A política mais importante de 2022 é a retirada de Bolsonaro. Como isso só vai se concretizar em termos de Poder em janeiro de 2023, ele oferece perigo.
Não é porque fala insanidades todos os dias, que não ofereça risco para o Brasil. Enquanto estiver na cadeira, é perigo.
Estamos diante de um cenário complexo, nunca ocorrido antes.
Diante da hecatombe Bolsonaro, que não fez nada além do que apontava na campanha, a pergunta que cabe é: como 57 milhões de brasileiros votaram em Bolsonaro. Tal pecado, não cometi, graças a Deus.
Mas, foram muitos brasileiros. A resposta nunca é única, há três motivos que se destacam na curva ABC:
1- Aversão ao PT, o maior. 2- Cansaço com o ‘politicamente correto” exagerado e imposto. 3- A miragem que Paulo Guedes produziu com uma suposta agenda liberal.
A aversão ao PT, Bolsonaro em sua saga destrutiva, está transformando o PT em alternativa. Ou seja, Bolsonaro transformou aversão em atração. A vida é complexa e cheia de surpresas. Bolsonaro é o maior cabo eleitoral de Lula.
O cansaço com o “politicamente correto”, Bolsonaro transformou em nada, com a bobagem do “marxismo cultural”. Não entro no mérito da questão, e sim no que Bolsonaro fez com isso, com a sua insensibilidade e falta de luz intelectual, ele está insuflando só sua franja de 20% a ser irracionalmente agressiva, e isso não vai acabar bem. As pessoas estão a demandar, atenção, solidariedade e compaixão.
Paulo Guedes foi de Posto Ipiranga à loja de conveniência, e, agora faliu. Apesar dos comentários acomodatícios da sua equipe sobre o “capitis diminutio” no Orçamento, porque querem se manter lá de qualquer jeito. Perdem a ideologia, mas não saem da cadeira.
Muita gente utilizou Guedes como escudo para votar em Bolsonaro, driblando a incapacidade dele, explícita. Parte está em penitência, parte é cara de pau suficiente para fingir que esqueceu, e escreve artigos contra a política econômica atual.
Bolsonaro foi um tsunami que passou em nossas vidas e que precisamos esperar o desastre sumir em 2023.
Paulo Guedes, sem coragem para manter, pelo menos, a dignidade da renúncia, transforma-se num auxiliar administrativo do ministério da Economia. De Czar a auxiliar. Tristes trópicos, o Paraíso Terrestre imaginado pelos navegantes pioneiros, virou um Inferno abaixo do equador.
Mas, por que a nossa sociedade não consegue outra opção a não ser a polarização política Bolsonaro x Lula.?
Talvez, por ter erradicado a moderação, a solidariedade, a compaixão, que hoje são demandas, e de forma suicida, como atestam as redes sociais. A única coisa que não cabe lá, é ponderação.
Aceitamos transformar a curva normal, que concentrava no centro moderado, a maioria do eleitorado, e a invertemos para uma curva em U, onde os extremos ganharam dimensão e o centro se encolheu. Também somos culpados, mesmo os que não votaram em Bolsonaro, por permitir tal trajetória.
Esse ponto é importante para reflexão, todos nós estamos incluídos nisso por omissão ou por ação. Não é fruto só de uma minoria insana. A culpa nunca é bem recebida, e as pessoas, com esta cultura estabelecida, o “olavismo cultural”, reagem agressivamente a qualquer oposição de ideias. O outro é sempre uma imbecil, um idiota. E muita gente boa, entrou nessa. Ninguém pode criticar mais nada.
Que é a expressão da indústria da indigência mental.
Apesar de estaramos incluídos na culpa, Bolsonaro e sua turma foram os expoentes maiores. Precisam ser ejetados pelas urnas.
Porém, ai porém, como diria Paulinho da Viola, não podemos voltar ao que a fotografia de Cesare Battisti, um criminoso confesso, mostra, um conjunto de deputados de esquerda confraternizando com ele. Incluindo o doce Suplicy. Sem esquecer que Barroso, hoje um porta-voz do bom senso, o ter defendido, e isso lhe encaminhar ao STF.
Voltar a isso, é incorrer em outra enchente que vai nos desabrigar e desperdiçar, mais uma vez, o potencial que o Brasil tem de ser o pais, que cresceu entre 50-80, só que agora com a imprescindível diminuição da desigualdade, que não ocorreu nesses anos dourados de crescimento.
Depois, do tsunami Bolsonaro, só a eliminação da extrema pobreza deveria ser nossa meta principal. Que dá para fazer, sem precisar aumentar a trajetória da dívida par algo inconsequente.
Aliás, a Argentina, que acabou com a sua moeda há anos, e vive num populismo irresponsável, inclusive no governo de direita de Macri, está aí para mostrar o caminho que NÃO devemos seguir.
Nós temos condições de eliminar a pobreza sem populismo irresponsável. Com a realocação do orçamento que há, e com meta fiscal crível.
JOSÉ LUIZ PORTELLA ” SIDE DO UOL” ( BRASIL)