Dois dias depois de partilhar o controle das decisões econômicas do Governo, usurpando do Ministério da Economia o poder de manejar as verbas orçamentárias da União, o chefe do Centrão no governo Ciro Nogueira, oferece, em artigo publicado em O Globo, a braçada de flores necessária a ornar o caixão de Paulo Guedes: um longo rosário de “feitos” econômicos do governo Bolsonaro, que faria um visitante que estivesse voltando ao país depois de três anos, a impressão que nossa economia vai às mil maravilhas.
Isso nos coloca a questão central da eleição: qual será o dia seguinte? O dia seguinte de um governo que continuará com a compreensão correta de que não podemos ter um Estado inchado, com estatais que funcionam para seus comissários e não para a população? De um governo que fez o maior programa assistencial da História do país (13 anos do Bolsa Família em apenas um… aceitem, que dói menos) sem aumentar o endividamento?
Um governo que diminuiu a taxa de juros e praticou a menor de todos os tempos da História recente do país? Que aumentou o acesso ao sistema financeiro por meio das fintechs e dos bancos digitais? Que criou um mecanismo como o Pix e transferiu renda diretamente, na veia, para o usuário, o povão, que deixou de pagar altas tarifas bancárias? Um governo que mais do que duplicou o valor do antigo Bolsa Família, agora Auxílio Brasil? Tudo isso sem pedaladas fiscais, sem uso das estatais para cargos políticos?
O dia seguinte a que se refere Nogueira é, claro, o que ele supõe ser o “cometa do PT”, que nos levaria a “uma guinada para a Venezuela, para a Argentina ou para a Bolívia” e – socorro!!! – “ao tempo da CLT, de quase um século atrás”.
Mal escrito, talvez por um assessor de poucas luzes – o artigo é um primor de cartão de agradecimento a Bolsonaro pelo cofre recebido e, como não será lido pelos eleitores do Piauí, com custo político zero pelas sandices que contém, ao esmerar-se em “catar” conceitos estúpidos do chefe e associá-los ao “Não olhe par cima”, filme da Netflix que satiriza negacionistas como ele.
E ainda ameaça: “Bolsonaro já provou que tem um forte apoio no Congresso. A propósito, o PT teria?”
Terá, e inclusive do Centrão que Ciro lidera, como teve, dele próprio, até que a grossa camada fisiológica do Congresso resolveu se lançar a ventura de um titã da República como Eduardo Cunha e levar ao poder um “estadista” como Michel Temer.
Ao ministro-senador, que ainda tem quase cinco anos no Senado, mandaria o bom-senso não queimar os navios, mesmo tendo os pés no governo Bolsonaro.
Do contrário, apesar de toda a sua esperteza, é capaz de que o meteoro caia sobre sua cabeça, no dia seguinte.
FERNANDO BRITO ” BLOG TIJOLAÇO” ( BRASIL)