“Se o Congresso derrubar o veto do absorvente, vou tirar dinheiro da saúde e da educação. Tem que tirar de algum lugar” (presidente Jair Bolsonaro, em passeio pela Praia Grande, no litoral paulista, durante o feriadão).
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Para ajudar o governo neste momento difícil, listo abaixo algumas áreas de onde Bolsonaro poderia tirar dinheiro, sem cortar mais verbas da educação e da saúde.
* De parte dos R$ 15 bilhões do orçamento destinados a emendas parlamentares secretas (aliás, por que são secretas?).
* Da venda de refinarias e blocos de pré-sal da Petrobras.
* Dos salários dobrados dos milhares de militares que Bolsonaro levou para ocupar cargos civis no governo. Basta demiti-los todos e mandar de volta aos quartéis. Não farão falta.
* Deixar de usar o avião presidencial por pelo menos uma semana para economizar combustível e dinheiro das diárias da comitiva.
* Toda a verba que será economizada com a organização de motociatas pelo país, temporariamente suspensas.
* Dos impostos que deveriam ser cobrados sobre o dinheiro depositado nas offshores de Paulo Guedes & cia.
* Pedir um empréstimo ao Queiroz, que está solto, ou ao sorridente presidente da Caixa, que encaminha pedidos aos amigos de Michelle.
* Dos gastos com a organização de comícios pela reeleição em turnês pelo país.
* Cortar sumariamente todas as mordomias, penduricalhos e auxílios dos superfuncionários federais dos Três Poderes e das Forças Armadas, que ganham acima do teto constitucional.
* Da compra de leite condensado, picanha, cerveja e outros regalos da dispensa do Ministério da Defesa.
* Do dinheiro que será economizado com a proibição da distribuição do “kit Covid”, que não cura ninguém e ainda pode matar.
* Da venda de todos os carros oficiais, para depois empregar os motoristas em algum serviço público mais útil.
* Da redução dos gastos do cartão corporativo da Presidência, que também é secreto.
Com isso, daria não só para comprar os R$ 100 milhões em absorventes, segundo o projeto aprovado no Congresso, que seriam distribuídos para mulheres carentes e estudantes pobres, dinheiro de troco diante dos gastos inúteis do governo, mas também devolver os R$ 600 milhões cortados das pesquisas científicas e todas as verbas já tiradas dos orçamentos dos Ministérios da Saúde e da Educação para 2022, além de permitir o aumento do valor do Bolsa Família, com outro nome, e do salário mínimo.
E ainda sobraria muito dinheiro em caixa sem furar o teto de gastos. É só fazer as contas.
Para um presidente que é rejeitado por 59% dos eleitores, que não votariam nele de jeito nenhum, segundo o Datafolha, se tomasse essas medidas Bolsonaro poderia, de quebra, até melhorar um pouco a sua popularidade.
Esta “crise dos absorventes”, para mim, é apenas mais um factóide presidencial, criado para ocupar espaço no noticiário durante o feriadão, na falta de um programa econômico para o pós-pandemia. Nem a milícia digital bolsonarista, sempre tão combativa, saiu em sua defesa.
RICARDO KOTSCHO “SITE DO UOL” ( BRASIL)