O CAPITÃO VALENTE FOGE DA CONFERÊNCIA DO CLIMA PARA FAZER TURISMO NA ITÁLIA

CHARGE DE BENETT

“É aquela história, você sabe que o presidente Bolsonaro sofre uma série de críticas, então ele vai chegar num lugar que todo mundo vai jogar pedra nele, né?”.

(General Hamilton Mourão, vice presidente da República, ao justificar a ausência de Jair Bolsonaro na Conferência das Nações Unidas, a COP26, sobre mudanças climáticas, que começa neste fim de semana, em Glasgow, na Escócia).

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Por que será?

Como sabemos, uma das principais características do nosso valente presidente acidental é a covardia, explicitada sem meias palavras na declaração do general Mourão, que o conhece bem.

Para fugir das pedras, no mesmo dia em que as principais lideranças mundiais estiverem reunidas em Glasgow para discutir emissões de CO2 e um entendimento sobre o futuro da humanidade, Bolsonaro se encontrará bem longe dali, em Anguillara Veneta, na região de Pádua, uma cidadezinha de 4 mil habitante na Itália, para conhecer a terra dos seus antepassados.

Mas lá também haverá protestos contra a presença do presidente brasileiro e a prefeita da cidade, Alessandra Buoso, que causou indignação ao conceder o título de “cidadão honorário” a Bolsonaro.

Em sua turnê sentimental, de volta ao passado, sempre às custas do erário, no dia seguinte o capitão irá a Pistóia, também no norte do país, para visitar o Cemitério Militar Brasileiro, onde estavam enterrados os heróis da FEB (Força Expedicionária Brasileira), que lutaram na Segunda Guerra Mundial, cujos restos mortais foram transferidos ao Brasil 60 anos atrás. Lá só tem agora um monumento em homenagem aos combatentes.

Ao chegar a Roma na manhã desta sexta-feira, para participar da reunião do G20 que começa amanhã, Bolsonaro encontrou oito apoiadores segurando uma bandeira do Brasil e outra de Israel, deixou as malas na embaixada do Brasil da praça Navonna e logo saiu pela porta dos fundos, para passear pelas ruas do comércio.

Sobre as importantes reuniões em Roma e Glasgow, nada disse. Comentou apenas que estava muito feliz em poder conhecer a terra dos seus bisavós que emigraram para o Brasil no século 19.

Bolsonaro foi a Roma, mas não vai conhecer o papa Francisco, como o presidente americano Joe Biden, recebido nesta manhã. Segundo funcionários do Itamaraty, o governo brasileiro nem solicitou uma audiência com o Papa, sabendo que o ambiente no Vaticano não é lá muito simpático ao capitão presidente, onde Francisco já recebeu o cacique Raoni, com um forte abraço, e vive criticando a devastação da Amazônia.

Da mesma forma, Bolsonaro também não é bem visto pela igreja católica de Pádua, que emitiu um comunicado, lembrando num comunicado da diocese alguns religiosos da região, como Ezechiele Ramin e Ruggero Ruvoletto, que foram assassinados pela repressão militar no Brasil.

“Violência, exploração da religião e devastação ambiental, além da severa crise da saúde” no Brasil são citados no documento, como informou o correspondente Jamil Chade, aqui no UOL. A diocese comandada pelo bispo Claudio Cipolla apela para que o presidente brasileiro “promova políticas que respeitem a Justiça, saúde e o meio ambiente”, tudo o que o governo brasileiro não faz.

Nem mesmo em Anguillara Veneta, Bolsonaro terá sossego.

Presidente de um país que se tornou o grande “vilão do clima” pela devastação promovida na Amazônia, acusado esta semana pela CPI da Pandemia de ter cometido crimes contra a humanidade, Bolsonaro fará figuração na reunião do G20, na melhor das hipóteses, e causa constrangimento por onde passa, até ao fazer um passeio sentimental.

Faz bem em sair sempre pela porta dos fundos da nossa imponente embaixada em Roma, na belíssima Piazza Navonna.

O Brasil, tão admirado em outros tempos, não merecia isso. Ou merecia?

RICARDO KOTSCHO ” SITE DO UOL” ( BRASIL)

https://outline.com/XeNYYa

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