Em breve essa bolha estourará e sairá definitivamente de cena. Só aí a mídia e o mercado se darão conta de que foi a maior pirâmide da história.
Nos últimos dias, a mídia corporativa foi invadida por reportagens laudatórias sobre as moedas digitais. Seria o caminho para a democracia total, a saída para os problemas cambiais. Em muitos casos, parecia uma reedição de drogas milagrosas, como o ipê roxo – apresentado, décadas atrás, como droga milagrosa para lumbago, dor de dente, cura do câncer.
Blockchain virou pop | UOL Notícias
Blockchain, criptomoedas e o avanço das transações virtuais – Jornal O Globo
Criptoverso: metrópoles de todo o mundo se abrem para o blockchain – Jornal O Globo
Não entre nesse jogo! Estão vendendo como investimento seguro uma bomba que estourará a qualquer momento.
Essas moedas nasceram a partir de uma tecnologia segura, o blockchain, que permite a cada pessoa ter uma chave individual da sua conta. A partir dela, os espertalhões resolveram criar uma moeda. A pioneira foi o bitcoin. Para emular o ouro, inventou-se uma “mineração”, a criação de moeda a partir do uso de computadores com uso intensivo de energia elétrica. Cada grupo define uma quantidade máxima de moedas deixando por conta de pessoas “minerar” a moeda, com um custo alto de energia.
Depois, dispondo da segurança do blockchain, os investidores vendem ou compram moedas digitais, que são cotadas diariamente.
A partir daí, vendem vento. Garantem que o investimento é seguro, por não estar sujeito às políticas monetárias de cada governo nacional. Se tem uma quantidade fixa de moedas, estariam imunes à inflação. Além disso, estaria a salvo dos controles da Receita e dos bancos centrais.
As criptomoedas são filhas diretas do excesso de liquidez que invadiu a economia global, e que se ampliou após a crise de 2008. O dinheiro salta de um mercado para outro, criando bolhas. Encontraram o ambiente ideal nas criptomoedas, porque não há limites para a criação de novas moedas e novas bolhas.
Faz parte desse jogo os NFTs, que são a representação de um bem – que pode ser até uma imagem em JPEG -, armazenada em um token pela tecnologia blockchain. Nem no auge das bolhas pós década de 70 se viu algo tão inusitado. Desenhos de um macaco de gorro laranja, o CryptoPunk oram vendidos por US$ 5,59 milhões.
A revista Exame levantou os 10 NFTs mais caros de 2021. Alguns exemplos:
10 – CryptoPunk #5217 — US$ 5,59 milhões
9 – Ocean Front (Beeple) – US$ 6 milhões
4 – CryptoPunk #7523 – US$ 11,75 milhões
As contraindicações são tão amplas que causa espécie o endosso de bancos, corretoras e jornais.
Primeiro, por não ter a segurança da renda fixa, como era apregoado. Os preços das moedas digitais guardam relação direta com a liquidez da economia. São afetados pelas taxas de juros do FED, do Banco Central Europeu, pelas crises internacionais.
Pior. Como não são submetidas a nenhuma forma de regulação, nem à supervisão de bancos centrais, ficam sujeitas a movimentos radicais de valorização e depreciação. No início do ano, o bitcoin – a mais conhecida das moedas digitais – caiu 38% em relação à máxima histórica, registrada apenas três meses antes.
O segundo ponto, é seu uso para lavagem de dinheiro e pelo narcotráfico – o que sujeita qualquer moedas a intervenções de polícias nacionais e internacionais.
O terceiro ponto é a facilidade com que se criam pirâmides financeiras.
Tome-se o caso da BlockFi Lending LLC. Durante 18 meses, operou como uma empresa de investimento não registrada, oferecendo a seus clientes um rendimento anual de até 9,25%, Em dezembro de 2021, administrada uma carteira de US$ 10,4 bilhões, em ativos de mais de 572 mil investidores, 391 mil dos Estados Unidos.
Foi autuada pela SEC (a CVM americana) em US$ 100 milhões por empréstimos irregulares em criptomoedas.
Na semana passada, Ilya Lichtenstein, 34 anos, e Heather Morgan, 31 anos, foram presos em Nova York, acusados de lavar um recorde de US$ 4,5 bilhões em criptomoedas roubadas.
Em junho de 2020, Heather Morgan escreveu uma coluna para a Forbes intitulada “Dicas de compartilhamento de especialistas para proteger seus negócios dos cibercriminosos”.
As extravagâncias dos novos ricos não têm limites.
Anthony Welch, investidor imobiliário, comprou uma ilha de 3 milhões de m2 e está oferecendo imóveis para 21 mil investidores de criptomoedas, com o objetivo de criar uma “utopia para criptomoedas”. Segundo ele, todos os pagamentos da ilha serão feitos em criptomoedas permitindo criar uma “democracia baseada na blockchain” – a mesma estultice estampada em reportagens de jornais brasileiros das últimas semanas.
Em breve essa bolha estourará e sairá definitivamente de cena. Só aí a mídia e o mercado se darão conta de que foi a maior pirâmide da história.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)