NO AFEGANISTÃO, UMA LIÇÃO AO IMPÉRIO

CHARGE DE MIGUEL PAIVA

Numa operação alimentada pela imensa comoção interna produzida pelo atentado de 11 de setembro de 2001,  as tropas estadunidenses e de um reduzido conjunto de aliados começaram a desembarcar no Afeganistão meses depois do  ataque às Torres Gêmeas de Nova York.  

Vinte anos depois, o balanço mostra uma tragédia anunciada, que só contribuiu para agravar o atraso social e a pobreza do país. 

Num processo que lembra a guerra do Vietnã, a operação encerra-se sob o repúdio geral da própria população dos Estados Unidos — mais 70% dos eleitores pedem a retirada das tropas do país. 

Outros dados também são significativos. O número oficial de mortos pela guerra é calculado em 174 000, com índices de fatalidade em prejuízo da população local — conforme levantamento da Universidade de Brown, perto de 90% das vítimas fatais eram afegãs. 

A devastação produzida pela guerra provocou o deslocamento de 5,7 milhões de refugiados, forçados a mudar-se por falta de emprego ou casa, em geral nem uma coisa nem outra. 

Quanto à política local, a presença de novos colonizadores cumpriu um papel previsível: só   ajudou a reforçar esquemas corruptos  de dominação política. 

A intervenção norte-americana em nada contribuiu para a necessária evolução democrática do país, com um receio particular pelos direitos das mulheres, que ali enfrentam um dos regimes mais opressivos do planeta. 

Haverá muito a ser feito depois da partida dos invasores, portanto.  

Ensaio para uma aventura ainda mais terrível, custosa e devastadora — a invasão do Iraque –, a operação no Afeganistão custou 486 bilhões de dólares, encerrando-se com uma lição sempre atual da diplomacia.  

Por mais poderosos que sejam seus exércitos,  nenhum império tem o direito de desprezar a autonomia de povos e países — e assim as tropas estadunidenses vão embora do Afeganistão sem deixar nenhum saldo aproveitável após vinte anos de ocupação. 

Uma vergonha, quando se compara um PIB per capta de U$ 65.297, para os EUA, contra U$ 507 para os afegãos. 

PAULO MOREIRA LEITE ” BLOG BRASIL 247″ ( BRASIL)

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