BOLSONARO E A ” VÉSPERA DE PAGAMENTO”

CHARGE DE GILMAR

A maioria dos leitores – e eu também – já experimentou a diferença de sentimentos que temos em apenas uns poucos dias: aqueles em que está chegando o dia do pagamento e, logo depois, aqueles em que o salário já se foi.

Por isso, acho que as pesquisas – embora possa haver ainda alguma oscilação – já revelam, em boa parte, como têm, ao menos gora, os efeitos eleitorais do aumento do auxílio emergencial e dos vales que o governo começa a pagar esta semana.

A decupagem de dados da pesquisa Datafolha, publicada hoje pela Folha de S. Paulo, informando que Bolsonaro avança entre ‘vulneráveis’ de renda, e Lula reage entre ‘seguros’.

Imagine quem lê esta linhas se, colocado numa situação de ter, como renda familiar, menos de 2 salários mínimos e nenhuma segurança de que sequer esta renda terá no mês seguinte, pois não têm fontes fixas de ganhos. Em geral, nem mesmo tem uma relação de emprego. e, na maioria, depende do auxílio-emergencial, ou tem alguém na família que depende.

A imensa maioria dos que estão assim, é claro, já vivem a expectativa de receber o aumento de 200 reais ou, no caso de taxista e caminhoneiros, de mil reais de seus “vales”. É claro que estão à espera, e muito ansiosa, do que é a diferença entre ter ou não ter o que comer amanhã. E que, por isso, a avaliação do governo (e a intenção de voto) estejam, por estes dias, mais generosas com Jair Bolsonaro.

O que não significa que, assim que o dinheiro se esvair em contas atrasadas e compras minguadas, vão permanecer assim.

O Datafolha fez um interessante grupamento que leva em conta não apenas a renda, mas a garantia de que ela será auferida: vulneráveis (menos de 2 salários mínimos, sem garantia de renda, 35% dos eleitores); resilientes (mesma renda, mas estável, 20% do eleitorado), amparados (+ de 2SM, renda instável e 18% dos eleitores), seguros (2 a 5 SM, renda estável, 20% do total) e superseguros, (acima de 5 SM, renda estável e 8% dos eleitores).

Assim, numa simplificação, pode-se dizer que as variações provocadas pelo aumento do auxílio emergencial, concentradas entre vulneráveis e amparados, entre os quais estão quase todos os beneficiários, representaram uma perda de cerca de 2% para Lula no total da pesquisa, compensada (o total de suas intenções de voto não se alterou) pelo crescimento que teve em outros grupos.

Já Bolsonaro, naqueles grupos, ganha também 2 pontos sobre o eleitorado total mas, como perde nos demais, fica com uma alta residual de mero 1%, passando de 28 para 29%.

O que vale dizer que, sem este “golpe do auxílio”, Lula teria, já no primeiro turno, uma vantagem na ordem de 23 pontos, mais que suficiente, para além das margens de erro, para liquidar a eleição no primeiro turno.

O impacto desta “bóia eleitoral” de Bolsonaro vai aumentar ou diminuir ao logo do tempo, depois de recebido o aumento no auxílio e não, como agora, na expectativa de receber?

Imprevisível mas, com a metáfora (ou nem tanto) com que comecei o texto, acho que a véspera do pagamento é mais alegre que olhar o que sobrou (quando sobrou), 15 dias depois.

FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *