Levei a ideia para o primeiro presidente da Apex, um diplomata do Itamaraty. Um mês depois voltei lá, e ele me mostrou uma grande sacada dele: o meu projeto. Nem chegou a entrar em contato com o BB.
Sempre acreditei no jornalismo como um farol da sociedade, trazendo novas ideias e, através das informações, estimulando e coordenando a organização da sociedade.
Em 1975 ajudei a montar um jornal em Poços de Caldas, o Jornal da Mantiqueira. Já trabalhava em São Paulo. No início, o jornal era semanal. Trabalhava até madrugada de 6a no fechamento da Veja, depois pegava o Cometa e seguia para Poços. No primeiro mês, tirei férias e aproveitei para estreitar as relações com a cidade.
Naquela época surgiram as primeiras máquinas de tricotar. Minha mãe era boa tricoteira. Ganhou numa máquina, acho que da marca Singer, e minhas irmãs passaram a ajudá-la no trabalho.
Imaginei, então, um sistema que permitisse integrar as tricoteiras e rendeiras de Poços. Primeiro, a Secretaria Municipal de Turismo faria um levantamento das melhores de cada área, dos pontos mais criativos de tricô e crochê. Depois, intermediaria a compra de máquinas por elas. Cada qual receberia o modelo a ser tricotado. De sua parte, além de garantir o financiamento das máquinas, a Secretaria coordenaria a produção, criaria uma marca Poços de Caldas e trataria de planejar a venda da produção.
Levei a proposta ao então Secretário de Turismo, Rafael Acconcia. Sua reação foi de absoluto temor, como se eu estivesse jogando uma bomba nas suas mãos.
Não saiu nada de Poços. Alguns anos depois, várias cidades conseguiram montar seus arranjos produtivos e fixar a marca da produção.
Especialmente a partir dos anos 90, quando o país começou a sair da pesada centralização do período militar, os primeiros anos foram extremamente profícuos, com os diversos setores da economia muito abertos para as novas ideias.
O primeiro insight me foi passado por Antonio Maciel, na época um jovem funcionário público, concursado da Petrobras, mas trabalhando no governo Collor. Foi ele que me chamou a atenção para o novo fenômeno que surgia, os programas de qualidade e competitividade, com o Sebrae sendo remodelado para levar essas informações ao público das PMEs (Pequenas e Micro Empresas).
De imediato, tornei-me um ardoroso propagador dos programas de qualidade.
Simultaneamente, foi lançada a Câmara Setorial da Indústria Automobilística, liderado por Dorothea Werneck e juntando desde a indústria automobilística e seus fornecedores às centrais sindicais. O lema era claro: a competição é com os veículos de fora.
A ideia da cooperação, da integração, da coordenação de setores era incrivelmente mais eficaz – como agente transformador – do que o individualismo feroz propagado pelos profetas do mercado, dos quais o mais ideológico era o jovem Paulo Guedes.
Fui o primeiro a levantar a bandeira dos Arranjos Produtivos Locais, depois de um almoço na Folha com um Ex-Ministro italiano que falou das transformações na Nova Itália. Em crise, pequenas empresas se organizaram em arranjos produtivos, em parceria com as prefeituras locais, criavam estímulos a fornecedores, trocavam experiências de design. Dizia o ministro: só depois que os resultados começaram a aparecer vieram os economistas, fizeram uma mudança cambial e atribuíram a recuperação à política econômica.
Publiquei os primeiros artigos. Com a repercussão recebi alguns estudo sobre o tema, mas que permaneciam sem divulgação no país.
Antes disso, a bandeira principal era convencer as empresas pequenas e médias, em palestras sucessivas, da importância de terceirizar serviços não essenciais, como refeitório, condução dos funcionários. Explicava que o insumo mais escasso era gestão. Daí o desperdício de alocar parte da gestão em setores não essenciais das empresas.
Pouco depois, o Ministro Chefe da Casa Civil, Clóvis Carvalho me ligou pedindo dicas sobre o modelo italiano. Estavam montando uma comissão de governo para ir à Itália atrás das novas ideias.
Durante bom tempo palestrei em diversas cidades do país, vendendo a ideia dos APLs.
Outras possibilidades apareceram com o advento da Internet. Na época, a Apex (Agência de Promoção de Exportações) ainda estava em formação. Com a balança comercial afetada pela apreciação irresponsável do câmbio, as crises cambiais já eram o desastre anunciado. Levei ao Ministério do Desenvolvimento a ideia de aproveitar as estruturas públicas nacionais – especialmente Banco do Brasil e Correios – para montar um amplo programa de estímulo às exportações de pequenas e médias empresas.
Havia todos os ingredientes à mão. Os gerentes do BB conheciam como a palma da mão a realidade econômica da sua região. Poderiam identificar as empresas por grupos de produto. Os Correios eram os grandes agentes de distribuição de produtos. Juntando as duas pontas, se poderia ter um programa de estímulo às exportações de pequenas empresas. A FedEx, americana, já trabalhava nesse nicho.
Depois, o BB trataria de montar um portal na Internet, com as Salas do Exportador – atendimento online por parte do próprio BB, Receita, BNDES e da própria Apex, ainda em construção.
Percebi, desde então, que os únicos programas que paravam de pé eram aqueles conduzidos por empresas públicas, mais organizadas, mais empresariais e com continuidade de gestão.
Levei a ideia para o primeiro presidente da Apex, um diplomata do Itamaraty. Um mês depois voltei lá, e ele me mostrou uma grande sacada dele: o meu projeto. Nem chegou a entrar em contato com o BB.
Decidi tocar por conta própria a ideia. Cheguei a montar um site, o Portal Exporta Brasil, tentando juntar as pontas. A ideia não prosperou.
Tempos depois, fui visitar o novo Ministro do Desenvolvimento e Comércio Exterior, Sérgio Amaral, que me apresentou seus projetos e sua meninas dos olhos, um portal para exportadores de nome Exporta Brasil:
– E veja que coincidência. Fomos registrar o domínio e estava em seu nome.
Em Brasilia nada se cria, tudo se copia.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)