Como ousou convalidar a trama da Lava Jato contra Lula com uma delação frágil? Onde estava o jurista sofisticado, defensor dos direitos, arauto da cidadania?
Leo Pinheiro escreve, de próprio punho, uma carta isentando Lula de qualquer suspeita em relação a uma denúncia improvável. A denúncia dizia que Lula influenciou um país estrangeiro para beneficiar uma empresa brasileira.
O que a Lava Jato tinha à mão era o óbvio:
A OAS contratando Lula, já ex-presidente e, na época, político de maior expressão mundial, para uma palestra no país. Trata-se de uma prática internacional, utilizada por empresas com Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton, Giscard D’Estaing e qualquer ex-presidente de país influente. O ganho da empresa é por tabela, é ganho de imagem.
Mas a Lava Jato fez questão de criar sua narrativa: o cachê era propina, que saiu de uma suposta conta de propina da OAS, devidamente amarrada no contrato obtido no país estrangeiro e em um financiamento do BNDES.
Léo Pinheiro permaneceu preso, em tortura psicológica. Resistiu, recuou às propostas indecorosas da Lava Jato, teve vários acordos de delação recusados, até que, emocionalmente destruído, aceitou incluir Lula na sua delação.
A Lava Jato incluiu o que quis em sua delação, denúncias contra Ministros do STF, contra Lula, contra outros adversários políticos, sem necessidade de uma prova documental sequer.
Tudo bem em relação à Lava Jato. O grupo de procuradores que se regozijava com a morte de pessoas próximas a Lula, que insinuava que a morte de dona Marisa foi queima de arquivos, que acusava Lula de fazer drama com a morte do neto, esse grupo ainda será objeto de alguma pesquisa psiquiátrica. Não é possível que o critério de seleção da Lava Jato tenha sido premeditado, para chegar a um grupo tão abjeto. É mais fácil acreditar na psicologia de massas, como o clima no entorno, como a bestificação da opinião pública traz à tona o que de mais execrável existe na natureza humana.
Minha questão é outra: como o Ministro Luiz Edson Fachin ousou convalidar essa trama? Onde estava o jurista sofisticado, o defensor dos direitos, o arauto da cidadania? O que aconteceu com ele para, no isolamento do Supremo, ter se rebaixado tanto, ter cedido tanto à barbárie?
Luis Roberto Barroso não desperta tantas indagações. Barroso é óbvio, facilmente explicável. É daquelas personalidades encantadas com a luz dos holofotes imediatos, leve, livre e solto como um surfista mudando de onda.
Mas Fachin, não. Demonstra ser uma pessoa muito mais preocupada com o verdadeiro julgamento público, o da história, o das pessoas de bem.
O que o levou a isso? Qual o mistério que levou Fachin a cometer um suicídio de imagem desse quilate?
Só o tempo dirá.
LUIS NASSIF ” JORNAL GGN” ( BRASIL)