 milhão de livros da da chamada “nova direita brasileira” entre 2012 e 2016, 20% da produção de não ficção da editora, até então com catálogo ocupado por uma maioria de autores estrangeiros mais identificados com o campo progressista.
A segunda correção é em relação ao Dossiê Cayman, cujo vazamento é atribuído ao Pastor Fábio, que seria ligado ao PT. Acompanhei de perto a cobertura porque, colunista da Folha, questionava seguidamente o autor dos “furos”, o jornalista Fernando Rodrigues, que trabalhava em estreita colaboração com Paulo Maluf e o senador Gilberto Miranda.
Amigo de Maluf, mas sem condições de apoiá-lo publicamente, devido ao posicionamento editorial da Folha, Frias incumbiu Rodrigues de dar vazão aos vazamentos de jogadas políticas de Maluf e Miranda. Foi assim no Dossiê Cayman, na CPI dos Precatórios e na guerra da Ambev no CADE.
Aliás, a conselho de Márcio Thomaz Bastos, Lula guardou distância do dossiê. Nem sequer mencionou-o.
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