Depois de assegurar uma precária sobrevivência com a entrega de mundos e fundos ao Centrão, Bolsonaro quer testar, no 7 de setembro, se tem apoio suficiente para tentar peitar a democracia
O pavor do clã Bolsonaro é trocar os convescotes do Palácio da Alvorada por uma indesejada reunião familiar na cadeia. Todo dia eles passam recibo desse temor. Os rompantes e delírios do presidente são constantes. Crescem no mesmo passo do avanço nas apurações de malfeitos seus, de parentes e de aliados. Cada vez mais, ele próprio os torna público. Passou, por exemplo, a xingar e a ameaçar ministros do Supremo Tribunal Federal em manifestações abertas. Seus filhos seguem na mesma toada.
Na quarta-feira passada, o deputado Eduardo Bolsonaro, o 03, estava alucinado com as medidas tomadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes que fecham o cerco à turma que espalha fake news e se arvora a articula um golpe contra as eleições e as instituições democráticas. Ele se mostrou perplexo com o Supremo estar cumprindo seu papel de guardião da Constituição. “Qual será o próximo passo? Prender o presidente? Prender um dos filhos?”.
Uma das razões que motivaram Bolsonaro a ignorar as ponderações de seus principais conselheiros e apresentar na sexta-feira (20) ao Senado um ridículo pedido de impeachment do ministro Alexandre de Moraes é uma burra medida preventiva contra uma suposta prisão do vereador Carlos Bolsonaro, enrolado até o pescoço com o tal esquema das fake news. Numa ótica amalucada, Bolsonaro acredita que esticando a corda com o STF resguarda a si e a seu clã. Como ali não pode aplicar o mesmo método adotado no Congresso com a compra provisória do passe do Centrão, optou por atacar o Judiciário como tática de autodefesa.
Colabora também para sua estratégia de manter a militância mobilizada, mesmo entregando cada vez nacos maiores de poder ao Centrão. Seus ataques e ações contra o STF e a todos que defendem a democracia ajudam o esforço entre os bolsonaristas para uma demonstração de força no 7 de setembro. Bolsonaro diz que vai discursar num protesto em que algumas convocações prometem arruaças desatinadas como a invasão do Supremo Tribunal Federal e quebra-quebra no Congresso Nacional.
No meio dessa balbúrdia, as Forças Armadas, com a justificativa da pandemia, cancelaram os tradicionais desfiles militares no Dia da Independência. Comandantes militares, especialmente do Exército, têm respondido às inquietações com as ameaças de Bolsonaro com a garantia que as tropas não vão embarcar em aventuras golpistas e vão respeitar qualquer que seja o resultado das eleições presidenciais no ano que vem. Há ali até uma torcida para que o vencedor não seja o Lula. Mas se o povo optar por ele, paciência.
O Estadão desse domingo (22) contou que cinco ex-presidentes da República — José Sarney, Fernando Collor, Fernando Henrique, Lula e Michel Temer — fizeram sondagens junto a militares e foram tranquilizados sobre a quebra da ordem pelas Forças Armadas. É o mesmo diagnóstico dos ex-ministros da Defesa Nelson Jobim e Raul Jungmann e de vários generais da ativa e da reserva aos mais variados interlocutores.
Bolsonaro sabe disso. Tenta driblar essa barreira com assédio a comandos militares e com espetáculos que viram piada como a tal tanqueada em Brasília. Bem disse o vice-presidente Hamilton Mourão, um general 4 estrelas, serviu para mostrar a necessidade de renovar os blindados da Marinha. Mas se não consegue apoio nas Forças Armadas para suas aventuras golpistas, Bolsonaro segue investindo nas PMS e em militares da reserva, com os quais espera manifestar força no 7 de setembro.
Exemplo disso é o coronel PM da reserva Ricardo Nascimento Mello, ex-comandante da Rota, e presidente, nomeado por Bolsonaro, da poderosa Ceagesp — sonho de consumo por seu potencial financeiro e eleitoral dos políticos paulistas. Ele está mobilizando os antigos colegas de farda. Fez uma convocação dos “veteranos” da PM para o ato bolsonarista na Avenida Paulista. Marcou como ponto de encontro a sede da Rota, no primeiro Batalhão de Choque.
Por mais que se arvore, dentro ou fora das quatro linhas da Constituição, a seguir no poder mesmo se derrotado nas urnas, o que Bolsonaro busca é conseguir uma sobrevida até às eleições. Pode parecer jogo jogado, mas não é. Não é só o concorrente Ciro Gomes que avalia que até lá Bolsonaro vai ser tão desidratado que seu nome sequer estará na urna eletrônica entre os candidatos à Presidência da República. Na tentativa de chegar lá, Bolsonaro mantém o jogo amalucado. Como definiu Gilmar Mendes, atual decano do STF, trata-se da “fabricação artificial de crises institucionais infrutíferas” que atrapalham a solução dos problemas reais como a pandemia e a inflação descontrolada.
Continua a mesma dúvida sobre esse festival de insensatez: Até Quando?
A conferir.
ANDREI MEIRELES ” BLOG OS DIVERGENTES” ( BRASIL)