Num único dia, Bolsonaro marcou três gols, todos contra. O gol contra mais cômico foi o indeferimento da petição em que o Planalto pedia no Supremo a dispersão de manifestação de índios em Brasília para evitar risco sanitário na pandemia. O mais constrangedor foi o envio ao arquivo da Suprema Corte da ação contra o artigo do regimento do tribunal usado para abrir o inquérito sobre fake news à revelia do Ministério Público. O gol contra mais ridículo foi o arquivamento no Senado do pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes.
Às vésperas de um julgamento sobre a demarcação de terras indígenas, armou-se em Brasília um acampamento de cerca de seis mil índios. Invocando preocupações com o coronavírus, o Planalto pediu o adiamento da manifestação. Após certificar-se de que os manifestantes tomaram todas precauções sanitárias, o ministro Luís Roberto Barroso indeferiu o pedido. A decisão foi cômica porque um presidente que usa a pandemia contra os índios ao mesmo tempo que convoca aglomerações para o feriado de 7 de Setembro revela que desistiu de presidir o país para tentar a sorte como piada.
O despacho em que o ministro Edson Fachin arquivou ação contra o inquérito das fake news deixou o presidente em posição constrangedora porque expôs os seus calcanhares de vidro. O artigo questionado agora foi acionado há dois anos e cinco meses pelo Supremo. Mas Bolsonaro só reagiu depois que foi incluído no inquérito das fake news por mentir sobre as urnas eletrônicas.
A decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de arquivar o impeachment de Alexandre de Moraes expôs Bolsonaro ao ridículo porque a inépcia da denúncia deixou claro que o presidente usará todos os estratagemas para atingir o subterfúgio de desqualificar o magistrado que atua como relator dos seus infortúnios no Supremo e presidirá o TSE nas eleições de 2022.
JOSIAS DE SOUZA ” SITE DO UOL” ( BRASIL)