A PADROEIRA LUSA DE DÍLI ABENÇOA TIMOR

  • O idioma sagrado do Islã é o árabe – no qual foi revelado ao Profeta Mohamed os preceitos do Alcorão. O livro deve ser estudado pelos muçulmanos, exclusivamente, na língua semítica originária da Península Arábica, que, por sua vez, é, também, o vernáculo das orações realizadas nas mesquitas de todo o planeta. Mas, curiosamente, apenas um dos cinco mais populosos países de maioria maometana tem como idioma oficial o árabe. Precisamente o quinto colocado, o Egito, com um total de 103 milhões de habitantes – nos quais 80 por cento são muçulmanos e cerca de 20 por cento, cristãos, majoritariamente coptas ortodoxos.
  • O primeiro é a Indonésia, com 202 milhões, seguida do Paquistão, 174 milhões, Índia, 161 milhões, e Bangladesh, 145 milhões. No imenso arquipélago indonésio, porém, se encontra um histórico enclave lusitano, o pequeno Timor Português, atual Timor Leste, única das 107.509 ilhas que se mantém Católica e independente – com a proteção da venerável Nossa Senhora de Díli, inspirada na imagem da Padroeira de Portugal, Nossa Senhora da Imaculada Conceição. O monumento foi construído pelo Patriarcado de Lisboa, em 1954, no centro de um precioso jardim, no Largo de Lecidere, em Díli, a capital do país, próximo ao Palácio do Governo.
  • Foi inaugurado em 1956, e, era justamente ali, diante de Nossa Senhora, que os timorenses se manifestavam, entre 1976 e 1999, contra a ocupação pelo regime de Jacarta. Timor Leste caiu sob o jugo indonésio duas semanas após receber, em dezembro de 1975, a independência de Portugal.       O país, com 1,3 milhão de habitantes, representa um dos mais importantes e queridos pilares da Lusofonia na Ásia. Exatamente como Goa, Diu e Damão, na Índia. Ou como a emblemática Macau, na China, reintegrada a Pequim no fim do Milênio passado. Ou ainda como a lusitaníssima Malaca, na Malásia, onde fala-se o kristang – oriundo do português com vocábulos dos dialetos locais. E, por que não, a japonesa Nagasaki, cidade fundada, no século XVI, pelos valorosos sacerdotes da Companhia de Jesus enviados ao Japão a serviço da Coroa de Lisboa.
  • A relevância de Timor Leste no universo lusófono pode ser constatada pelo prestigioso Prêmio Nobel – destinado somente a quatro personalidades de língua portuguesa. Nenhum deles é brasileiro. Dois são portugueses – o neurocirurgião António Egas Moniz (1874 – 1955), ganhador, em 1949, do Nobel de Medicina, e o escritor José Saramago (1922 – 2010), vencedor do Nobel de Literatura de 1998. Os outros dois são timorenses e foram contemplados em 1996 com o Nobel da Paz. Ambos ativistas pela soberania do Timor Leste: o esquerdista José Ramos Horta, 72 anos, então combativo líder do FRETILIN (Frente Revolucionária de Timor Leste Independente), que recebera o poder dos portugueses, e o Arcebispo de Díli, Dom Carlos Filipe Ximenes Belo, 74 anos. Nascido de mãe timorense e pai português,
  • Ramos Horta seria eleito presidente em 2007 – cumprindo mandato até 2012. Já o religioso, de formação salesiana, foi, inicialmente, nomeado Administrador Apostólico da Santa Sé no Timor Leste. Respondendo, entretanto, diretamente ao Papa João Paulo II (1920 – 2005) devido a repressão na Indonésia ao catolicismo.   Anualmente, no dia 13 de outubro, desde 1999, é celebrada uma Missa, em Díli, perante o monumento de Nossa Senhora, e, logo depois, partem várias procissões com a imagem da Imaculada Conceição percorrendo quase toda a ilha. Os timorenses se orgulham, com razão, de serem poucos, mas altivos católicos num arquipélago onde imperam as leis corânicas.    


ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)

Albino Castro é jornalista e historiador

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