Quando se filiou ao Podemos, em novembro, a expectativa dos apoiadores era de que Sergio Moro iria arrasar como presidenciável. A cerimônia de ingresso no partido teve grande cobertura da imprensa e vídeo no telão que o descrevia como o homem certo para salvar a nação. Tudo em estilo heroico, como é característico do lavajatismo.
Dois meses depois, a pesquisa Genial/Quaest de intenção de votos confirma a impressão geral de que a pré-campanha do ex-juiz é um fiasco.
Moro aparece no último levantamento com 9%, um ponto abaixo da pesquisa passada. Possíveis aliados do União Brasil e do Cidadania esperavam que ele continuasse com dois dígitos, a caminho dos 15% – o número mágico imaginado para que a candidatura seja considerada viável. Deu ruim.
Há outros números na pesquisa que devem ter deixado os moristas preocupados. No questionário de resposta espontânea, o ex-juiz aparece apenas com 1% das citações, empatado com Ciro Gomes e atrás de Bolsonaro (16%) e Lula (27%). No quesito rejeição, 59% dos pesquisados responderam que não votariam em Moro de jeito nenhum (entre os principais pré-candidatos, só é menos rejeitado que Jair Bolsonaro e João Doria).
Para arrematar, nem mesmo a fama de paladino da luta anticorrupção, disseminada durante anos na imprensa, está ajudando. Entre os eleitores que acham que o combate às maracutaias é o principal tema da eleição, só 10% escolhem Moro como principal candidato. Bolsonaro (36%) e Lula (32%) dividem a preferência desse público.
O péssimo desempenho na pesquisa é reflexo do que se vê na pré-campanha de Moro, que circula o país fazendo palestras com entradas pagas e dando entrevistas a emissoras de rádios regionais.
Nessas viagens, volta e meia ele se depara com protestos de petistas e bolsonaristas que, cada grupo com seus motivos, o chamam de “traidor” e “juiz ladrão”.
Apesar do esforço dos fonoaudiólogos e do media training, Moro continua muito ruim de vídeo. Sua performance à frente da câmera é tão fraca que o concorrente direto, Ciro Gomes (PDT), passou a usar trechos de entrevistas do ex-juiz nas redes sociais para desqualificá-lo. O pré-candidato do Podemos é a antipropaganda em pessoa.
Além da forma, o conteúdo é praticamente inexistente. Apesar de dizer a toda hora que a campanha presidencial deve ser construída em torno de um projeto – essa é a palavra mais repetida -, Moro ainda não apresentou o seu.
A nove meses da eleição, ele cita nas entrevistas problemas óbvios do Brasil, como inflação, desemprego e fome, sem dizer de forma clara o que fará para combatê-los. Propostas tipo a força-tarefa para acabar com a pobreza beiram o risível.
Falta muito tempo para a votação e nada está decidido. Mas para dar a volta por cima e passar a ter chance real na eleição a presidente, Moro precisa entender que a euforia do lavajatismo se dissipou.
Os eleitores vão exigir dele muito mais que o círculo de jornalistas e procuradores que inflavam sua vaidade nos tempos que era juiz em Curitiba.
CHICO ALVES “SITE DO UOL” ( BRASIL)