Em si, Sergio Moro não tem mais importância na politica brasileira. Todos os verbos que se referem a ele estão no passado.
Chegou a ser uma hipótese de figura de primeira grandeza, quando surgiu para a opinião pública nacional como o juiz ferrabrás de uma tal Lava Jato. A maioria não o conhecia e somente os mais interessados no dia a dia do Judiciário sabiam quem era.
Às vezes, acende-se uma pequena luz no quadro da política. Pode ser um prefeito que chama a atenção, um procurador inovador, um ministro que se destaca, um empresário com boas ideias. Ser governador de estado aumenta a chance de ser visto.
A luz se acende, mas costuma apagar-se. É preciso mais que a oportunidade para criar um personagem relevante. No mínimo, é necessário ter carisma e substância.
Tome-se o caso de alguém cujo conceito original se enraizava em lugar semelhante ao de Moro no imaginário da sociedade. A luz de Fernando Collor faiscou em 1987, quando assumiu o governo de um dos menores estados do País com a bandeira da “guerra aos marajás”. Recebeu toda a ajuda que teve (e não foi pouca), mas só virou presidente porque a matéria prima de sua imagem era forte, várias vezes mais forte que a do ex-juiz.
O nome de Moro chegou a ser incluído em algumas pesquisas na ultima eleição. Em uma do Datafolha de final de setembro de 2017, não alcançava 10%, apesar de ser conhecido por quase 80% dos entrevistados (Collor, em condições semelhantes – a onze meses da eleição e entre quem o conhecia -, passava de 40%). Números decepcionantes para alguém com tantas pretensões, que devem tê-lo ajudado a desistir da aventura.
Percebendo que seu cacife era pequeno, Moro provavelmente avaliou que o melhor caminho seria tornar-se um “grande eleitor”, assumir o governo com o vitorioso e, a partir daí, garantir uma poltrona na primeira fila da política nacional. A esse projeto se dedicou desde o começo de 2018, esperando, pelo menos, o prêmio de consolação de uma cadeira no Supremo.
Cumpriu o combinado com Bolsonaro e o antipetismo, correndo para tirar Lula da eleição, custasse o que custasse, passando por cima das normas mais básicas do Direito. Graças ao The Intercept Brasil, temos agora uma ideia de como ele e sua turma agiram para interferir na eleição. Nada, porém, que surpreenda quem se lembra de suas fotos debochadas com Michel Temer e os amigos tucanos.
Deu o passo seguinte tornando-se logo ministro de Bolsonaro, mas, outra vez, foi além do que as pernas alcançavam.
Com ignorância e arrogância, supôs que o ministério da Justiça seria um trampolim, achando que conseguiria tirar de letra o problema da segurança no Brasil.
De novembro de 2018 até ser abatido pela exposição de suas manobras, Moro foi incapaz de dar sequer o primeiro passo para alcançá-lo. Não mostrou ter noção, visão, interpretação ou proposta para lidar com a questão.
As revelações até agora publicadas do Intercept (e deve haver outras) bastam para colocar uma pá de cal nas ambições de Moro. Sua inépcia administrativa já havia, no entanto, feito com que sobrevivessem apenas na fantasia.
Bolsonaro e o bolsonarismo erram, contudo (como é regra), ao rir-se das desventuras de Moro e de seus patéticos esforços de se agarrar a eles para não afundar. O ex-juiz ainda tem apoio na sociedade, mesmo que cadente e cada vez menos determinado pelo que objetivamente é e faz hoje. Destituído de futuro, sem um presente que possa ser defendido, resta como símbolo de um passado, em que era ampla a sustentação da Lava Jato e da hipotética renovação que representaria. Os que permanecem presos a essa ilusão não podem admitir a morte de Moro.
Quem o patrocinou lá atrás, como o sistema Globo, um pedaço da cúpula do Judiciário e do Exército, só o jogará fora se não houver jeito. É o único herói da “revolução gloriosa” que fabricaram, a luta para acabar com Lula e o PT a pretexto de erradicar a corrupção. Sem Moro, a imagem do projeto que arquitetaram é o constrangedor retrato do zoológico bolsonarista. Para todos, bem como para Bolsonaro e seu governo de figuras ridículas e inexpressivas, a morte politica de Moro é um revés.
Há outra hipótese, de Moro ser capaz de resolver seu problema e Bolsonaro mostrar-se um presidente competente na solução de crises, mas podemos descartá-la. Os próximos meses serão piores para o capitão.
MARCOS COIMBRA ” BLOG 247″ ( BRASIL)
Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi