- São luso-brasileiros, evidentemente, os filhos de pais portugueses nascidos cá no Brasil. E agora também o são, legitimamente, os netos – ainda que os genitores não tenham reivindicado a nacionalidade à antiga Metrópole. Um dos primeiros ilustres luso-brasileiros, chamados à época colonial, pejorativamente, de mozambos, foi o paraibano André Vidal de Negreiros (1606 – 1680), herói que se bateu pela Restauração portuguesa do Nordeste brasileiro – do qual, posteriormente, se tornaria Governador.
- Outro nome de relevância foi o poeta baiano Gregório de Matos (1636 – 1696), o “Boca do Inferno”, tido, com razão, como um dos dois maiores homens de letras portugueses do mesmo século XVII, juntamente com o lisboeta Padre António Vieira (1608 – 1697), célebre jesuíta dos “Sermões”, que vivia em Salvador.
- Um dos mais notáveis, sem dúvida, foi o santista José Bonifácio de Andrada e Silva, “O Patriarca da Independência”, mestre em Coimbra e braço forte do Imperador Dom Pedro (1978 – 1834), nascido em Queluz – Primeiro no Brasil e Quarto em Portugal. A filha de Dom Pedro, Dona Maria II (1819 – 1853), “A Educadora”, natural do Rio de Janeiro, sucedeu o pai no trono de Lisboa.
- Eminente luso-brasileiro foi, igualmente, o ex-Presidente da República de Portugal, o carioca Bernardino Machado (1851 – 1944), que esteve por duas vezes à frente da chefia do Estado. Temos neste momento, novamente, um destacado luso-brasileiro, Paulo Porto, 57 anos, paulistano, filho de lusitanos, Deputado pelo Partido Socialista Português (PSP) à Assembleia da República, representando todas as comunidades portuguesas fora da Europa.
- É dele, inclusive, a iniciativa, no Grupo Parlamentar socialista, de estender a nacionalidade aos netos – permitindo, assim, que vários deles, residentes atualmente no País de seus ancestrais, possam ter direitos equivalentes aos que lá vieram ao mundo ou dos nascidos na diáspora. Portugal pretende preservar, com essa medida, como sinalizou a reforma legislativa, um universo mais lusófono dentro do geograficamente pequeno território europeu, do que restou do imenso Império construído na Idade Moderna (1543 – 1789).
- Justamente num tempo em que, desde o início deste século, todos os membros da União Europeia, incluindo o Reino Unido, não param de receber, diariamente, milhares de emigrantes provenientes das Áfricas e da Ásia. Invariavelmente, sem vínculo cultural com o país que o acolherá. Portugal abre as portas, dessa maneira, aos netos nascidos em qualquer lugar… Seja ele brasileiro, canadense americano, argentino, angolano, moçambicano, sul-africano, francês, alemão, indiano, chinês, timorense…
- Ou judeus sefarditas, como o apresentador Sílvio Santos, 90 anos, e meu querido amigo Luciano Harary, 60, médico cardiologista, que tem antepassados portugueses, expulsos nos séculos XVI e XVII. “E, por isso, digo e repito, a minha é uma missão extremamente importante e de muita responsabilidade”, afirmou-me Paulo Porto, no último dia 23 de setembro, durante o tradicional almoço das quintas-feiras à Casa de Portugal, em São Paulo – no qual apareço ao seu lado na foto que ilustra a coluna.
- O Deputado das diásporas fora da Europa, numa União Europeia profundamente universalizada, com emigrantes de diferentes partes do planeta, tem, certamente, um árduo trabalho – e já mostrou bons resultados. A própria Metrópole possui hoje como Primeiro-Ministro um lisboeta de família indiana de Goa – António Costa, 60 anos. A presença de Paulo Porto na Assembleia da República é um ponto de referência da lusofonia. Garante união e convivência de todas as pequenas e grandes pátrias portuguesas que existem no mundo. E que não podem se perder no carrosel da globalização.
ALBINO CASTRO ” PORTUGAL EM FOCO” ( BRASIL / PORTUGAL)
Albino Castro é jornalista e historiador