Em agosto de 1954, Getúlio Vargas se matou no Palácio do Catete.
Em agosto de 1961, Jânio Quadros renunciou no Palácio do Planalto.
Em agosto de 1976, Juscelino Kubitschek morreu em misterioso acidente automobilístico na Via Dutra.
Em agosto de 1914, começou a 1ª Guerra Mundial.
Em agosto de 1934, o suboficial Adolf Hitler se tornou o Führer todo-poderoso da Alemanha.
Em agosto de 1945, Hiroshima e Nagasaki foram atacadas com bombas atômicas que deixaram mais de 200 mil mortos.
É grande a lista de tragédias que aconteceram no Brasil e no mundo em agosto, conhecido como “mês do cachorro louco”, mas o presidente Jair Bolsonaro não precisava exagerar, em sua fúria sinistra na destruição do Estado Democrático de Direito, nesse país com quase 600 mil mortos e mais de 20 milhões de contaminados na pandemia, por ação ou omissão do governo.
Em guerra aberta contra o Supremo Tribunal Federal, onde seus crimes são investigados em sete inquéritos, o mais perigoso e perverso presidente da história da nossa República agora ameaça pedir ao Senado o impeachment dos ministros Luís Barroso e Alexandre de Moraes, levando ao limite a crise institucional por ele deflagrada.
Após o patético desfile dos sucateados tanques da Marinha por Brasília, soltando fumaça para intimidar o parlamento que votaria a PEC do “voto impresso”, o líder deste governo miliciano-militar não aceitou a derrota e dobrou a aposta, com novos ataques ao tribunal, que procura conter a marcha golpista.
Inconformado com sucessivas derrotas na Justiça e o encarceramento de um dos seus esbirros da milícia digital, Bolsonaro sente que o cerco está se fechando e busca cada vez mais o apoio das Forças Armadas, que mantém obsequioso silêncio.
“Base do pedido (de impeachment) é (sic) contínuas violações de liberdades como a de expressão”, escreveu no Facebook o filho deputado Eduardo Bolsonaro, o 03, repetindo argumento usado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para se opor ao pedido de prisão do pistoleiro Roberto Jefferson, pedido pela Polícia Federal e decretado pelo STF, pela prática de mais de uma dezena de crimes.
O que os Bolsonaros e seus asseclas querem, em nome da “liberdade de expressão”, é ameaçar impunemente os adversários políticos e as instituições, nos vídeos das redes sociais em que aparecem armados.
Fatos e coincidências históricas à parte, estes primeiros 14 dias de agosto de 2021 podem passar à história como o período em que o país atingiu o nível mais assustador de degradação da sua democracia, tornando-se um pária no mundo civilizado, no qual o governo não governa mais, e apenas luta para se manter no poder, por tempo indeterminado, apenas porque tem medo de enfrentar as urnas em 2022.
O Senado Federal, destinatário do pedido de impeachment dos ministros do STF, tem agora a grande oportunidade histórica de se colocar de pé, ao lado dos que tentam impedir o avanço do autoritarismo, negando não só esse desaforo à ordem jurídica, mas também a recondução de Augusto Aras ao cargo de procurador-geral e a indicação do “terrivelmente evangélico” André Mendonça para o STF.
Até o momento em que escrevo, o melífluo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ainda não saiu de cima do muro para se manifestar sobre a nova ofensiva de Bolsonaro contra a independência dos poderes.
Veterinários consultados pelo Balaio explicam que essa lenda de “mês do cachorro louco” surgiu porque agosto é o período em que as cadelas mais entram no cio, deixando os machos eufóricos e provocando violentos conflitos nas ruas, com um intenso coral de uivos.
É também quando o vírus da raiva se propaga com mais facilidade nos rituais de acasalamento em cães que não foram vacinados.
Começo a achar que não basta vacinar os animais, mas também os seus donos, para evitar que a raiva comande os destinos de uma nação indefesa.
E ainda faltam longos 17 dias para agosto de 2021 acabar.
Todo cuidado é pouco para proteger nossa jovem e frágil democracia atacada por cães raivosos.
RICARDO KOTSCHO “SITE DO UOL” ( BRASIL)