Lendo os diálogos entre Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot, lembrei-me do episódio e imaginei a seguinte conversa de alto nível, aliás do nível daquela revelada pela Folha.
Anos atrás, em um almoço, Paulo Cunha, presidente do grupo Ultra, desabafou comigo. Tinha ido a Nova York, no escritório de um banco de investimentos. Na saída, pegou o elevador com jovens yuppies celebrando:
– Amanhã vamos detonar o México!
Milhares de pessoas sendo afetadas, famílias sendo destruídas por uma crise cambial e os jovens yuppies celebrando o poder que lhes foi conferido.
Lendo os diálogos entre Deltan Dallagnol e Rodrigo Janot, lembrei-me do episódio e imaginei a seguinte conversa de alto nível, aliás do nível daquela revelada pela Folha.
– Rodrigo, hoje vamos detonar a Odebrecht. Kkkk
– Boa, Deltan. Quantos empregos serão liqüidados?
– Na tacada de hoje, uns 50 mil. Kkkk
– Muito bom. Kkkkk.
– As próximas serão a Camargo e a Andrade. Quero ver eles aguentarem choradeira dia e noite de empregados demitidos.
– Vai abrir um bom mercado de palestras para nós. Vamos ensinar esses empreiteiros atrasados que, sem uma consultoria de compliance, vão quebrar mesmo.
– E vamos preparar um curso de empreendedorismo para os demitidos, bancado pela XP. O que acha?
– Você é um empreendedor nato, Deltan. Kkkkk
– Seria o caso de levar o Carlos Fernando com a gente? Ele já está montando seu escritório para compliance.
– Belo amigo, você. Kkkkk. Meu escritório está quase pronto e não quero competidores. A propósito, como está indo o acordo com o DoJ? Eles estão cumprindo o combinado?
– Claro, Rodrigo. Os americanos têm palavra, não são que nem os brasileiros. Kkkk. Já estou abrindo minha empresa, em nome da minha mulher. A Rosângela Moro já abriu o dela junto com o Zucolotto. Vai ter trabalho para todo mundo depois que a fundação colocar a mão na bufunfa.
– Bufunfa?! Você usa essa expressão nos cultos?
– Kkkkkk. Nos cultos, sou culto.
– Não esqueça de incluir minha filha nessa. Com 27 anos ela já representou essas empreiteiras no CADE.
– Menina precoce, heim Rodrigo. Kkkkkk
– Outro dia, um assessor meu, ligado a direitos humanos, veio me perguntar se não havia jeito de preservar as empresas e os empregos. Eu disse que não. Vamos atribuir todo o desemprego à corrupção e usar como marketing para nossas próximas palestras. Vamos dizer que eles quebraram porque demoraram em aceitar nossas condições. Vai reforçar ainda mais nosso discurso.
– Aproveite e fale para o corregedor parar de me perturbar com essas investigações sobre palestras pagas. enão vou delatar o chefe dele Kkkk
– Não se preocupe, Deltan. Ele é bola nossa.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)