BOLSONARO NÃO COMOVE NEM A EXTREMA DIREITA

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Se Bolsonaro tivesse alguma relevância como figura pública, o Brasil estaria debatendo hoje a hipótese de perder seu presidente. Bolsonaro é um homem frágil diante da possibilidade real de um desfecho ruim.

Se fosse um presidente normal, as pessoas estariam pensando nos traumas que o país enfrentaria com a sua perda, um ano antes do fim do mandato. Mesmo os adversários ficariam sensibilizados pelo fenômeno da empatia verdadeira ou cínica na política.

Se fosse um presidente normal, mesmo que em circunstâncias absurdas, mais da metade do Brasil pensaria no que aconteceu quando Tancredo morreu antes de assumir e Sarney ocupou seu lugar, ou quando Dilma foi derrubada e um golpista sentou-se na sua cadeira.

Sem Dilma, o país perdeu rumo, os pobres perderam renda e viraram miseráveis, e a classe média desorientada agarrou-se à salvação oferecida por Bolsonaro.

Mas agora ninguém quer saber sobre o que ficará inconcluso do governo de Bolsonaro, se o desfecho for o seu afastamento ou algo pior, porque nem ele sabe o que concluiu ou deixará de concluir.

Bolsonaro diante da possiblidade da morte (que ele tanto exalta mesmo quando fica em silêncio) não emociona, não inquieta e não incomoda, mesmo que alguns peçam rezas pelo homem que nunca rezou por ninguém.

O Bolsonaro que sai direto de um jet ski para o leito de um hospital de luxo, com uma sonda no nariz, é a figura que ele não gostaria de ser. É um sujeito com saúde instável, programado e desprogramado pelos intestinos, numa gangorra sem fim.

O mercado financeiro e os empresários estariam preocupados com a situação de Bolsonaro? Não parece. E os grileiros e os garimpeiros? E os milicianos? Podem estar, mas não são, numericamente, grupos capazes de disseminar comoção.

A situação de Bolsonaro é a do sujeito que descobre, pouco mais de três anos depois de eleito, que sua base é aquela dos 18% a 20% do início da campanha de 2018. E que 20% não são capazes de criar e propagar comoção diante do temor da perda.

Bolsonaro não se transformou no presidente do Brasil, porque optou por governar para as suas facções. Os 20% de apoio a Bolsonaro passam o dia nas redes sociais respondendo aos memes sobre a situação de Bolsonaro.

Não há nesse contingente a mínima chance de contagiar a internet com o sentimento de que a possibilidade de perda é real e ameaçadora. A extrema direita acabou até com a comoção.

Bolsonaro no leito do hospital não deve saber nada das prioridades do governo nesse início de ano. Não sabia quando estava em Santa Catarina. Não sabia antes de ir para Santa Catarina.

Bolsonaro nem uma figura simbólica é, no sentido de que representa alguma coisa, porque não representa mais nada. Nem o vácuo de poder ele representa, porque não tem condições de ser nem mesmo o vácuo.

Nem os militares empregados de Bolsonaro estão preocupados, porque, se ele faltar ou desistir da política, Hamilton Mourão estará de prontidão. Não só para completar o mandato, mas para ser, com o governo sob seu controle, candidato da turma à sucessão.

Sem Bolsonaro, a eleição vira outra coisa, porque o buraco deixado pelo seu vazio terá de ser preenchido por alguém, que pode ser, além de Mourão, um fofo da direita até agora fora da disputa.

Sem Bolsonaro, Eduardo Leite (que está amarrando as chuteiras, enquanto tenta escolher um novo time), Rodrigo Pacheco e Simone Tebet podem dar um chega pra lá em Sergio Moro.

Mas tudo isso acontecerá sem que o país se sensibilize com o drama de Bolsonaro, que perde o sentido de presente até para o centrão e por isso mesmo não se aproxima de uma perspectiva de futuro. Bolsonaro não é mais nada.

Internado, entregue à ciência que ele tanto nega, Bolsonaro é mais um traste da política. A política profissional é cruel e não se apega a figuras frágeis.

Seu estado precário, que poderia sensibilizar o país, expõe ainda mais sua insignificância para os próprios parceiros. É a realidade. Tentar negá-la é a missão urgente do bolsonarismo hoje.

MOISÉS MENDES ” BLOB BRASIL 247″ ( BRASIL)

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