A covardia e o oportunismo da elite econômica brasileira são históricos e notórios, mas desta vez ela se superou. O manifesto Fiesp-Febraban adiado – ou abortado, tanto faz – vazou e perdeu sentido. Se divulgado, seria ainda pior. Poucas vezes se viu pusilanimidade tão vergonhosa.
O texto começa, candidamente, referindo-se à Praça dos Três Poderes como a “representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”. Em paupérrima metáfora político-urbanística, dizem os donos da grana que “nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais”.
Pela caneta desse empresariado terceiro-mundista, não é o presidente da República, portanto o Executivo, que agride os demais Poderes todo dia, que comete reiterados crimes de responsabilidade, que estimula a ruptura institucional, que insulta autoridades, que viola a Constituição, que fere o decoro, que corrói as Forças Armadas e que interfere, qual um déspota, nas instituições de Estado.
Para esse empresariado, sem surpresa, “todos” – sim, “todos” – precisam agir com “serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população”.
Talvez uma praga tenha sido lançada sobre o redator dessa obra prima de acanhamento. Algo como “cair-lhe-ão as mãos se escreverdes o nome Bolsonaro”.
A pieguice sem limites, a falta de coragem de escrever em português claro e direto, fracassa ao tentar pintar com tintas democráticas – ainda que de forma canhestra – um grupamento que desde sempre pensou e agiu com a finalidade exclusiva de rechear o próprio bolso.
No caso da Fiesp, a memória recente nos remete ao pato amarelo que pedia o impeachment de Dilma Rousseff sem crime. Retrocedendo um pouco mais, reaviva-se a figura do “Dr. Geraldo”, ou Geraldo Resende de Mattos, sinistro representante dos industriais paulistas em intermediações com os porões da ditadura nos anos 70. Ressurge também a imagem de Albert Hening Boilesen, bem descrito no documentário “Cidadão Boilesen”, presidente do Grupo Ultra que gostava de assistir a sessões de tortura e era entusiasta da Operação Bandeirante, a tenebrosa Oban, financiada por empresários paulistas.
Em pelo menos dois momentos cruciais da história brasileira essa elite tomou partido, teve lado. E em nenhum deles o lado escolhido foi o da democracia. Na oportunidade atual, está em cima do muro. Imagina-se que penderá para a banda que lhe auferir mais benesses.
PAULO HENRIQUE ARANTES ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)