“Musk veio ao Brasil dizer a Bolsonaro para que siga em frente. Pode ter dito apenas: entregue-me a Amazônia e nós estaremos juntos”, escreve Moisés Mendes
Bolsonaro foi a Moscou para conversar com Vladimir Putin, e Elon Musk veio a Brasília conversar com Bolsonaro. Um sujeito a caminho da morte política consegue ser interlocutor de duas figuras associadas a todo tipo de farsa, mentira, guerra e morte.
Musk pode ter dito a Bolsonaro o que ele já ouvira de Putin: vá em frente porque nós daremos um jeito e você pode sobreviver a tudo, porque é impossível não vencer as investidas de Alexandre de Moraes.
Musk e Putin apostam em Bolsonaro como uma figura a ser preservada no mundo que eles consideram ideal. Os três têm muito mais coisas em comum do que parece.
No essencial, têm a marca da gambiarra. Putin, ainda associado por parte das esquerdas ao comunismo que barra a voracidade do capitalismo, dá sobrevida à ideia de que existe um contraponto bélico aos Estados Unidos.
Mas Putin é antes o chefe das máfias de um país caindo aos pedaços. Não é e nunca foi comunista e talvez não tenha forças para sobreviver por muito tempo, militar e politicamente.
Mas um pedaço da esquerda vê em Putin coisas que Bolsonaro vê de outro jeito, como se esquerda e extrema direita estivessem diante de um caleidoscópio.
Não é a necessidade de caminhar para o tal mundo multipolar que legitima Putin, nem mesmo como caçador de nazistas, ou não deveria ser. Porque Putin é apenas uma gambiarra.
Musk, apresentado como modelo de empreendedor do século 21, por ter investido no carro elétrico, prolonga a vida do automóvel como o bem máximo do egoísmo e da irracionalidade.
Não há solução alguma para a humanidade em seu carro elétrico, que apenas ajuda a adiar investimentos que nos livrem dos combustíveis fósseis, das baterias e do transporte individual.
Para Musk, a salvação da humanidade não estaria na Terra, mas em Marte. Mas só os muito ingênuos acreditam que esse seja de fato o sonho dele.
O que Musk quer é transformar o projeto Marte apenas em negócio. Não para chegar a Marte, mas para ficar trilionário vendendo a ideia de que é possível morar em Marte. Musk também é uma gambiarra, agora quase com a mão no Twitter.
E Bolsonaro, que encontrou sua turma como bobo do grupo, é o mais precário, o mais cruel, o mais imbecil político gerado por uma democracia. Não nasce como ditador, mas germina pelo voto dentro da casca chocada por um povo, como expressão do que esse povo é.
Bolsonaro não é, como se viu até o século 20, o líder farsante que forças coletivas levam ao poder porque erraram. Bolsonaro é o ‘acerto’ proposital de um país incapaz de controlar sua índole e que só agora talvez consiga se livrar da criatura.
Bolsonaro é um improviso, com suporte militar, a serviço de quem ainda teme comunismo, Lula, PT, ascensão de classes sociais, ProUni, Bolsa Família e famílias da classe C em aeroportos. Por isso Bolsonaro, sabe-se há muito tempo, também é uma gambiarra.
Putin e Musk não são o que parecem ser para muita gente que sabe que eles não são o que elas queriam que fossem. Bolsonaro é o chinelão do grupo, o cara da periferia que deve ser mantido no poder porque sua permanência dá suporte ao projeto dos grandes tiranos, considerando inclusive a volta de Trump.
A convergência de interesses de Musk, Putin e Bolsonaro reúne três dos envolvidos com as forças mais abjetas do momento. São expressões da mentira, da crueldade, do ódio, da guerra, de sabotagens ao bom senso e da morte.
Musk veio ao Brasil dizer a Bolsonaro para que siga em frente. Pode ter dito apenas: entregue-me a Amazônia e nós estaremos juntos. E esta frase, sem maiores detalhamentos, basta para que as mensagens e as conexões sejam reforçadas e ampliadas.
Musk nem precisa dizer a Bolsonaro que estará a serviço de todos os fascistas do mundo, com ou sem o Twitter, com ou sem a gestão total da Amazônia e das suas riquezas. Apenas estará.
Basta que tenha vindo visitar Bolsonaro. Até Carluxo é capaz de entender o que isso significa.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)