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Intelectuais, artistas, jornalistas e políticos reagem ao artigo de Antonio Risério, na Folha, denunciando o racismo de negros contra brancos
Racismo reverso não existe. Mas Folha de S. Paulo conseguiu transformar a tese do racismo de negros contra brancos em um dos assuntos mais comentados nas redes sociais desde domingo (16), quando publicou o artigo do poeta Antônio Risério, afirmando que o racismo reverso está em alta graças ao identitarismo do movimento negro.
Intelectuais, advogados, políticos, jornalistas, artistas, brancos e negros, reagiram ao artigo e criticaram o jornal pelo espaço dado à teoria fantasiosa.
A deputada federal Talíria Petrone (PSOL) foi uma das vozes mais contundentes na defesa do movimento negro. “O artigo na @folha sobre um suposto ‘racismo reverso’ causado pelo ‘identitarismo’ é absurdo! No Brasil da falsa abolição, que ataca corpos negros e indígenas, esse tipo de matéria endossa a supremacia branca”, disparou.
“Falar de racismo reverso em pleno 2022 é desonestidade intelectual, uma aberração histórica, um desserviço para a luta antiracista!”, acrescentou a deputada estadual do PSOL, Renata Souza, do Rio.
A antropóloga e advogada feminista Debora Diniz também achou o artigo um desserviço da Folha. “Racismo é mais do que afetos negativos: é ter o poder para usar o afeto como poder de destruição. Por isso, não há racismo reverso. Artigo desnecessário da Folha: só para criar controvérsia, intrigas e múltiplas réplicas.”
Um dos intelectuais negros mais respeitados na academia, o professor Silvio Almeida teceu comentários sobre o artigo e rebateu internautas que o cobraram por também ser colunista da Folha. “Tem gente que acha que racismo é performance e não relação de poder”, apontou.
Para Almeida, o texto de Risério integra a lista de “artigos de arruaceiros, nulidades e oportunistas que têm assento na grande imprensa”.
“Particularmente, não vou gastar meu tempo e nem minha coluna para lidar com esse tipo de gangsterismo intelectual”, disparou Almeida. “Há polêmicas sérias sobre racismo, há uma situação geopolítica que demanda nossa atenção; há um disputa sobre a identidade nacional que vai se intensificar com o bicentenário da Independência, os 100 anos da semana de arte moderna; pandemia, copa do mundo e eleições cruciais para o destino do país. Muitos livros básicos dementem tudo o que estes articulistas têm escrito, de tal sorte que com eles não se deve gastar energia”, respondeu Silvio Almeida.
Para ele, a Folha, ao abrigar essa “baderna mental”, tenta parecer um espaço plural e democrático, mas se assemelha “a arenas, e na pior, becos de lutas clandestina e sem regras.”
O professor e advogado Thiago Amparo, referência para o movimento negro, avaliou o artigo como “desonestidade intelectual”: “Não existe racismo reverso. Racismo é sistema de poder – econômico, jurídico, midiático, social, físico – fundado na ideia de que não somos humanos. Nunca houve no Brasil negros com poder oprimindo brancos. Afirmar o contrário, com anedotas, é desonesto na medida em que é cruel.”
A cantora e compositora Tereza Cristina se manifestou lembrando que o artigo de Risério faz parte de um contexto político-eleitoral maior: “Polêmica é passas no arroz, maçã na maionese. Um homem branco puxar uma discussão sobre racismo reverso num ano em que renegociaremos as cotas é de uma canalhice sem tamanho. E racista. Tem que gritar, sim.”
A cantora Zelia Duncan também criticou a Folha: “Dar voz ao desserviço, ao que questiona uma luta fundamental e urgente como a luta contra o racismo é ,no mínimo, irresponsável e cínico. Racismo reverso não existe!”
A jornalista Carol Pires explicou que “racismo é violência sistemática e institucionalizada. Se uma pessoa ou um grupo não têm poder sobre você institucionalmente, eles não definem os termos da sua existência. Portanto, racismo reverso não existe.”
Cecilia Olliveira, jornalista do El Pais, compartilhou um vídeo que praticamente desenha para os brancos por que o racismo reverso não existe:
Reação da direita
Já Sérgio Camargo, o presidente da Fundação Palmares que sapateia em cima da biografia de grandes negros e negras da história brasileira, endossou a tese do racismo reverso. “Não existe lei que defina racismo reverso. A expressão beneficia pretos racistas, garantindo a impunidade. Existe somente o racismo; a cor do racista não importa.”
O cineasta que dirigiu um filme propagando as ideias de Olavo de Carvalho, José Teófilo, também concordou com o sentimento expressado no artigo da Folha: “Não é racismo reverso, é apenas racismo – qualquer um pode ser racista.”
CÌNTIA ALVES ” JORNAL GGN” ( BRASIL)