Jornal GGN – “Brasileiros, cadê vocês? Forcem a CBF abrir o orçamento!”, exclamava o premiado jornalista investigativo escocês Andrew Jennings, quando as investigações contra a FIFA, em 2014, estavam a pleno vapor. Com suas inconfundíveis feições, humor irônico e chamativo sotaque, há 7 anos, o jornalista, que faleceu neste sábado (08), aos 78 anos, compartilhou com o GGN relatos de suas investigações e história.
A ousadia de Jennings, incitando o povo brasileiro a escancarar as contas da Confederação Brasileira de Futebol e a corrupção por trás dos jogos de futebol no Brasil, era gesto comum do primeiro jornalista a revelar e confrontar diretamente a “gangue” dos multimilionários do futebol.
Quando o perguntamos sobre as suas futuras investigações, aos seus pouco mais de 70 anos, colocou a mão na cabeça e gargalhou, antes de admitir que tinha “mais trabalho para fazer com a FIFA”.
“O esporte é privatizado e depois vendido para as marcas globais. O dinheiro do marketing das grandes corporações de comida saudável vai para a gangue de Sepp [Joseph] Blatter”, arrematava.
Naquele setembro de 2014, Andrew Jennings fazia o seu balanço da Copa do Mundo de 2014: “Dívida! Dívida! Dívida! Dívida! Impostos! Corrupção! Mais corrupção! E nunca vimos o dinheiro dos ingressos.” Ele fazia referência às denúncias de desaparecimento dos ingressos e o destino da possível venda.
“Brasileiros, cadê vocês? Deveriam estar nas ruas, vocês pagaram por isso! Pagaram com construções caras, como o estádio do Maracanã, para os irmãos Byrom venderem e enriquecerem. Vocês pagaram com seus impostos. E eles pegam o dinheiro e fazem os acordos sujos”, continuava.
Antes mesmo das investigações contra a FIFA levarem José Maria Marín à prisão na Suíça, em maio de 2015, juntamente com outros 6 executivos da Federação, Jennings não media palavras ao apontar a conexão do dirigente do futebol com a ditadura brasileira e esquemas de nepotismo e corrupção. “Toda vez que eu ouço o nome Marin, não posso parar de ver a fotografia horrível de Vladimir Herzog. E vocês deixam esse homem representar seu futebol!”.
Também foi o jornalista quem apontou as conexões de Juan Antonio Samaranch, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI) de 1980 a 2001, com o antigo regime fascista espanhol do general Francisco Franco (1939-1975).
Em suas investigações, Jennings ainda revelou a compra de votos para João Havelange assumir a presidência da FIFA, na obra “Foul! The Secret World of FIFA: Bribes, Vote-Rigging and Ticket Scandals“.
Um ano depois de Havelange renunciar ao cargo na FIFA, em 2014, Andrew detalhou à reportagem como o famoso bicheiro do Rio de Janeiro, Castro de Andrade, ensinou estratégias criminosas a Havelange, que aplicou as técnicas na FIFA juntamente com Blatter e seus afiliados no Brasil, Teixeira e Marín.
Por seus trabalhos, Jennings foi o único jornalista permanentemente proibido de participar de conferências e coletivas de imprensa do COI, no final dos anos 90, e nos últimos anos da FIFA, sendo conhecido como o ‘inimigo número 1 da FIFA’. “A sua paixão pelo futebol rende muito dinheiro”, resumiu ao GGN. Andrew faleceu neste sábado, 8 de janeiro, por uma “repentina e breve enfermidade”, segundo comunicou sua conta no Twitter.
PATRÍCIA FAERMANN ” JORNAL GGN” ( BRASIL)