Nunca chamei o José Antônio de José Antônio. Para mim, era e sempre foi o Severo. E que, aliás, de severo não tinha nada.
Na sexta-feira passada, dia 24, recebi a notícia da sua partida pelo Fernando Morais. Achei que era engano. Fui confirmar: não era.
Infelizmente, Fernando Morais não se engana nunca ou quase nunca. Desta vez, foi um tremendo nunca.
O Severo se foi. Mais um que se vai, neste país que se esvai.
Nos conhecemos há décadas, lá por 1971 ou 72, antes de eu sair do Brasil por um longo, longo período.
Na minha geração de jornalismo, ele já era mais que famoso e invejado, no bom sentido da palavra inveja.
Era, definitivamente, um craque consagrado. Só ele parecia não se dar conta disso.
Naqueles primeiros encontros o Severo não parecia, para nada, ser o Severo: era só mais um. Igualzinho ao Cabral, ao Bê, ao Hamiltinho, ao Patarra, ao Squeff, ao Palmério, a todos nós.
Só que não era. Era mais. Era melhor. Era um repórter acuradíssimo, era um chefe suave, era um determinado.
Em setembro ou outubro de 1983, quando da minha volta ao Brasil depois de dez anos e meio fora, cheguei para trabalhar com o Severo no lançamento do noticiário noturno, o “Jornal da Globo”, criado basicamente por ele e o diretor de jornalismo, Armando Nogueira, lançado meses antes e que seria uma inovação fulgurante no jornalismo de televisão.
Severo permaneceu pouco tempo no cargo. Depois, virou diretor de jornalismo na TV Bandeirantes. E continuou uma carreira fulgurante que tinha começado lá atrás, com passagens marcantes pelo jornal O Estado de S. Paulo, pela revista Realidade, enfim, por todos os meios importantes do país. Fez de tudo um pouco, mas foi, sempre, basicamente um repórter. Um tremendo repórter.
Nos últimos tempos nos víamos cada vez menos. Por que? Coisas da vida. Na verdade, nunca nos afastamos. De longe, acompanhava suas andanças, seus filmes, seus livros.
Não quis deixar de registrar o enorme vazio que ele deixou em mim, e o baú de memórias que guardo dele.
Foi com o Severo que aprendi o que sei de televisão. Ele também foi fundamental, junto com outros amigos, para que eu entendesse que Brasil era aquele que eu reencontrava depois de tanto tempo longe.
Severo foi um representante, e dos mais altos, de um ofício cada vez mais ameaçado no Brasil: o jornalismo de verdade.
Adeus, amigo.
ERIC NEPOMUCENO ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)