Sem dúvida alguma, o profissional mais bem pago do Palácio do Planalto deve ser o sujeito encarregado de fabricar cortinas de fumaça. É a ele que Jair Bolsonaro deve o fato de passar impune a escândalos que são descobertos, por ele solenemente ignorados e logo esquecidos dentro de uma estratégia inacreditavelmente singela: produzir e disseminar teses estapafúrdias que fazem a festa do cercadinho a ponto de transformar o bizarro recinto em origem de pautas do noticiário oficial.
Trata-se de um mecanismo de genial simplicidade. Nele montado, o “mito” se reinventa na reconquista diuturna de sua massa ignara. A política desse cercadinho é o grande trunfo daquele que deve, não nega (nem admite), mas não paga porque faz que nem é com ele. Surgiu um escândalo? Não tem problema, alguém na Corte já tem pra tirar da manga uma aparente babaquice com que o presidente da república ocupará a opinião pública dali em diante.
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Pode ser uma agressão verbal a um jornalista ou um comentário racista sobre o cabelo grande e crespo de um apoiador. Pode ser uma frase capaz de reacender a discussão em torno do tratamento precoce da Covid-19 com cloroquina. Ou um “filho da puta” dirigido ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, isso cai como uma luva. Uma motociata, uma aglomeração ou uma internação estranha por causa de uma igualmente doença mal explicada. Tudo serve para encobrir o que realmente deveria ser motivo de sobra para fazer o presidente ser investigado, julgado e expelido do cargo, tão inadequado ao nível rasteiro do seu ocupante.
Defender e pôr em pauta o tema absurdo do tal “voto impresso e auditável” e sua metamorfose em assunto importante e ponto de atração da classe política e da mídia, talvez seja a obra-prima desse suposto profissional produtor de lero-lero. Incluída no combo do voto impresso, a ideia de um ridículo desfile militar, no dia da votação da patetice pelos deputados federais. Foi o grande tema o desfile de veículos obsoletos e fumacentos, ato desmoralizado na internet e na imprensa internacional como coisa de uma “república de bananas”.
O voto impresso, enterrado pelo plenário da Câmara dos Deputados, deve agora voltar ao lugar que merece que é o esquecimento público. Foi mais uma cortina de fumaça disparada pelo gabinete da pulha, supostamente liderado pelo possivelmente bem pago “servidor”. Está na hora de voltar aos crimes do presidente da República, aos escândalos de corrupção denunciados e sob investigação. Vamos dar atenção ao comércio sujo e imoral de vacina superfaturada, praticado pelos militares que hoje entopem o Ministério da Saúde, um esquema desbaratado (e por isso abortado) na CPI da Pandemia, ou do Genocídio. Façamos em nome das mais de 560 mil vidas ceifadas, vítimas do descaso com que a tragédia da Covid-19 foi tratada por um governo irresponsável e criminoso.
Foco, agora, nas rachadinhas que enriqueceram tanta gente do mesmo sobrenome imperial. Vamos acompanhar com atenção o processo que corre no Tribunal Internacional contra o presidente do Brasil, por genocídio de indígenas e ecocídio. E vamos pôr na cadeia quem faturou os tubos com madeira retirada ilegalmente e com grilagem de terras da Amazônia. Saiu do governo e pronto? Acabou? Não responde mais por nada? Vamos exigir resposta à volta do Brasil ao Mapa da Fome. E vamos reagir à explosão do número de armas vendidas no País. Por fim, vamos cobrar os mais de 130 pedidos de impeachment – motivos não faltam, faz-se notar – encaminhados por partidos e entidades e engavetados pelo presidente da Câmara dos Deputados.
Vamos voltar ao rosário de crimes praticados por Bolsonaro, que precisa pagar por cada um deles.
GILVANDRO FILHO ” BLOG BRASIL 247 ” ( BRASIL)