Há uma maneira simples de Paulo Guedes e Roberto Campos Netto espantarem as suspeitas sobre os depósitos mantidos em contas offshore. Basta abrir as movimentações das contas ao COAF (Conselho de Controle das Atividades Financeiras).
Até agora ambos disseram ter declarado as contas e os valores à Receita e às autoridades pertinentes, quando assumiram cargos públicos. Campos Netto sustentou, ainda, que, depois de nomeado presidente do BC, não remeteu nenhum recurso a mais para as contas.
Permite apenas saber se não houve os chamados crimes antecedentes gerando os recurso, mas não esclarece o principals. O que importa é saber como os recursos foram movimentados, se se beneficiaram de operações da Economia e do Banco Central.
Veja-se o caso de Richard Clarida, vice-presidente do Federal Reserve (o Banco Central americano). No dia 27 de fevereiro de 2020, ele negociou milhões em títulos, um dia antes do presidente do FED dar uma declaração prometendo ação monetária para enfrentamento da pandemia. Poucos dias depois o FED passou a injetar maciçamente recursos no mercado. Depois de uma queda vertiginosa, o S&P 500 explodiu. Clarida está sendo investigado por uso privilegiado de informações.
No ano passado, não foram poucas as vezes em que o Banco Central entrou no mercado revertendo o pessimismo. Em fevereiro, a sombra do lockdown se espalhou pelo mercado. Pelo menos duas intervenções do BC foram decisivas para reverter a queda.
A primeira, quando anunciou que entraria no mercado secundário de títulos privados, adquirindo recebíveis. O mercado tinha despencado com as dúvidas gerais sobre que empresas conseguiriam honrar seus recebíveis. A postura do BC fez o mercado se recuperar.
O mesmo ocorreu com o mercado de fundos de investimento, que passaram a sofrer saques, em meio à pouca liquidez do mercado. Mais uma vez, o BC veio em socorro do mercado.
Aqui, alguns exemplos de movimentos de ações na B3. A linha azul mostra o preço de fechamento da ação, a linha amarela a quantidade adquirida.
Um investidor que soubesse antecipadamente dos movimentos do BC, lucraria uma enormidade. É essa sombra de suspeita que terá que ser eliminada por ambos, abrindo as informações sobre suas movimentações financeiras.
O Brasil tem um longo histórico de vazamento de informações econômicas. Na gestão de Gustavo Franco, no Banco Central, vazou a informação de que o BC pretenderia adquirir títulos da dívida brasileira no exterior. Houve um movimento prévio de bancos de investimento, especialmente o Garantia, adquirindo títulos antes da valorização. Mas explodiu a crise da Rússia, pegando todos os investimentos em emergentes no contrapé.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)