Bolsonaro nunca errará o nome de Walter Souza Braga Netto, como fez com Hamilton Mourão um dia depois do primeiro turno de 2018.
Ao vivo, no Jornal Nacional, Bolsonaro disse que exigiria obediência do seu vice, se fosse eleito, e o chamou de Augusto Mourão.
Bolsonaro pouco sabia de Mourão e fazia questão de dizer que não sabia quase nada, porque o vice havia sido imposto pelos generais que o tutelavam.
Mas hoje ele sabe o nome, a data de nascimento, o time do coração, a caneta preferida, sabe até a hora de dormir e acordar de Braga Netto.
Mourão disse um mês antes da eleição de 2018 que, se estivesse sob aperto, já no governo, Bolsonaro poderia aplicar um autogolpe para se fortalecer.
Como retribuição, naquela entrevista ao vivo para o JN, Bolsonaro decidiu dizer que era um capitão (na verdade, um tenente) que mandaria no general. E, para completar, transmitiu desprezo pelo nome do vice.
Com a quase certa escolha de Braga Netto para o lugar que foi de Mourão, Bolsonaro pode estar dizendo agora que a tese de quatro anos atrás é interessante. Mas não como autogolpe.
Bolsonaro puxa Braga Netto para a sua trincheira, onde existem todas as armas possíveis, algumas encobertas, outras com um pedaço de fora e muitas bem expostas.
O novo vice não é, por ser general, mais um Hamilton Mourão. É um militar encharcado de política, de poder e de ambições. Revelou-se, até como surpresa, como o general mais apto aos embates do bolsonarismo.
Mourão é de outro departamento. Foi depreciado por Bolsonaro ao ser empurrado para a gestão do faroeste da Amazônia e esteve por perto do chefe como uma sombra, mesmo que nunca ameaçadora.
O movimento que, também como imposição da tutela fardada, afasta Mourão e puxa Braga Netto para o palco principal envolve riscos de bom tamanho.
O general passa a ser mais do que o parceiro e ajudante, será o avalista de todas as atitudes de Bolsonaro no campo aberto e minado de uma campanha.
As circunstâncias não são as mesmas de 2018. Bolsonaro construiu com método o discurso do golpe. Retomou os ataques ao Supremo, reforçou a aposta na fidelização da sua base e avisa que os militares profissionalmente politizados estão com ele.
Sabemos das previsões preocupantes sobre o que pode acontecer sob as ordens de Bolsonaro até outubro, desde a esculhambação não só da urna eletrônica, mas de toda a eleição.
O plano pode se materializar antes e durante a votação, se a disputa for dada como perdida, e depois por tentativas de sabotagem do processo de apuração, se a derrota se confirmar.
Braga Netto estará ao lado e Bolsonaro como suporte militar do que eles esperam que seja uma vitória. Será também o fiador do que poderá vir a ser a deterioração da democracia durante e depois da eleição?
Braga Netto está sendo puxado para o cercado do Alvorada e para a turma do Telegram, com exposição permanente até a eleição. Vai para a briga de rua de uma disputa política que promete ser cruel.
Se Bolsonaro vencer ou se perder, as Forças Armadas poderão ter, mesmo que com um general da reserva, protagonismo eleitoral em situação inédita e imprevisível em tempos de democracia.
Braga Netto de vice é o caminho do não-retorno, se o general e o contingente militar que representa decidirem ir, a qualquer custo, com Bolsonaro até o fim.
MOISÉS MENDES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)